Surpresas nas seleções, Alan e Lorenne se preparam para ano decisivo
Carolina Canossa
27/10/2019 04h15
Jovens, tímidos e talentosos… à lista de semelhanças entre Alan Souza e Lorenne Teixeira, outro fato foi acrescentado em 2019: ambos foram destaques individuais das seleções brasileiras de vôlei e viram o sonho de jogar a primeira Olimpíada se aproximar. Mais visados pelos adversários, terão como desafio agora manter o alto nível apresentado em quadra para assegurar a convocação olímpica e continuarem a chamar atenção nas quadras.
Em conversa com o Saída de Rede, ambos garantiram ter consciência e estarem prontos para o desafio. "Sei que vou estar mais marcada e, por isso, vou treinar mais, aprender mais e tentar evoluir sempre", comentou Lorenne, 23 anos. Eleito o melhor jogador da Copa do Mundo masculina, Alan, 25, demonstra confiança em sua fala: "Ser mais marcado é normal de acontecer com quem começa a se destacar, mas é aí que que os grandes jogadores aparecem, se reinventando a cada jogo, cada campeonato…".
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Os dois, que jogam na posição de oposto, tiveram trajetórias distintas nos últimos anos: enquanto Alan vem se destacando pelo Sesi há duas Superligas, Lorenne teve um caminho de altos e baixos nos últimos anos: destaque em categorias de base, fez duas temporadas apagadas no Vôlei Audax Osasco, tendo jogado pouquíssimo em 2018/2019, quando foi a reserva da americana Destinee Hooker.
Tanto é que ela admite que sequer tinha esperanças de vestir a camisa da seleção em 2019. "Eu não esperava, na verdade. Foi uma grande surpresa para mim e uma temporada de muito aprendizado, seja com o Zé Roberto (Guimarães, técnico da seleção) ou com as meninas em quadra, caso da Sheilla. Graças a Deus, consegui aproveitar a oportunidade", comemorou.
Zé Roberto destacou que realmente os planos para Lorenne eram outros, mas ela soube agarrar as chances que apareceram no caminho: "É uma história muito particular, pois ela foi convidada inicialmente só para treinar conosco. Como vimos que estava se destacando, duas semanas depois a convocamos. Houve então uma situação importante, se revezando com a Paula Borgo na fase classificatória da Liga das Nações e ela foi melhorando, assumindo uma certa titularidade em momentos decisivos. O que eu vejo de mais importante aí é que as jogadoras, bem como a comissão técnica, passaram a acreditar no potencial da Lorenne, que correspondeu".
A grande chance de Lorenne aconteceu por uma coincidência: depois de ganhar folga na primeira metade da temporada, Tandara voltaria ao time nacional para a disputa da fase final da Liga das Nações, mas não pôde viajar à China por conta de um desconforto na região abdominal. Reserva de Paula Borgo na vitória por 3 a 2 sobre a Polônia, a jovem atacante ganhou uma chance diante dos Estados Unidos, onde, apesar da derrota, marcou 21 pontos. Na semifinal contra a Turquia, brilhou ao lado de Natália e, no novo encontro com as americanas na final, fez 20 pontos. Depois, terminou a Copa do Mundo como a sétima maior pontuadora, com 161 pontos.
Ao relembrar o bom desempenho, Lorenne conta que o segredo é manter o foco em um lance de uma vez. "Sempre tive um friozinho na barriga, o que é normal, mas me concentro em cada ação, não fico pensando no futuro ou nas coisas que aconteceram, nos erros. Deixo tudo para trás para que eu fique no jogo", afirmou.
Já Alan diz que, mesmo com a rota ascendente na carreira, não imaginava um ano tão bom na seleção brasileira, onde teve a missão de substituir o consagrado Wallace, que ganhou folga para se recuperar física e mentalmente de olho na Olimpíada.
"Nem nos meus melhores sonhos eu esperava isso. O que eu esperava era ir para a seleção, sabia que seriam jogos muito difíceis e queria só em dar o meu melhor. E deu tudo certo porque a seleção me acolheu muito bem, os jogadores e o Renan me ajudaram bastante, então isso me deixou mais calmo. Foi o melhor campeonato da minha carreira", reconheceu o oposto, que diz se espelhar justamente em Wallace. "É um cara que fez muito pela seleção, uma inspiração. Me sinto muito bem jogando ao lado dele", elogiou.
Não por acaso, o técnico da seleção masculina, Renan Dal Zotto, encheu Alan de elogios ao ser questionados sobre ele pelo SdR: "O Alan fez uma competição fantástica. É um garoto que tem um futuro esplêndido pela frente e eu posso dizer que ele está no caminho certo. É mentalmente muito forte, treina bastante e quer chegar a um lugar cada vez mais alto".
Lorenne e Alan estarão em ação respectivamente por São Paulo/Barueri e Sesi na Superliga 2019/2020, cuja edição masculina começa em 9 de novembro, três dias antes da versão feminina.
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Sobre a autora
Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.
Sobre o blog
O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.