Poderosos, Zenit dá vexame e Sada vira coadjuvante no Mundial
Duas quedas monumentais e surpreendentes marcaram esta 14ª edição do Campeonato Mundial de Clubes de vôlei masculino, que está sendo realizado na Polônia: o brasileiro Sada Cruzeiro e o russo Zenit Kazan, gigantes da modalidade, caíram ainda na primeira fase, somando duas derrotas cada um. Sim, as mesmas equipes que há dois anos fizeram a final da competição, com o clube de Belo Horizonte se sagrando tricampeão. Nesta edição, no entanto, desclassificados precocemente, os dois times entraram em quadra nesta quinta-feira (29) apenas para cumprir tabela e tentar se despedir do torneio de maneira honrosa. Jogando com titulares e reservas, o Cruzeiro conseguiu a vitória por 3 sets a 0 (25-16, 27-25 e 25-16) sobre a inexpressiva equipe iraniana Khatam Ardakan. Já o Zenit, usando somente seus reservas, bateu o Skra Belchatow por 3 sets a 1, com parciais de 16-25, 25-17, 27-29 e 21-25.
Tricampeão mundial e, sem dúvida, a mais vencedora equipe do voleibol brasileiro, o Sada Cruzeiro sofreu uma queda histórica, uma vez que esta foi a primeira vez, nas sete edições do Campeonato em que esteve presente, que o time não conseguiu passar da primeira fase. Mais do que isso, caiu diante de adversários que não figuram entre as maiores potências do voleibol internacional atual. Afinal, o Asseco Resovia é um time mediano que obteve apenas uma vitória em nove rodadas do Campeonato Polonês. Já o Trentino, apesar de ser uma equipe bem mais tradicional e qualificada, repleta de jogadores importantes, está em terceiro lugar na tabela do Italiano e não é considerado favorito para levar o scudetto. Este fato é bastante relevante para nos fazer refletir sobre qual posição o Cruzeiro e, por consequência, o vôlei brasileiro de clubes, ocupam hoje no cenário internacional.
Não há como negar que a Raposa já chegou à competição cheia de incertezas e sob desconfiança. Como já mencionado aqui no blog, a equipe do técnico Marcelo Mendez passa por um processo de reconstrução depois da saída de jogadores que compunham sua espinha dorsal: o ponteiro Yoandy Leal, o meio-de-rede Simon e o levantador Nico Uriarte. Sem falar que o time celeste já havia sofrido um duro golpe uma temporada antes com a saída do multicampeão armador William Arjona – um dos grandes responsáveis pela transformação do clube mineiro em uma máquina de produzir títulos – após sete anos.
Os desafios do Sada Cruzeiro no Campeonato Mundial de Clubes
Deste modo, com a chegada do ponta Taylor Sander, do central Le Roux e a promoção do jovem levantador Fernando Cachopa à titularidade, o time de Belo Horizonte busca, neste momento, entrosamento, regularidade e, mais do que isso, identidade. É visível que a equipe necessita de tempo para alcançar o seu melhor nível e descobrir uma nova maneira de jogar. Além disso, Cachopa demonstra insegurança e imaturidade para assumir tamanha responsabilidade para comandar o grupo em quadra. Nas derrotas para o Asseco Resovia e Trentino, respectivamente, ficou claro que um levantador mais experimentado poderia ter feito escolhas melhores e mais adequadas na construção do ataque celeste.
O ponteiro e capitão Filipe, que pouco entrou em quadra no Mundial por ainda se recuperar de uma lesão na panturrilha, lamentou a eliminação e afirmou que o time precisa de tempo para se entrosar. "A nossa equipe teve mudanças nesta temporada e isso requer um pouco de tempo pra ajustar tudo. Mas o time brigou, lutou, fez excelentes jogos contra os clubes europeus. E este é um Mundial disputadíssimo", destacou.
À falta de uma sintonia fina entre os atletas some-se o fato de estarmos no início da temporada de clubes, o que gera uma costumeira oscilação entre as equipes. Aliás, sob este aspecto, vale ressaltar que a recepção e o passe cruzeirenses também tiveram uma performance muito ruim nas duas derrotas, o que precisa ser corrigido para o decorrer da temporada. Desta maneira, todos estes fatores, combinados, colaboraram para a prematura eliminação no Mundial. E são justamente estes elementos que também colocam, neste momento, em xeque a hegemonia cruzeirense no Brasil. Afinal, outras equipes nacionais se reforçaram e buscam, há tempos, quebrar a supremacia dos mineiros na Superliga. Resta saber se irão conseguir.
Na outra chave, em sua sétima participação no Mundial de Clubes, o fortíssimo Zenit Kazan também sofreu uma perda enorme para esta temporada: o ponteiro cubano naturalizado polonês Wildredo Leon, um dos melhores atacantes do mundo, deixou a equipe e se transferiu para a Itália, onde hoje brilha no Perugia. Para suprir tamanha ausência, o Zenit não economizou e contratou outra estrela, o francês Earvin Ngapeth, ex-Modena, que já vem se destacando no campeonato local.
Entretanto, o gigante do vôlei russo, europeu (o time já conquistou seis títulos da Liga dos Campeões da Europa, sendo os quatro últimos consecutivos) e atual campeão mundial, também caiu na primeira fase do torneio ao ser derrotado na estreia pelo Fakel Urengoy, dos jovens prodígios russos Egor Kliuka e Dmitry Volkov e, depois, de forma impressionante pelo Lube Civitanova, de Bruninho, Leal e Simon. Nesta partida, especificamente, o Zenit vencia o tie-break por 14 a 9, mas, em uma virada heroica, a equipe italiana conseguiu salvar todos os match points (cinco em sequência), empatar o placar em 17-17 e, por fim, ganhou o set decisivo por 19-17.
O time russo, então, inconformado com a derrota, protagonizou um vexame no final da partida ao atribuir ao brasileiro Rogério Espicalsky a culpa pela desclassificação, já que o árbitro assinalou, na parte final do tie-break, uma invasão do levantador Alexander Butko, dando a vantagem aos italianos. Revoltados, o técnico Vladimir Alekno, o ponta Ngapeth e o líbero Alexei Verbov criaram um grande tumulto em quadra. O atacante francês, por exemplo, xingou o segundo árbitro, o espanhol Mario Sanchez.
O armador russo Alexander Butko, por outro lado, se mostrou realista. "A bola do jogo estava em nossas mãos e não conseguimos vencer. Isso é uma vergonha", disse, resignado. Com este resultado, o Zenit passou a depender de uma derrota do Fakel para avançar, o que não aconteceu. Desta forma, o time de Vladimir Alekno perdeu a chance de disputar sua sexta medalha no Mundial de Clubes (a equipe acumula um ouro, duas pratas e dois bronzes).
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