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Pré-Olímpicos e não o Pan é que deveriam preocupar a torcida brasileira

Carolina Canossa

16/08/2019 06h00


A ausência do Brasil nas finais dos Jogos Pan-americanos reverberaram nas redes sociais. Decepcionada com o resultado (bronze no masculino e quarto lugar no feminino), muita gente enxergou na competição um sinal claro da decadência do país na modalidade. Afinal, ainda que as principais estrelas nacionais da modalidade não tenham viajado a Lima, as seleções sofreram derrotas para rivais regionais que eram fregueses consolidados em um passado recente.

É preciso, porém, analisar estas derrotas com calma. Apesar de as atuações terem ficado abaixo do esperado pelas próprias comissões técnicas, não podemos ignorar o fato de que países como Cuba, Argentina e Colômbia participaram da disputa com seus principais elencos, o que significa maior entrosamento e ritmo de jogo (muitas destas equipes inclusive participaram/tinham participado do Pré-Olímpico de agosto com os mesmos atletas). Já o Brasil limitou-se a poucas semanas de treinos fechados em Saquarema. No caso do feminino, três titulares (Macris, Mara e Lorenne) só se uniram ao restante do grupo às vésperas do Pan, uma vez que estavam focadas na Liga das Nações.

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A menos de um ano da Olimpíada de Tóquio, a preocupação da torcida brasileira não deveria estar no Pan, mas sim no sufoco que vivemos nos dois naipes do Pré-Olímpico. Para quem já esqueceu ou não acompanhou, as mulheres só conseguiram passar por Azerbaijão e República Dominicana no tie-break, enquanto os homens estiveram a um ponto de tomar um 3 a 0 diante da Bulgária antes de se acertarem e, sob o comando de Leal, conseguirem a virada. Enquanto isso, a maioria dos principais rivais assegurou suas respectivas vagas com tranquilidade.

Os próximos meses serão de muito trabalho tanto para José Roberto Guimarães quanto para Renan Dal Zotto. Sofrendo em um ciclo olímpico marcado por lesões e pedidos de dispensas, o técnico do feminino, por exemplo, sequer tem um time-base: exceção feita ao trio Gabi, Natália e Tandara, ninguém parece garantido nos Jogos até o momento – e mesmo as três praticamente não tiveram oportunidade de atuar juntas até agora por conta de uma série de problemas físicos. Tecnicamente falando, o passe tem sido um problema muito sério, uma péssima notícia para uma escola de bolas mais rápidas e jogadoras "baixas" para os padrões internacionais.

No masculino, o elenco tem sido mais estável, mas a recepção também é um problema, principalmente no saque flutuante. Mesmo contando com um quarteto de alto nível na ponta (Leal, Douglas Souza, Lucarelli e Maurício Borges) nenhuma dupla se mostrou confiável até o momento. Mas o problema mesmo está no sistema defensivo, com centrais bloqueando/amortecendo poucas bolas e a defesa deixando bolas defensáveis caírem. Para piorar, o oposto Wallace vem em clara queda de rendimento desde que foi uma das grandes estrelas do ouro conquistado na Rio 2016. Já o levantador Bruno não tem feito uma boa temporada de seleções.

Pode-se questionar a opção de ambas comissões técnicas em deixarem de lado o Pan, um torneio com muita mídia e que, justamente por isso, é uma ótima oportunidade de atrair interesse entre crianças e adolescentes, possíveis futuros jogadores. A seleção masculina da Argentina, inclusive, mostrou que era possível atuar bem tanto em Lima quanto no Pré-Olímpico. Mas, em termos técnicos, a competição em Lima foi irrelevante e nem mesmo pôde ser considerada um grande teste para jovens talentos. Diante disto, devemos focar no que interessa, a Olimpíada, onde os brasileiros claramente ainda se encontram abaixo das grandes seleções do mundo na atualidade.

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Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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