Para o bem e para o mal: os fatos que marcaram o vôlei em 2019
Taubaté campeão da Superliga masculina pela primeira vez, Lube Civitanova no topo do mundo, França decepcionando de novo, Itambé Minas dominando o cenário nacional, Earvin Ngapeth preso, Sérvia triunfando na Europa…
Qual foi "o assunto" do vôlei em 2019? Sem dúvida, assim como em outros anos, foram vários os acontecimentos que movimentaram as redes sociais e mobilizaram os fãs da modalidade. O Saída de Rede fez uma seleção dos fatos mais relevantes.
Confira o sobe e desce do vôlei neste ano em ordem alfabética:
SOBE
Civitanova
Considerado por muitos a melhor equipe de vôlei masculino da atualidade, o italiano Lube Civitanova soube angariar tamanho prestígio ao longo do ano. Afinal, não foi pouco o que o time comandado pelo experiente Ferdinando De Giorgi realizou em 2019. Com jogadores do naipe dos brasileiros Bruno e Leal, além de Juantorena e Simon em sua "linha de frente", o Civitanova ganhou o Scudetto pela quinta vez em sua história e, uma semana depois, conquistou o segundo troféu da Liga dos Campeões da Europa, o mais importante torneio interclubes do continente.
Somando 11 vitórias em 11 jogos na competição, os italianos venceram o Zenit Kazan na final, equipe que se tornou o maior papa-títulos recente da Europa, interrompendo uma hegemonia de quatro anos da equipe russa. Foi uma façanha e tanta, uma vez que o último clube daquele país que conseguiu vencer a Champions League foi o Trentino nas temporadas 2008/2009, 2009/2010 e 2010/2011. Como se não bastasse, o Civitanova fechou o ano com chave de ouro ao colocar em sua galeria o único troféu que ainda faltava: o de campeão mundial.
Itambé Minas
A temporada 2018/2019 foi, seguramente, uma das mais vitoriosas da história do brasileiro Itambé Minas. Um dos nossos mais tradicionais clubes, o Minas sempre teve a sua importância valorizada no cenário nacional, mas, nos últimos anos, vinha sendo aquele time que apenas participava da mais relevante competição interclubes do país.
Com a chegada de reforços de peso, como as ponteiras Gabi e Natália, além da manutenção de outras jogadoras fundamentais, como Carol Gattaz e Macris, e do técnico italiano Stefano Lavarini, o grupo ganhou o Campeonato Mineiro, a Copa Brasil, o Sul-Americano e, depois de um jejum de 17 anos, a Superliga feminina.
O único título que restou foi o do Mundial de Clubes 2018, onde ficou com uma valorosa medalha de prata. A equipe perdeu algumas peças para a temporada 2019/2020 e está passando por um processo de reconstrução. No Mundial deste ano, alcançou o 5º lugar.
Já nesta Superliga pré-olímpica, o representante mineiro, hoje liderado por Nicola Negro, manteve a talentosa levantadora Macris e ainda conta com nomes, como a central bicampeã olímpica Thaísa, que vem retornando ao melhor de sua forma. A equipe está na vice-liderança do campeonato, somando 8 vitórias em 8 partidas.
Renan Dal Zotto
Homenageado pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) pelo segundo ano consecutivo como o melhor técnico do país, Renan também teve um 2019 especial. Ele levou a seleção masculina de vôlei à conquista do 32º título do Campeonato Sul-Americano, classificou o Brasil para a Olimpíada de Tóquio no Pré-Olímpico – a competição mais importante da temporada, vencida de forma dramática em Varna, na Bulgária –, e, de quebra, ainda faturou a Copa do Mundo de maneira invicta.
Renan também brilhou na temporada de clubes 2018/2019. O treinador assumiu o EMS Taubaté Funvic, uma das mais prestigiadas equipes da Superliga masculina, em fevereiro. Repleto de estrelas e selecionáveis, o time patinava na competição e enfrentava uma crise interna motivada por discordâncias entre o plantel e o técnico argentino Daniel Castellani que, demitido, foi interinamente substituído por Ricardo Navajas, supervisor técnico do clube.
