NVA vem aí! Dará certo uma liga americana de vôlei?
Não é a primeira tentativa e ainda não há nada que leve a crer que será desta vez, mas segue vivo o sonho de alguns americanos ligados ao voleibol de concretizar uma liga profissional nos Estados Unidos. Anunciada em setembro, despertando a curiosidade dos fãs na Ásia, na Europa e na América do Sul, a National Volleyball Association (NVA) surge sem a chancela da USA Volleyball (USAV), organização que administra a modalidade naquele país. No próximo fim de semana, de 8 a 10 de dezembro, a NVA será lançada, com um torneio reunindo seus oito times (veja lista abaixo), na Universidade de Nevada, em Las Vegas (UNLV) – a equipe vencedora ganhará 50 mil dólares. A temporada começará mesmo em janeiro, em data a ser definida, e seguirá até maio.
Os times que fazem parte da recém-criada NVA são, na maioria, remanescentes da Premier Volleyball League (PVL). Essa foi mais uma malsucedida tentativa, iniciada em 2012, então com apoio da USAV, de implantar o vôlei profissional nos EUA. A falta de patrocinadores, a ausência da TV e os problemas com a logística em um país de dimensões continentais sufocaram a PVL, que deu seu último suspiro no ano passado. Nas equipes, diversos atletas vindos das universidades americanas ou com experiência em ligas secundárias da Europa, como as da Romênia, Finlândia e Áustria.
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Afinal, quais as chances de dar certo essa aposta no voleibol profissional nos EUA? Como superar os obstáculos? Para responder essas e outras perguntas, o Saída de Rede conversou com Bill Li, presidente da NVA, e ainda com Lloy Ball, campeão olímpico em Pequim 2008, e Russell Holmes, ex-jogador da seleção americana que atuou pelo Minas Tênis Clube – os dois estarão em quadra na liga e são figuras importantes na promoção da NVA. O SdR procurou ainda a USA Volleyball, para saber como a organização vê o surgimento da National Volleyball Association, uma vez que a USAV quer conduzir sua própria liga.
Bill Li
A nova liga é, por enquanto, exclusivamente deles. Embora o vôlei feminino atraia um pouco mais de público nos EUA, mesmo sem ser exatamente popular, a opção foi pelo masculino. "Pretendemos começar uma liga feminina em 2019", disse Bill Li ao blog, esquivando-se quando perguntado sobre mais detalhes. Ainda não há estrangeiros, mas Li quer vê-los na NVA em 2019 nos dois naipes. "Somos profissionais desde o início, que fique claro. Quem joga em qualquer um dos oito times tem salário", enfatizou, sem revelar o valor médio recebido pelos atletas. A nova liga quer, além de atrair estrangeiros, reter talentos. "Os profissionais americanos são obrigados a jogar na Ásia, na Europa, no Brasil ou em Porto Rico. Não havia opção aqui", lamentou o presidente da NVA. Segundo a USAV, 358 jogadores americanos (261 mulheres e 97 homens) estão no exterior nesta temporada.
Os exemplos para a NVA, cuja sede fica na cidade de Lake Forest, na Califórnia, são as bem sucedidas ligas norte-americanas em diversas modalidades – do estelar basquete ao razoavelmente popular hóquei. Todas elas, nos seus diferentes níveis, com investimento, organização e prestígio que são apenas sonho para o voleibol. Se vai dar certo, o tempo dirá.
A aproximação de Li com o voleibol começou em 1984, ainda em Guangzhou, na China, onde nasceu. Tinha 9 anos quando viu a seleção feminina de vôlei do seu país, comandada pela ponteira Lang Ping, conquistar o ouro nos Jogos Olímpicos de Los Angeles. Era o início de uma paixão. Dois anos depois, sua família mudou-se para os EUA e foi viver próximo a Los Angeles. O garoto Li, que praticou tênis na escola, nunca demonstrou habilidade para o voleibol, mas não deixava de acompanhar a modalidade.
