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Pré-Olímpicos masculinos: quem se saiu bem e quem está devendo?

Janaína Faustino

15/08/2019 06h00

Com potencial para conquistar o tetra em Tóquio, a seleção brasileira, no entanto, precisa evoluir em todos os fundamentos, especialmente na recepção e no bloqueio (Fotos: Divulgação/FIVB)

Assim como no naipe feminino, as seis seleções que se garantiram em Tóquio 2020 foram definidas nos Pré-Olímpicos masculinos realizados recentemente em algumas cidades do mundo. Brasil, Estados Unidos, Itália, Polônia, Rússia e Argentina confirmaram as vagas, se juntando ao Japão (país-sede). Quem não conseguiu a classificação terá uma nova oportunidade nos qualificatórios continentais que ocorrem em janeiro.

O Saída de Rede fez uma análise das equipes que avançaram, levando em consideração, pela ordem dos grupos, quem teve mais dificuldades e quem passou sem maiores contratempos.

BRASIL

Entre todas as equipes confirmadas nos Jogos de forma antecipada, a seleção brasileira certamente foi aquela que mais padeceu. Depois de fazer um jogo morno contra Porto Rico e vencer o Egito com tranquilidade, o time de Renan Dal Zotto viu a classificação praticamente escorrer pelas mãos no duelo contra a Bulgária. Jogando na casa do rival, o Brasil teve uma atuação abaixo da crítica nos dois primeiros sets.

A distribuição ruim, a linha de passe vulnerável, o saque sem estratégia, a virada de bola hesitante e o bloqueio inexistente sinalizavam que os atuais campeões olímpicos amargariam um 3 a 0 e teriam que buscar a vaga no Pré-Olímpico sul-americano. Contudo, fazendo jus à tradição da camisa amarela e às célebres viradas ao longo de sua história, a equipe reagiu na terceira parcial e venceu os europeus no tie-break em uma guinada espetacular. A performance do ponteiro Leal foi imprescindível para o triunfo.

O resultado e o desempenho no classificatório, no entanto, apontaram que a seleção brasileira ainda precisa crescer em diversos aspectos. Talvez a fragilidade da linha de passe, problema que se arrasta desde a Liga das Nações, permaneça sendo o grande obstáculo a ser superado. A um ano de Tóquio, a comissão técnica terá que fazer o time evoluir se quiser ganhar o tetra olímpico.

ESTADOS UNIDOS

Competitivos no cenário mundial, os americanos ainda não conseguiram ganhar um título de peso com a geração atual

Na chave B, o time norte-americano não teve grandes problemas para confirmar a vaga na cidade de Roterdã, na Holanda. Apesar de terem largado em desvantagem no placar contra a Bélgica e os donos da casa, os vice-campeões da última Liga das Nações viraram os jogos, batendo os adversários por 3 a 1. Contra a Coreia do Sul foi ainda mais fácil, com a vitória alcançada em sets diretos.

Deste modo, os tricampeões olímpicos participarão pela 12ª vez dos Jogos. Os destaques deste quadrangular foram o oposto/ponteiro Matthew Anderson e o ponta Aaron Russell, já que Taylor Sander, ex-Sada Cruzeiro, não jogou estas partidas. Pesou contra os americanos, por outro lado, o excesso de erros – somente no confronto de abertura contra os belgas, eles cederam 31 pontos em falhas contra 21 dos rivais.

É inegável que os EUA têm um grupo talentoso que ainda inclui o levantador Micah Christenson, o meio de rede Max Holt e o líbero Erik Shoji, além de novos valores, como o oposto Benjamin Patch e o ponteiro Thomas Jaeschke. Falta, contudo, um título relevante que premie esta geração. Bronze na Rio-2016 e no Mundial de 2018, a última vez que a equipe ganhou um título de nível mundial foi na hoje esvaziada Copa do Mundo, em 2015. Vamos ver se eles conseguirão quebrar este jejum em Tóquio.

ITÁLIA

Italianos ainda perseguem o ouro olímpico

Uma das mais tradicionais escolas do vôlei, a Itália é outra seleção que vem batendo na trave. Tricampeã mundial nos anos 1990, a Azzurra acumula seis medalhas olímpicas (três pratas e três bronzes) e nunca ganhou um ouro. Chegou novamente perto na Rio-2016, quando foi superada em sets diretos pela seleção brasileira na final.

A equipe terá mais uma chance em Tóquio, pois mostrou força ao se classificar diante de seus torcedores, em Bari, vencendo camaroneses, australianos e sérvios na chave C. O confronto mais complicado dos italianos foi contra a Austrália, seleção para a qual perderam as únicas parciais da competição. De volta ao time especialmente para a disputa do Pré-Olímpico, Ivan Zaytsev e Osmany Juantorena provaram que, juntos, são capazes de mudar a equipe de patamar. Ambos fizeram a diferença mais uma vez, sendo os maiores pontuadores dos três jogos.

Cabe destacar que se decepcionou quem esperava um duelo equilibrado entre a Sérvia, campeã olímpica como Iugoslávia em Sydney 2000, e a Azzurra. Cometendo muitos erros e mostrando enorme deficiência tanto no ataque quanto no bloqueio, os representantes dos Bálcãs não foram páreo para os adversários. O oposto Aleksandar Atanasijevic, maior estrela do time, mais uma vez ficou devendo – neste jogo contra os italianos, ele anotou apenas 4 pontos. Com isso, os sérvios terão que correr atrás da vaga na difícil repescagem europeia que acontecerá em janeiro.