No comando, Renan não apenas mudou a forma da equipe atuar, construindo uma base titular e um padrão de jogo muito mais estável, como ainda levou o representante do Vale do Paraíba a ganhar um inédito título nacional.
Sérvia
A Sérvia dominou completamente a Europa neste ano de 2019. Campeã mundial em 2018 e medalhista de prata na Rio 2016, a seleção feminina já vem fazendo um ciclo olímpico de encher os olhos. Liderada por Zoran Terzic, se sagrou campeã europeia pela terceira vez ao vencer a perigosa Turquia, do técnico italiano Giovane Guidetti, na casa do rival.
Para tanto, contou com o brilho da oposta Tijana Boskovic, uma das melhores jogadoras do mundo, e de sua "coadjuvante de luxo", a forte ponteira Brankica Mihajlovic, além da talentosa levantadora Maja Ognjenovic. Trata-se de mais uma demonstração de que a equipe é uma das fortes candidatas ao ouro na Olimpíada do ano que vem.
A seleção masculina, usualmente instável, não decepcionou desta vez. Cerca de duas semanas após a conquista feminina, os homens também levaram o tri na competição, derrotando a ascendente Eslovênia na final em Paris (França). O grupo teve o auxílio de um novo comandante, o técnico Slobodan Kovac, que substituiu Nikola Grbic logo após o torneio Pré-Olímpico.
O oposto Aleksandar Atanasijevic, que costuma "pipocar" nos grandes torneios com a Sérvia, foi o grande destaque ao lado do habilidoso ponteiro Uros Kovacevic. O título, sem sombra de dúvida, dá mais confiança e credencia o representante dos Bálcãs entre os favoritos à conquista da vaga olímpica na concorrida repescagem continental de janeiro.
Taubaté
A temporada 2018/2019 da Superliga masculina ficou marcada pelo aparecimento de um novo campeão. Mas, o começo dos trabalhos em Taubaté foi bastante alvoroçado. Com orçamento alto, a equipe formada por jogadores da categoria de Lucarelli, Conte, Rapha e Lucão, entre outros, não engrenava e os títulos não apareciam.
O Campeonato Paulista parecia muito pouco para um elenco tão poderoso. Por isso, a quarta colocação na experimental Libertadores do vôlei, disputada em casa, acabou sendo o estopim para a demissão do argentino Castellani.
A vinda de Renan Dal Zotto, entretanto, mudou tudo. Para ganhar a Superliga pela primeira vez, o grupo do Vale do Paraíba interrompeu uma sequência de seis títulos do multicampeão Sada Cruzeiro, batendo o time celeste na semifinal, e ainda venceu o disciplinado Sesi na decisão inédita.
O título acabou representando ainda uma espécie de redenção para o campeão olímpico Lucarelli, que depois de permanecer cerca de oito meses parado se recuperando de uma lesão no tendão da Aquiles, voltou a jogar e foi uma peça indispensável na exitosa temporada taubateana. Tanto que saiu como MVP do torneio.
DESCE
Earvin Ngapeth
Um dos melhores jogadores do mundo na atualidade, o ponteiro Earvin Ngapeth não cansa de se envolver em confusões e polêmicas fora das quatro linhas. Após a final do Mundial de Clubes masculino, disputado em Betim (MG), o atleta, uma das estrelas da seleção francesa e do time russo Zenit Kazan, foi a uma boate de Belo Horizonte acompanhado de outros colegas e, após dar um tapa nas nádegas de uma frequentadora do local, acabou preso em flagrante pelo crime de importunação sexual.
Detido durante quase dois dias no Complexo Penitenciário de Segurança Máxima Nelson Hungria, em Contagem, Ngapeth foi solto após pagamento de fiança no valor de R$50 mil e responderá ao processo em liberdade. Cabe lembrar que não é a primeira vez que o nome do ponteiro é destaque nas páginas policiais.