Empresário do ramo imobiliário, Bill Li, 42 anos, é o principal investidor do Blizzard Volleyball, time da Califórnia que será um dos oito participantes da nova liga. Ele foi um dos fundadores e é o presidente da NVA. Para manter o projeto de pé, tratou de utilizar seus contatos para atrair patrocinadores. As cifras ele mantém em sigilo. A linha de frente inclui a Mikasa, grande fornecedor de material esportivo com sede no Japão, que tem na produção de bolas o seu carro-chefe e que há anos tenta abocanhar uma fatia do mercado americano, dominado pela concorrente Molten.
Outros patrocinadores são FameStar United, Singpoli e Gear International, respectivamente empresas das áreas de marketing, imóveis e turismo. A primeira temporada, segundo Li, deve servir como vitrine para atrair novos investidores, possibilitando a vinda de atletas estrangeiros. Um parceiro importante neste início, que tem divulgado o evento de apresentação na UNLV no próximo fim de semana em Las Vegas, é o MGM Grand Casino, um dos principais hotéis-cassino da cidade.
Lloy Ball
O levantador Lloy Ball foi um dos grandes nomes do vôlei americano nos anos 1990 e 2000. Na sua quarta e última Olimpíada, Pequim 2008, conquistou o tão sonhado ouro – justamente em cima da seleção brasileira, numa final vencida de virada pelos EUA por 3-1. Praticou a modalidade dos 15 aos 40 anos, quando parou de jogar profissionalmente, em 2012. Agora, aos 45 anos, vem emprestando seu prestígio e conhecimento ao Pineapple Team, clube do qual já era diretor e ainda técnico das categorias de base. Na NVA, estará em quadra.
Porém, engana-se quem pensa que ele estava parado. "Na verdade, eu nunca deixei de jogar porque estava com o Pineapple me apresentando em uns três eventos por ano, trato de treinar pelo menos três vezes por semana. Não sou bobo, né (risos). Não vou fazer um papelão na NVA. Tudo bem, estou com 45 e sei que já não tenho o nível de antes. Mas tenho uma equipe jovem e forte com a qual posso contar. Além do mais, temos um bom levantador, Omar Rivera, e eu não vou ficar o tempo todo em quadra", contou ao SdR.
Russell Holmes
O central Russell Holmes, 35 anos, é um velho conhecido da torcida brasileira. Jogou pelo Minas Tênis Clube na temporada 2010/2011. Fez parte da seleção americana durante vários anos e disputou os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, quando os EUA caíram nas quartas de final diante da Itália. Seguiu sendo convocado até a Liga Mundial 2016 e foi o penúltimo atleta a ser cortado antes da Rio 2016. Sua última passagem no vôlei internacional foi na liga francesa, na temporada passada, pelo Paris Volley – atuou ainda nas ligas polonesa e turca, entre outras. Agora, faz parte do Blizzard Volleyball, time de Bill Li, e é um dos rostos mais utilizados para difundir a nova liga.
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O Saída de Rede conversou separadamente com Li, Ball e Holmes sobre a NVA e as dificuldades enfrentadas pelo voleibol para se popularizar nos EUA. Confira o que eles disseram:
Saída de Rede – Esse torneio de três dias em Las Vegas é o lançamento da NVA. Quando ela começa para valer? Quais os objetivos dos organizadores?
Bill Li – A NVA começa mesmo em janeiro, com essas mesmas oito equipes, mas ainda não temos a data ou a tabela, que será apresentada em breve. No curto prazo, queremos que a NVA seja uma liga profissional autossustentável nos Estados Unidos, que ganhe popularidade. No longo prazo, queremos que a marca NVA se torne tão conhecida quanto outras ligas profissionais existentes aqui.
Lloy Ball – No primeiro ano da NVA a meta é fortalecer nossa infraestrutura. Queremos que a liga seja uma opção para os jogadores americanos quando eles chegarem ao alto rendimento e também que atraia estrangeiros, para que possa ser cada vez mais atrativa, gerando lucro.
Russell Holmes – Queremos garantir que a NVA se mantenha em todos os aspectos, nos mínimos detalhes, a exemplo do que ocorre com outros esportes aqui nos EUA. O primeiro passo é reforçar nossa infraestrutura e também atrair a atenção de atletas americanos e estrangeiros, para que assim possamos crescer continuamente, elevando o nível da liga a cada ano.
