Topo

Saída de Rede

Vôlei de praia em ginásio? Holandeses mostram que é possível

Carolina Canossa

04/01/2019 06h00

Jogar em ambiente fechado foi a solução para que o vôlei de praia fosse jogado em pleno inverno europeu (Fotos: Divulgação/FIVB)

Há tempos a expressão "vôlei de praia" não é mais do que isso: uma expressão. Torneios em cidades que ficam a centenas de quilômetros do mar são comuns. O Circuito Brasileiro 2018/2019, por exemplo, já teve etapas em Palmas, no Tocantins, e em Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.  Ninguém, porém, foi ainda tão longe quanto os holandeses na ideia de promover jogos da modalidade sem que haja a menor condição de estar em uma praia.

Pelo segundo ano consecutivo, Haia realiza uma etapa do Circuito Mundial em pleno mês de janeiro. A praia em si nem é um problema lá, já que estamos falando de uma cidade litorânea. O que pega mesmo é o clima: nesta sexta (4), terceiro dia de um evento que vai até segunda-feira (7), a máxima prevista é de 7ºC, com chuva.

Sem "mimimi": Carol Solberg e Maria Elisa superam diferenças e despontam na praia

Provável estreia de Leal e Pré-Olímpicos são o destaque do vôlei em 2019

Em pleno inverno europeu, o mais indicado seria remanejar as datas do campeonato, mas os organizadores deram uma solução: jogar em um ginásio fechado, o Sportcampus, localizado em um parque, o Zuiderpark. Ao invés do tradicional piso de borracha, usa-se a areia. As roupas dos jogadores, inclusive, seguem as mesmas, com biquínis, calções e regatas como se a temperatura estivesse alta.

"Os atletas se adaptaram bem rápido e ficamos felizes em começar a temporada mais cedo que o normal", comentou o diretor do torneio, Joep van Iersel, ao ser questionado sobre o tema ainda sob os ares da novidade, no ano passado. "É importante que o vôlei de praia inove e ache novas formas de fazer seus torneios", afirmou.

Quem mais aprovou a novidades foram justamente as duplas europeias, que, por conta do clima, já se viam obrigadas a treinar em lugares fechados durante boa parte do ano. Mais acostumados com as novas condições, como a ausência de vento, os jogadores do continente acabaram se dando bem na edição masculina do ano passado, com letões, poloneses e holandeses ocupando os três primeiros lugares.

Com ambiente climatizado, atletas como Maria Elisa (à esquerda) e Carol Solberg jogam com roupas de praia: dupla brasileira foi prata na etapa em 2018

No feminino, porém, as americanas Alix Klinemann/April Ross e as brasileiras Maria Elisa/Carol Solberg fizeram o talento falar mais alto e disputaram a final, com vitória da dupla formada pelas estrangeiras. Já o bronze ficou com a Suíça.

INTERFERÊNCIA NO ESTILO

Apesar do bom resultado em 2018, Maria Elisa relatou ao Saída de Rede que sentiu um estranhamento com a proposta colocada em prática em Haia.

"Eu acho que foge das características de praia, pois muda a velocidade da bola, muda como ela se desenvolve no ar, então interfere bastante no estilo do jogo. Fica um jogo muito mais rápido e é diferente do que nos acostumamos nos treinamentos. Além das condições climáticas, como sol, vento, chuva, areia pesada, que muitas vezes nos atrapalham, mas que nos condicionamos para enfrentar", explicou a atleta. "Faz parte do nosso cotidiano encontrar soluções para este problemas, então prefiro jogar em lugares abertos e que condizem mais com a nossa modalidade", complementou.

Várias quadras foram montadas lado a lado para que partidas fossem disputadas ao mesmo tempo; ausência de vento é a principal diferença

Carol Solberg, por sua vez, diz guardar boas lembranças da etapa, não só pela conquista de uma medalha, mas também pelo desafio. "É muito maneiro jogar um torneio diferente", relatou a atleta, que também apontou as características distintas em relação aos demais torneios do calendário. "A coisa de não ter vento nenhum é a grande diferença de estar no indoor (…) Só não acho justo que este seja um torneio que conte pontos para uma Olimpíada, pois é muito atípico. Um time que às vezes encontra um bom saque acaba se beneficiando, pois é muito difícil recepcionar em Haia, a bola vem bem diferente", explicou.

Para satisfação de Carol, a etapa de Haia em 2019, de fato, não conta pontos para o qualificatório olímpico (programado para acontecer a partir de abril). Isso e a data do torneio, muito no início do ano, fizeram com que elas decidissem não participar da atual disputa. Assim, o Brasil está representado no feminino apenas por Ana Patrícia e Rebecca. Entre os homens, o país conta com Ricardo/Álvaro Filho, Pedro Solberg/Bruno Schmidt e Márcio Gaudie/Vinícius Resende na busca por medalhas.

ATUALIZAÇÃO: com uma vitória por 21-10 e 21-18 sobre as americanas Sarah Sponcil e Kelly Claes na final, as brasileiras Ana Patrícia e Rebecca faturaram o título da etapa de Haia em 2019. Entre os homens, o melhor resultado do país ficou com a dupla Pedro Solberg/Bruno Schmidt, que chegou às quartas de final.

Curta o Saída de Rede no Facebook!

Siga-nos no Twitter: @saidaderede

Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

Blog Saída de Rede