Sob suspeita, vôlei russo poderá perder mais prestígio fora dos Jogos
Qual será o impacto da exclusão da Rússia, uma das mais tradicionais e vencedoras escolas de vôlei da história – incluindo o período como União Soviética – dos Jogos de Tóquio? Fãs da modalidade e jornalistas vêm tentando dar uma resposta a esta pergunta desde a divulgação da bomba que abalou o mundo esportivo nesta segunda-feira (9).
Seguindo uma recomendação de seu Comitê de Revisão de Conformidade, a Agência Mundial Antidoping (WADA) baniu o país de competições internacionais pelos próximos quatro anos. A proibição exclui os atletas russos não apenas da Olimpíada do ano que vem, como também dos Jogos de Inverno de 2022, em Pequim, da Copa do Mundo de futebol, que será realizada no mesmo ano, no Qatar, e de Campeonatos Mundiais de todos os esportes.
Além dos atletas, funcionários do governo russo também estão banidos de tais eventos por fazerem parte daquilo que a WADA considera ser um vasto sistema de doping institucionalizado e financiado pelo Estado, que já teria envolvido mais de mil atletas. De acordo com a resolução, o país também está proibido de sediar ou mesmo se candidatar a receber grandes torneios esportivos, o que compromete diretamente a realização do Campeonato Mundial masculino de vôlei, que aconteceria no país em 2022.
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A punição motivou reações. A lendária ponteira Lyubov Sokolova, bicampeã mundial com a Rússia e uma das maiores jogadoras de vôlei de todos os tempos, disse, em entrevista ao prestigiado site russo Sport-Express, que a decisão da WADA representa um duro golpe ao esporte no país.
"Isso é um horror, uma grande frustração. Não apenas para o atleta que está se preparando, mas também para os organizadores. Para treinadores e jogadores, para o marketing e a popularização do vôlei em geral. É uma tragédia. Nem consigo imaginar o que acontecerá daqui para frente, o que precisa ser alterado e corrigido. Sinto uma tristeza profunda", lamentou.
Mesmo antes do anúncio oficial da sanção imposta pela Agência, a oposta Nataliya Goncharova, uma das principais jogadoras da equipe russa na atualidade, já havia se manifestado no fim de semana questionando a indicação de exclusão de todos os atletas do país, o que acabou por se confirmar nesta segunda-feira.
"Há, em muitos países, atletas que testaram positivo, mas nem por isso puniram a delegação inteira. Se o atleta estiver limpo, ele deverá poder participar dos Jogos Olímpicos. Se for pego em doping, ele é desqualificado e não participa. É simples, você não pode banir todo mundo", declarou a atacante ao mesmo Sport-Express, se referindo ao fato de que a tradição no Comitê Olímpico Internacional (COI) é impor a punição ao atleta envolvido no caso de doping, e não ao time.
Não é de hoje, entretanto, que o vôlei – e o esporte russo como um todo – é colocado sob grave suspeita. No final de 2016, por exemplo, a versão final do relatório da mesma WADA já incluía o nome do central Dmitriy Muserskiy – e de outros jogadores, que foram mantidos em sigilo – em uma lista com vários atletas de 30 modalidades diferentes que teriam feito uso de substâncias proibidas entre 2011 e 2015. Como ele foi pego duas vezes e as datas não foram divulgadas, não se sabe se alguma delas foi durante os Jogos de Londres, em 2012.
Para quem não lembra, o gigante de 2,18m foi um dos responsáveis pela histórica virada sobre a seleção brasileira na final daquela Olimpíada, o que acabou dando o ouro ao time russo. À época, a revelação motivou uma tentativa intempestiva de reivindicação da medalha por parte do ponteiro Giba, então capitão da seleção, junto à Federação Internacional de Vôlei (FIVB).
Desta vez, entretanto, a recomendação pela exclusão, aceita por unanimidade pela organização, se baseou na constatação de que houve uma falsificação dos dados de controle de doping fornecidos pelo laboratório da Agência Antidopagem local (RUSADA) aos investigadores da WADA no mês de janeiro. O COI já tinha se posicionado a favor do banimento do país da Rio 2016 e dos Jogos de Inverno de Pyeongchang, de 2018, mas deixou que as federações nacionais resolvessem se executariam ou não a punição.
Assim, o COI manifestou total apoio à decisão tomada nesta segunda-feira, afirmando que dará pleno suporte às sanções impostas aos atletas. "Os representantes do Movimento Olímpico apoiam hoje a decisão unânime do Comitê Executivo da Wada, que está de acordo com a declaração feita pelo Comitê Executivo do COI e é endossada pela Cúpula Olímpica", anunciou a entidade.
A resolução, no entanto, pondera que os competidores que estiverem comprovadamente "limpos" poderão atuar defendendo uma bandeira neutra, algo que contraria a solicitação da Comissão de Atletas da organização – o grupo havia pedido a eliminação total da Rússia de qualquer disputa. Mas o fato é que o país tem 21 dias para recorrer da decisão da Agência. Se optar pelo recurso, o caso será julgado em última instância pelo Tribunal Arbitral do Esporte (TAS, na sigla em francês).
A Federação Internacional de Vôlei, por sua vez, ainda não se posicionou oficialmente sobre a resolução, que, se for confirmada, causará mudanças nunca vistas na configuração da disputa dos Jogos. Segundo a TASS, agência russa de notícias, a entidade não comentará a sanção até que o julgamento seja totalmente concluído. Não se sabe, por exemplo, como serão preenchidas as vagas das seleções feminina e masculina caso a decisão seja de fato avalizada pelo Tribunal Arbitral.
As equipes conseguiram a classificação nos Pré-Olímpicos realizados em agosto. Jogando em casa, na cidade de São Petersburgo, a seleção masculina, tetracampeã olímpica e atual bicampeã da Liga das Nações, carimbou o passaporte vencendo México, Cuba e Irã sem grandes sobressaltos. Com um conjunto de jogadores que inclui o oposto Maxim Mikhaylov e os ponteiros Egor Kliuka e Dmitry Volkov, entre outros, o time era visto como um dos favoritos ao ouro no Japão e, inclusive, seria um dos adversários do Brasil no grupo da morte.
Já entre as mulheres, apesar da tradição, a Rússia, bicampeã mundial, não figura entre as principais potências da modalidade há algum tempo. A equipe não fatura um título internacional desde 2010, quando superou a seleção brasileira no tie-break na decisão do Campeonato Mundial. Além disso, foi a medalha de prata no antigo Grand Prix de 2015 e ficou com o bronze na esvaziada Copa do Mundo deste ano.
Apesar dos tropeços em torneios relevantes, com uma mescla de atletas jovens, como a ponta Irina Voronkova, com outras mais experientes, como a própria Goncharova e a levantadora Evgeniya Startseva, se classificou na cidade de Kaliningrado, batendo México, Canadá e Coreia do Sul. Na chave B dos Jogos, a Rússia teria pela frente China e Estados Unidos como alguns dos rivais.
Com a Rússia de fora, quem herdaria as vagas? Se o critério adotado for escolher pela ordem de colocação nas chaves dos Pré-Olímpicos, Irã e Coreia do Sul serão os classificados, já que ambos terminaram na segunda posição nos naipes masculino e feminino, respectivamente. Outra possibilidade, entretanto, é que a repescagem europeia de janeiro distribua duas vagas em cada naipe e não apenas uma como preconiza o atual regulamento.
Todas estas definições, contudo, deverão ficar em suspenso até que o Tribunal Arbitral do Esporte julgue o caso e determine se, de fato, a Rússia será banida dos Jogos Olímpicos.
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