Entre outros eventos, ele foi preso em 2015 ao agredir um funcionário de uma estação de trem de Marselha, na França, e perdeu a carteira de habilitação em 2017 por dirigir alcoolizado e provocar um acidente em Modena, na Itália.
Seleção francesa
Enquanto o seu principal astro não para de causar problemas fora das quadras, a seleção francesa de vôlei, uma das mais técnicas do mundo, segue colecionando fracassos. Assim como na Rio 2016, no Europeu de 2017 e no Campeonato Mundial de 2018, os "bleus" voltaram a decepcionar.
A primeira queda foi no torneio Pré-Olímpico, quando a equipe foi facilmente batida pela campeã mundial Polônia e perdeu a chance de se garantir antecipadamente na Olimpíada de Tóquio.
O segundo tombo no ano foi ainda mais doloroso. Disputando a fase final do Campeonato Europeu em casa, algo que a Federação local via como uma oportunidade para promover o vôlei no país, a seleção foi eliminada na semifinal pela equipe sérvia, que se sagraria campeã posteriormente, calando os 12 mil torcedores que lotaram a Arena Paris, na capital francesa.
Em baixa no cenário internacional, o grupo, que tem atletas para lá de respeitáveis, como o central Le Roux e o líbero Jenia Grebennikov, precisará buscar forças para se reconstruir e encarar o duríssimo classificatório continental para os Jogos de Tóquio.
Vôlei russo
Há tempos sob suspeita – e perdendo credibilidade em função disso –, o esporte russo sofreu um baque neste final de ano. O país foi banido pela Agência Mundial Antidoping (WADA) das competições internacionais pelos próximos quatro anos, incluindo a Olimpíada do ano que vem. A decisão, obviamente, afetou diretamente o tradicional e vitorioso vôlei russo, detentor de inúmeros títulos, incluindo quatro medalhas de ouro olímpicas com os homens.
A propósito, o atual time composto por jogadores do naipe de Maxim Mikhaylov, Egor Kliuka e Dmitry Volkov, era considerado um dos candidatos ao pódio em Tóquio. Não é de hoje, entretanto, que atletas da seleção masculina vêm sendo citados em relatórios da WADA sob a suspeita de terem feito uso de substâncias proibidas.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) manifestou pleno apoio à Agência, mas o caso ainda será julgado em última instância pelo Tribunal Arbitral do Esporte (TAS, na sigla em francês). Já a Federação Internacional de Vôlei (FIVB) se pronunciará apenas ao final do processo.
Zenit Kazan
Um dos clubes mais vencedores do voleibol mundial, o russo Zenit Kazan não viveu uma boa jornada neste 2019. Os problemas, entretanto, não começaram este ano. A queda precoce no Mundial de Clubes do ano passado foi um indicativo de que a equipe estava passando por turbulências.
Vale lembrar que o clube perdeu o astro polonês Wilfredo León e o norte-americano Matt Anderson, jogadores que formavam a espinha dorsal do time e que ajudaram a transformá-lo em uma potência mundial.
A perda do título nacional (após cinco conquistas) para o surpreendente Kuzbass Kemerovo e da Champions League para o Civitanova foi a confirmação de que o grupo precisaria se reconstruir. Com Ngapeth e Sokolov como titulares, além de Mikhaylov improvisado na ponta, o conjunto, no entanto, ainda parece buscar a identidade perdida.
O fiasco da participação no Mundial de Clubes, em Betim, é uma demonstração disso. A equipe teve atuações tecnicamente muito ruins, desinteressadas e preguiçosas. Mas, ainda assim, garantiu a medalha de bronze, sendo beneficiado pelo formato do campeonato formulado pela Federação Internacional, que teve apenas quatro competidores. O brasileiro Sada Cruzeiro ficou com o vice e o catari Al-Rayyan em quarto.
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