Cachopa fala sobre pressão da torcida: “Minha maior crítica é comigo mesmo”
Um ano atrás, Fernando Kreling, mais conhecido como Cachopa, estava prestes a viver o momento mais importante de sua carreira desde que decidiu investir no esporte ao invés de cursar faculdade de administração, para a qual havia passado em primeiro lugar: depois de quatro temporadas como reserva no Sada Cruzeiro, o jovem levantador foi alçado à condição de titular pelo técnico Marcelo Mendez, com a missão de dar continuidade às boas performances do campeão olímpico William Arjona e do argentino Nicolas Uriarte.
Em números, não se pode dizer que Cachopa foi mal sucedido: além do Campeonato Sul-americano, o Sada Cruzeiro faturou a Copa Brasil e o Campeonato Mineiro na temporada 2018/2019. É mais do que times com grande investimento vem conseguindo ao longo dos últimos anos, mas a trajetória de conquistas na Superliga e mesmo em Campeonatos Mundiais ao longo da última década deixaram um sentimento de frustração na torcida, especialmente após a contundente eliminação para a EMS Taubaté Funvic na semifinal do principal torneio de clubes do país. E um dos principais alvos das críticas foi justamente o armador.
"Tive que lidar com várias situações difíceis, pois o time estava se reformulando, com várias peças novas, inclusive eu sendo uma delas. Foi um período onde eu precisei ter a cabeça muito boa e aguentar pressão", comenta Cachopa, em entrevista exclusiva ao Saída de Rede. O levantador, porém, garante que nenhum torcedor ou jornalista é mais "corneta" do que ele próprio. "A maior crítica que eu tenho é comigo mesmo", assegura.
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Nesta autoavaliação, Cachopa admite que a irregularidade foi um problema ao longo dos últimos meses, mas também se dá o benefício de levar todo o contexto em consideração. "Em vários momentos eu poderia ter ido melhor, mas tenho noção de que era o meu primeiro ano e que alguns altos e baixos iriam acontecer. Dei meu máximo para que isso não acontecesse, mas é inevitável", acredita.
Para evitar que as análises externas afetem sua confiança, qualidade fundamental para um levantador, o jogador afirma que a solução é restringir quem merece atenção. "Prefiro ver as críticas de pessoas mais próximas, como técnicos, familiares, para que elas abram meu campo para coisas maiores. Nas mídias sociais, todo mundo pode falar o que quiser quando quiser e sobre quem quiser, então não fico olhando os comentários, sejam os bons ou os ruins", destaca.
CHANCE "INCRÍVEL" NA SELEÇÃO
Entre os que confiaram no trabalho de Fernando Cachopa estava o técnico da seleção brasileira masculina de vôlei, Renan Dal Zotto. Sem poder contar com Bruno Rezende, cuja temporada na Itália se alargou, ou Arjona, que preferiu dar um tempo no time nacional para se dedicar à família, o treinador apostou no levantador do Sada Cruzeiro e em Thiaguinho, do Sesc-RJ, no início da Liga das Nações. A ideia inicial era que os dois se alternassem, mas Cachopa rendeu mais e foi ganhando mais chances, inclusive deixando Bruno no banco em algumas partidas da campanha.
"Na seleção, tem sido incrível. Jogar na Liga das Nações e treinar efetivamente com a equipe não tem preço. Talvez um ano atrás eu não esperasse tanto", admite o jogador.
O principal apoio para a guinada vem da namorada, que também é jogadora de vôlei e atualmente tenta carreira nos Estados Unidos, no Eckerd College. Ex-líbero do Dentil/Praia Clube e com passagens pelas seleções de base, Luana Rezende é uma conselheira constante das atuações de Cachopa.
"Ela sempre acompanha as partidas pela internet e consigo contar nos dedos os jogos que ela perdeu. Inclusive, ela conseguiu vir pessoalmente etapa de Brasília com a seleção e, depois, em Chicago, na fase final", relata o atleta, que aplicou quase "matou" a namorada do coração em Chicago. "Eu não tinha falado que começaria jogando contra o Irã e ela disse que tomou um susto, que ficou um set inteiro com a perna tremendo, nervosa, nem conseguiu ver direito o jogo", sorri.
UM PASSO DE CADA VEZ
A menos de um ano da abertura da Olimpíada de Tóquio, Cachopa prefere não pensar no Japão. Ciente de que o quarto lugar na Liga das Nações deixou a desejar, ele mantém o foco nos próximos torneios, a começar pelo Pré-Olímpico – entre os dias 9 e 11 de agosto, o Brasil vai enfrentar o Egito, Porto Rico e a Bulgária em Varna (Bulgária) em busca da classificação para os Jogos. Caso não vença o quadrangular, o time verde-amarelo terá que disputar um torneio entre os aspirantes sul-americanos no mês de janeiro que dará uma única vaga em Tóquio.
"Temos treinado muito a questão do bloqueio, da recepção e algumas coisas de saque. São coisas assim que a gente tem que dar uma melhorada neste curto período de tempo", explica o jogador. "Ainda tem muita coisa para acontecer até a Olimpíada. Não tenho pensado nisso, só no dia a dia, no que precisamos fazer para ir bem no Pré-Olímpico e nos outros torneios. E, assim que terminar aqui, tenho que ir bem no Sada Cruzeiro, onde temos um time com potencial para ir longe na Superliga. Prefiro pensar em curto prazo", finaliza.
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