Por que a seleção brasileira tem acumulado pedidos de dispensa?
O campeão da Superliga feminina ainda nem foi definido, mas o técnico José Roberto Guimarães já sabe: não poderá contar com pelo menos sete jogadoras com as quais gostaria de trabalhar na temporada 2019 da seleção brasileira: Adenízia, Camila Brait, Dani Lins, Drussyla, Gabi Cândido e Tássia pediram dispensa do time nacional, além de Thaísa, que anunciou um "adeus" à equipe. E a lista pode aumentar nos próximos dias, já que ainda faltam serem chamadas as atletas dos finalistas Dentil/Praia Clube e Itambé Minas.
Diante de tantas desistências, a pergunta que fica é: por que o Brasil tem sofrido com tantos pedidos de dispensas? O Saída de Rede conversou com pessoas ligadas à seleção feminina para responder a esta pergunta.
A primeira coisa a se ressaltar é que não há um boicote. Dani Lins e Thaísa, por exemplo, sofrem com problemas físicos sérios: enquanto a levantadora provavelmente passará por uma cirurgia nas costas nas próximas semanas, a central teve uma séria lesão no joelho esquerdo há dois anos e quer diminuir o ritmo jogando apenas por clubes para aumentar a longevidade da carreira – o físico também foi o responsável pelo afastamento de Drussyla e é uma preocupação para a oposta Tandara, que, com problemas no pé, terá o trabalho focado no Pré-Olímpico de agosto.
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O caso de Tássia é familiar: depois da morte da mãe, o avô atualmente se encontra com saúde extremamente debilitada. Já Gabi Cândido lida com a síndrome do pânico. Adenízia precisa de tempo para ficar com a família (a mãe passará por uma cirurgia) e se preparar para o casamento. Camila Brait, que em 2016 decidiu não defender mais a seleção após ser cortada da Olimpíada, agora diz que quer "entender como seriam as possíveis mudanças na minha vida atual" antes de aceitar uma volta, uma vez que tem uma filha pequena.
Diante destas alegações, o "SdR" apurou que a comissão técnica não se preocupa com a possibilidade de uma crise interna a pouco mais de um ano da Olimpíada de Tóquio. Procurado pela reportagem, o técnico José Roberto Guimarães limitou-se a dizer que vai se pronunciar apenas na terça-feira (30), quando receberá a imprensa nos treinos que já vem realizando em Saquarema (RJ).
CANSAÇO E DESGASTE
Mas é claro que nem tudo são flores. O "SdR" também constatou que há um sentimento generalizado entre as jogadoras de elite de que não vale mais a pena sacrificar tanto o físico como a vida com a família em prol da seleção brasileira. Além da maior importância dada por cada uma à vida fora das quadras, é fato que o calendário do vôlei é pesado, reduzindo os dias de férias das atletas – o Brasil é a única das grandes equipes internacionais a jogar a maioria das competições com força máxima.
Trata-se de uma decisão que, diga-se a verdade, rendeu muitos títulos à seleção, tendo os 12 títulos do extinto Grand Prix como principal exemplo, além do entrosamento que gerou as medalhas de ouro nas Olimpíadas de Pequim 2008 e Londres 2012. Mas que também cobra um preço.
Há ainda um outro fator nesta série de dispensas: um certo desgaste com o trabalho de Zé Roberto. "O povo já está meio de saco cheio, digamos assim", afirmou uma pessoa ligada à seleção brasileira, cujo nome será preservado. A sondagem de veteranas, como Sheilla e Carol Gattaz, para voltar a defender o Brasil, incomoda algumas jogadoras mais novas, receosas com a possibilidade de perderem os dias de descanso sem ganhar, em troca, oportunidades suficientes para mostrar seu trabalho e terem chances reais de jogarem a Olimpíada de Tóquio.
Trabalhar a ansiedade das jovens ao mesmo tempo que gerencia as lesões e busca bons resultados visando Tóquio 2020 mesmo sem ter todas as peças que gostaria à disposição é o grande desafio de Zé Roberto este ano. A pressão é grande, especialmente num país imediatista como o Brasil. Resta saber como a seleção lidará com isso.
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*Errata: ao contrário do anteriormente informado, Tandara foi inscrita na Liga das Nações. A informação já foi corrigida.
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