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POLÔNIA

Polônia é uma das favoritas ao ouro em Tóquio

Forte candidata ao ouro olímpico, a tricampeã mundial Polônia carimbou o passaporte rumo ao Japão em casa, na cidade de Gdansk, e perdeu apenas uma parcial na competição para a equipe eslovena. Antes deste confronto, superou a Tunísia e a badalada França em sets diretos. Para tanto, teve a preciosa colaboração de um dos melhores jogadores da atualidade, o polonês naturalizado Wilfredo León que, aos 14 anos, já assombrava o mundo jogando como ponteiro titular de Cuba, ganhando, inclusive, a medalha de prata no Mundial de 2010.

O fato é que León chega para fazer a diferença em um grupo azeitado que já vem crescendo e revelando talentos tanto nas categorias de base quanto na seleção adulta há algum tempo. Entre eles, os ponteiros Artur Szalpuk e Aleksander Sliwka. Sob o comando do excêntrico belga Vital Heynen, a Polônia não apenas ganhou o Mundial do ano passado (bi consecutivo), com uma performance espetacular do oposto Bartosz Kurek – MVP do campeonato que não jogou esta temporada por lesão, mas que certamente estará em Tóquio – como também tirou o bronze da seleção brasileira na Liga das Nações, jogando com uma equipe quase juvenil.

Se nas últimas quatro edições dos Jogos Olímpicos eles decepcionaram, não passando das quartas de final, pode ser que em Tóquio eles consigam desencantar. Por isso, é bom ficar de olho nos poloneses.

Vale mencionar a frustrante campanha da seleção francesa, outra força que esteve neste grupo. Com jogadores do naipe do ponteiro Earvin Ngapeth e do líbero Jenia Grebbenikov, a equipe não consegue converter tanta qualidade em bons resultados. Tanto que caiu precocemente na Rio-2016, no Mundial e no Europeu do ano passado. Os únicos títulos mundiais dos franceses foram conquistados na extinta Liga Mundial de 2015 e 2017.

RÚSSIA

Equipe russa é uma das maiores vencedoras da história do vôlei

Uma das mais vencedoras seleções da história do vôlei mundial (contando com o período como União Soviética), a tetracampeã olímpica Rússia se classificou em seus domínios, na cidade de São Petersburgo, derrotando México, Cuba e Irã com autoridade. Apesar do equilíbrio nos duelos contra cubanos e iranianos, os donos da casa não deixaram escapar nenhum set.

Atuais bicampeões da Liga das Nações e campeões europeus, os russos têm atualmente um promissor tripé ofensivo formado pelo oposto Victor Poletaev – exímio saltador que vem atuando nesta temporada como titular no lugar do consagrado Maxim Mikhaylov – e os pontas Egor Kliuka e Dmitry Volkov.

Vem chamando a atenção no padrão de jogo russo a velocidade na construção das jogadas, deixando um pouco de lado as tradicionais bolas altas nas pontas, além da consistência na linha de passe e no sistema defensivo, características que ficaram marcadas especialmente na Liga das Nações.

Além disso, tentando mais um título olímpico, os representantes do Leste Europeu certamente contarão com o retorno do gigante Dmitriy Muserskiy, central convocado pelo finlandês Tuomas Sammelvuo já para a disputa deste Pré-Olímpico após um período afastado por lesão.

ARGENTINA

Seleção argentina vem crescendo no cenário internacional

Para alguns, a grande surpresa nesta lista de seleções classificadas antecipadamente, a Argentina conquistou a vaga vencendo Canadá, Finlândia e China. Apesar dos dois primeiros não serem adversários inofensivos, o duelo contra os asiáticos acabou sendo o mais duro para os sul-americanos, que precisaram suar a camisa para bater de virada no tie-break.

Hoje comandada por Marcelo Mendez, vitorioso técnico do clube brasileiro Sada Cruzeiro, a Argentina vem incomodando há algum tempo grandes forças do cenário mundial, como o Brasil. Não custa lembrar que no último encontro entre as seleções, na Liga das Nações, o Brasil sofreu para superar os tradicionais rivais regionais somente na quinta parcial.

Liderada em quadra pelo talentoso armador Luciano De Cecco e pelo ponteiro/oposto Facundo Conte – grande destaque ofensivo neste quadrangular –, campeão da Superliga com o EMS Taubaté Funvic e reforço do Sada Cruzeiro para a temporada 2019/2020, a equipe tem tudo para ser uma grata surpresa nos Jogos do Japão.

PRÉ-OLÍMPICOS CONTINENTAIS

Os classificatórios continentais acontecerão em janeiro de 2020. A competição europeia deverá ser a mais difícil, contando com a participação de Sérvia, França, Bulgária e Eslovênia na briga por uma vaga em Tóquio. Cuba, que provavelmente já terá à disposição algumas estrelas, como o meio de rede Simon e o oposto Sanchez, promete travar uma disputa acirrada contra o Canadá na Norceca.

Entre os sul-americanos, como Brasil e Argentina se classificaram, Venezuela e Chile deverão concentrar a disputa. Na eliminatória asiática, o Irã aparece como o grande favorito, mas terá que duelar contra Austrália e China. Já o Egito e a Tunísia devem brigar pela vaga entre os africanos.

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Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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