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Postura da FIVB e do COI aumenta polêmica sobre Tifanny

Carolina Canossa

17/04/2018 06h00

Tifanny foi um dos destaques da Superliga vestindo a camisa do Vôlei Bauru (Foto: Orlando Bento/Minas Tênis Clube)

Convocar e correr o risco de ser contestado por adversários ou não chamar e estar exposto a acusações de preconceito? O dilema envolvendo a decisão do técnico da seleção brasileira feminina de vôlei, José Roberto Guimarães, e a oposta Tifanny Abreu ganhou uma alternativa que ninguém esperava. Ao divulgar os nomes das primeiras convidadas a defender a equipe nacional na última sexta (13), a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) informou que o nome da jogadora do Vôlei Bauru sequer foi cogitado porque a FIVB (Federação Internacional de Vôlei) ainda está estudando a elegibilidade de atletas transgêneros.

Além de frustrar a expectativa da própria Tifanny, a alegação causa estranheza: se a FIVB ainda não está certa sobre as diretrizes a serem tomadas, por que a atacante foi liberada para atuar no voleibol de clubes? Qual a diferença entre atuar em um campeonato nacional e em uma disputa entre seleções? O jogo não muda nada, correto? Portanto, ou Tifanny deveria ser elegível para tudo ou deveria ser proibida de jogar o voleibol feminino. Não dá para engolir uma "meia liberação".

Vale lembrar que a autorização de Tifanny para atuar entre as mulheres foi dada pela FIVB por orientação do COI (Comitê Olímpico Internacional). A verdade, porém, é que a própria entidade que rege o esporte olímpico mundial não é clara na questão, deixando de responder a perguntas importantes, tais como: de onde foi tirado o valor de 10 nmol/L de testosterona no corpo nos 12 meses anteriores à sua estreia nas quadras femininas? Apenas isso é o suficiente para anular o fato de o desenvolvimento corporal dela ter ocorrido sob o efeito de hormônios masculinos (Tifanny iniciou a transição de gênero aos 31 anos)?

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A transparência a respeito dos processos que levaram à tomada da autorização para Tifanny jogar seria bom para a própria atleta, que assim ganharia uma segurança ainda maior para poder enfrentar o preconceito e seguir em frente em sua carreira. Seus números na Superliga embasariam uma convocação, especialmente em um momento no qual apenas duas opostas, Tandara e Monique, tem se destacado no Brasil. Por outro lado, a dificuldade em variar golpes quando bem marcada, como demonstrado nos playoffs contra o Dentil/Praia Clube, pesam contra ela na análise de suas possibilidades jogando no nível internacional. Talvez jamais saibamos como ela se sairia aí por conta das posturas de FIVB e COI.

Procurada pela reportagem, a oposta, que está de férias, não foi encontrada. Usuária assídua do Instagram, ela também se afastou da rede social desde a última quarta (11), dia em que postou a renovação de seu contrato com o Bauru e divulgou uma foto ao lado do namorado.

FABÍOLA GANHA VOTO DE CONFIANÇA

Falando sobre a convocação em si, o destaque fica por conta da levantadora Fabíola. Apesar de uma temporada abaixo do esperado no Vôlei Nestlé, onde foi constantemente substituída por Carol Albuquerque, a armadora ganhou um voto de confiança de Zé Roberto. Quem também mostrou ter crédito com o treinador é a central Thaisa, que passou boa parte da temporada recuperando-se de uma grave lesão no joelho. O mesmo se aplica a outra meio-de-rede, Carol, cujo time na Turquia não foi bem em nenhum dos campeonatos que participou.

Confira abaixo os nomes já chamados para a seleção brasileira – vale destacar que as atletas de Sesc-RJ e Dentil/Praia Clube, finalistas da Superliga, só serão chamadas após o término da competição:

Levantadoras
Macris Silva Carneiro (Camponesa/Minas (MG))
Josefa Fabíola de Souza (Vôlei Nestlé (SP))

Oposta
Tandara Alves Caixeta (Vôlei Nestlé(SP))

Centrais
Thaisa Daher de Menezes (Hinode Barueri (SP))
Adenízia Ferreira da Silva (Savino Del Bene Volley Scandicci (Itália))
Ana Carolina da Silva (Carol) (Nilufer Belediye (Turquia))
Ana Beatriz Silva Correa (Bia) (Vôlei Nestlé)
Mara Ferreira Leão (Camponesa/Minas)

Ponteira
Rosamaria Montibeller (Camponesa/Minas)

Líbero
Léia Henrique da Silva (Camponesa/Minas)

Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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