Título do Barueri é a melhor notícia recente do vôlei feminino brasileiro
Em tempos conturbados não só para a seleção brasileira feminina adulta como também para as categorias de base do país de uma maneira geral, o histórico título do São Paulo/Barueri no Campeonato Paulista é uma daquelas notícias para encher o fã de vôlei de esperanças. Com um elenco cuja média de idade é de 20,7 anos, a equipe da Grande São Paulo mostrou, nas últimas duas semanas, que há material humano de qualidade para os ciclos olímpicos que virão após Tóquio-2020.
Bastar ter alguém que saiba trabalhá-lo. E José Roberto Guimarães resolveu assumir esta missão, ao lado de uma comissão técnica experiente, com nomes como o auxiliar Wagner Coppini e o médico Julio Nardelli. Prestes a se despedir da seleção brasileira feminina, equipe que dirige desde 2003 (ano em que todas suas comandadas em Barueri eram crianças), o treinador soube fazer "do limão uma limonada", transformando a queda no orçamento do time, que impediu a manutenção e a contratação de grandes estrelas, em uma oportunidade para jovens talentos ganharem experiência.
O que está sendo feito em Barueri guarda semelhanças com o que ocorreu com o Club Itália, time italiano criado pelo prestigiado técnico Julio Velasco em 1998 justamente com o objetivo de "dar rodagem" às jogadoras mais novas, que, em geral, tendem a ficar no banco de reservas em seus primeiros anos como profissionais. No projeto formaram-se nomes como Paola Egonu, Ofelia Malinov, Cristina Chirichella, Anna Danesi e Elena Pietrini, todas vice-campeãs mundiais com a Itália no ano passado.
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É verdade que a estrutura dos projetos são distintas: aqui não há, por exemplo, o apoio institucional da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) como o dado pela Fipav (Federação Italiana de Vôlei); tampouco há alguma garantia que Barueri não passará por apuros financeiros que comprometam a manutenção do projeto nos próximos anos. Ainda assim, é bom ver nomes como a própria Lorenne, a ponteira Tai Santos, a meio Mayany e a líbero Nyeme, entre outras, jogando toda semana contra times teoricamente mais fortes e elencos estrelados.
"Este título é muito importante para mim. Fiquei dois anos parada em Osasco, sem chance de jogar, e agora estou tendo oportunidade. Agradeço muito às meninas, ao Zé Roberto, a toda comissão técnica que me dá todo o apoio para fazer o meu trabalho. Esse espírito que mostramos hoje, onde conseguimos vencer nos divertindo em quadra, sem pressão, é a marca do nosso time. Nossa equipe é muito nova e conseguimos jogar sem pressão. Não desistimos nunca, fomos em todas as bolas sem cansar", afirmou a oposta Lorenne, 23 anos e que já havia sido uma grata surpresa na temporada de seleções.
Zé Roberto, por sua vez, não escondeu a euforia com a conquista. "Se a gente chegasse na semi, já seria um resultado muito importante. Tínhamos perdido em casa para o Bauru por 3 a 0, mas com placares muito próximos. Para avançar à final, teríamos que ganhar duas vezes, no jogo e no Golden Set. E mesmo enfrentando o time que fez a melhor campanha no Paulista, vencemos por 3 a 0 e também o set desempate, na casa delas. Um time com jogadoras jovens, com 50% do elenco que ainda atua na nossa base, um feito destes diante do Sesi, candidato a ser campeão da Superliga, é histórico. Aí, conseguimos bater o Osasco em casa por 3 a 0 e aqui saímos perdendo por 2 a 0 e conseguimos a virada, onde acontece outro milagre, vencemos o quinto set e ganhamos o Campeonato Paulista na casa delas, acredite se quiser", comemorou.
Importante também não criar grandes expectativas sobre o São Paulo: como todo time jovem, é esperado que ocorram altos e baixos ao longo da Superliga feminina, que começa já na terça-feira (12). A meta inicial de ficar entre os oito melhores colocados na fase classificatória para avançar aos playoffs deve ser mantida. O que vier daí pra frente se somará ao lucro que a equipe já conquistou neste início de temporada. Mais importante que resultados é que essas jogadoras sigam em evolução constante, para que a conquista do Paulista não se transforme na única grande conquista da carreira de cada uma delas.
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