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De madeireiro a profissional de vôlei, ponteiro Djalma sonha com a seleção

Janaína Faustino

19/02/2019 06h00

Ponteiro foi destaque no italiano Castellana Grotte antes de se transferir para o Sesc-RJ (Fotos: Divulgação/Sesc-RJ)

Um dos destaques do Sesc-RJ na temporada, o ponteiro Djalma Moreira voltou ao Brasil, após dois anos jogando na Itália, com o objetivo de conquistar o título da Superliga. Para tanto, ele aposta na dedicação e na força do time. Em entrevista ao Saída de Rede, o ponteiro, de 26 anos, falou, entre outros assuntos, sobre o início difícil no vôlei – quando precisou trabalhar como madeireiro –, a queda do Sesc-RJ diante do argentino Bolívar Volley na final da Libertadores, o atual momento da equipe carioca e, ainda, sobre seu maior sonho como jogador profissional.

Nascido e criado em Posse, interior do estado de Goiás, Djalma conta que sempre gostou de vôlei, mas que a cidade não oferecia a estrutura necessária para que ele se desenvolvesse como um atleta profissional. Por isso, precisou se mudar para Brasília, onde deu os primeiros passos, seguindo logo depois para São Paulo.

"Eu jogava na escola e já gostava muito de vôlei. Só que, por ser de uma cidade muito pequena, de interior, não tinha nada muito desenvolvido ou profissional. Então, com 17 anos eu fui para Brasília em busca de um clube que me desse mais oportunidade. Aí comecei a jogar no Apcef/DF e depois participei do campeonato juvenil em Itapeva [São Paulo]", relembra.

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O ponteiro do Sesc explica, no entanto, que viveu um momento delicado naquela época, quando sua namorada engravidou e ele precisou deixar o vôlei um pouco de lado para arrumar um emprego de madeireiro para sustentar a família que estava se formando.

"Quando eu fui para Itapeva para participar do juvenil, com 18 anos, a minha namorada engravidou. Então, nós começamos a enfrentar algumas dificuldades porque eu recebia R$300 reais por mês, o que não dava para sustentar o meu filho. Como meu tio tem uma madeireira em Brasília, nós conversamos e ele conseguiu um trabalho para mim. Só que como nunca tive a intenção de abandonar o vôlei, comecei a trabalhar na madeireira, mas passei a enviar vídeos meus para muitas pessoas, empresários. Foi aí que o Al Shamal, do Qatar, me conheceu e quis me contratar", recorda.

Segundo ele, os dois anos em que viveu no Oriente Médio foram muito importantes tanto para sua vida pessoal quanto profissional. Além disso, o fato de ter começado a atuar profissionalmente em um campeonato de nível técnico mediano contribuiu para que ele não sentisse tanto a pressão do começo da carreira.

"Como foi a primeira liga que eu joguei, foi bom porque não era tão forte. É um campeonato mediano, mas tem bastante estrangeiro, o que faz dele um pouco mais competitivo. Mas os jogadores catarianos não são tão bons tecnicamente quanto os brasileiros. Inclusive, durante esses dois anos em que estive lá o técnico da seleção me perguntou se eu gostaria de me naturalizar. Eu não quis porque era muito novo e nunca tinha sido convocado pela seleção brasileira. Se tivesse aceitado a naturalização eu nunca poderia jogar pelo Brasil", ressalta.

Após este período no Qatar, Djalma voltou ao Brasil para disputar a primeira Superliga por Taubaté, ao lado de seu ídolo e conterrâneo Dante, em 2014/2015. O atleta ainda teve uma curta passagem pelo Bahrein e também defendeu o Juiz de Fora Vôlei antes de se transferir para o Castellana Grotte, da Itália, onde se sagrou campeão na série A2 (equivalente à Superliga B), conquistando o direito de jogar a competição principal na temporada seguinte.

"Foi uma experiência muito boa jogar na Itália. O vôlei lá é muito mais profissional. Os jogadores são ótimos e a estrutura também tanto na A2 quanto na principal. O campeonato é bem equilibrado, competitivo. Foi uma liga onde aprendi muito e adquiri grande experiência", sublinha.

"Existe uma diferença entre o italiano e a Superliga. Lá, os sacadores são muito potentes e o bloqueio também é muito forte. Então, nesse sistema saque-bloqueio não tem igual ao italiano. Tanto que é considerado o campeonato mais difícil, mais forte do mundo", compara o ponteiro, que foi eleito o melhor passador da A2 pelo clube italiano e o segundo maior pontuador da competição.

Djalma acha que o Sesc vive um momento de instabilidade na temporada, mas acredita na recuperação do time na Superliga

Como um dos reforços do Sesc para esta temporada, Djalma se mostrou uma grata surpresa. Chegou a ser o segundo melhor atacante do time – atrás apenas do oposto Wallace – e terceiro maior pontuador da Superliga, indo para a reserva porque o búlgaro Rozalin Penchev retornou após um período em que esteve lesionado. Contudo, assim como toda a equipe, Djalma hoje vive um momento de instabilidade.

Além de ter caído prematuramente na Copa Brasil e de seguir acumulando resultados negativos na Superliga – a última derrota foi para o Minas neste domingo (17) por 3 sets a 1 – o time de Giovane Gávio, que ocupa a quarta posição na tabela (com 35 pontos), foi batido pelo argentino Bolívar na final da Libertadores por 3 a 0. Para o ponteiro, este momento de irregularidade se refletiu na decisão.

"Eu acho que a gente fez uma boa partida na semifinal. Mas, jogando contra o Bolívar, o time não conseguiu impor seu ritmo de jogo, infelizmente. E a equipe adversária também jogou muito bem, trabalhou bem no bloqueio e na defesa. (…) Eu acredito que talvez tenha faltado também alguma coisa, o técnico [Giovane Gávio] de repente tentar algo diferente. Não sei se seria suficiente, mas [ele] poderia ter feito mais mudanças, buscado alguma solução. Porque os três sets foram praticamente a mesma história, não mudou nada", opina.

Assim, para o atleta, os revezes têm minado a confiança do grupo, mas ele diz acreditar totalmente em uma recuperação, e cita a qualidade do plantel.

"Estamos passando por um momento mais delicado por causa dessas derrotas. Só que a nossa equipe é muito boa, dedicada, todo mundo treina forte a semana inteira. Acho que a gente está perdendo pra gente mesmo. Não sei dizer o porquê está acontecendo, mas o vôlei é um esporte muito psicológico. A gente está vivendo uma fase de desconfiança, insegurança e essas coisas estão atrapalhando. Mas acredito que essa confiança vai voltar com a gente jogando, vencendo as partidas. E vamos chegar bem nos playoffs", diz, confiante.

Mais conhecido pelos torcedores brasileiros agora que está atuando pelo Sesc, Djalma afirma ter um grande sonho em sua carreira: "Meu maior sonho sempre foi jogar na seleção brasileira e eu espero que ainda consiga chegar lá. Já fui convocado, mas não me firmei. Então espero ser chamado novamente e me manter pra defender a camisa do Brasil", finaliza.

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Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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