Saída de Rede – Quais as razões para a falta de interesse do público americano no vôlei?
Bill Li – Dinheiro, é preciso mais investimento. Além disso, o público precisa ser exposto ao esporte, entendê-lo. Quando você compreende algo, tem chance de gostar. Resultados já existem, pois as seleções americanas são boas, sobem no pódio. Eu tinha 9 anos, vivia na China e fiquei maluco vendo Lang Ping liderar a seleção feminina chinesa e ganhar o nosso primeiro ouro no vôlei. Assim como eu, muitos chineses descobriram o voleibol durante a Olimpíada de Los Angeles, em 1984, mas a exposição foi mantida, havia jogos na TV, o voleibol tornou-se notícia. Falta isso nos EUA.
Lloy Ball – O vôlei sempre vai ser um produto difícil de vender nos EUA. Ainda que seja popular como recreação, não tem o mesmo apelo de outras modalidades que são consideradas grandes no nosso mercado.
Russell Holmes – Se as pessoas não conhecem ou não entendem, não pode haver interesse. É preciso criar essa oportunidade para chamar a atenção do público, para que eles olhem para vôlei, ao mesmo tempo em que vão se habituando, compreendendo a modalidade. Se isso for feito da maneira correta, gerando interesse e entusiasmo, podemos pensar em massificação. Claro que precisamos de recursos, grandes patrocinadores.
Saída de Rede – Como encarar desafios como logística, falta de espaço na programação da TV, falta de conhecimento e de interesse do público?
Bill Li – Há vontade, empenho e certamente há um caminho para contornar esses problemas. Será que teremos forças para vencer esses desafios? Digo que sim. O primeiro ponto é garantir exposição, atrair atenção, mostrar o potencial desse esporte maravilhoso.
Lloy Ball – A principal razão pela qual uma liga profissional de vôlei nunca deu certo aqui nos EUA, na minha opinião, é a falta de interesse da TV. Em vez de lutar contra isso, nós vamos investir nas redes sociais e nas transmissões via internet para promover o nosso produto, com a intenção de chamar a atenção da TV para sua viabilidade, aí sim tentaremos garantir o nosso nicho na televisão. Sem uma estrutura já consolidada, sem uma história que dê referência a qualquer esporte, a TV nunca vai levar o vôlei a sério aqui. Então é preciso fazer esse esforço. Os demais problemas são mais fáceis de contornar. Temos um plano muito bom que é investir parte do dinheiro em clubes que tenham programas de voleibol para crianças e jovens, mantendo o surgimento de talentos. Novas pessoas vão se interessando e os clubes responderão a isso com boa estrutura, técnicos, chegando inclusive a áreas dos EUA onde o voleibol ainda não recebe nenhum estímulo.
Russell Holmes – Não há dúvida que a NVA definitivamente terá de encarar muitos desafios. Mas eu tenho convicção que a NVA está fazendo tudo ao seu alcance e colocando as pessoas certas em cada posto para driblar os problemas.
Saída de Rede – Esportes como o hóquei e o futebol têm boa audiência e prestígio nos EUA, ainda que em um nível inferior ao do futebol americano, beisebol e basquete. Você acredita que o vôlei poderá, no longo prazo, atingir o nível de popularidade do hóquei e do futebol?
Bill Li – Eu não tenho a menor dúvida. Se alguém me dissesse há 10 anos que a Major League Soccer (futebol) seria tão bem sucedida como é hoje, eu não acreditaria. Por que não o voleibol? Claro que tem que haver um esforço tremendo, muita determinação e pelo menos uns 10 anos de investimento para garantir um lugar ao sol.
Lloy Ball – Esse é o momento. Há um projeto no meio universitário como o Motor MVB, tendo à frente o John Speraw (técnico da seleção americana masculina), cuja meta é divulgar os programas de voleibol da NCAA (entidade que organiza competições nacionais em mais de 30 esportes nos EUA em nível universitário), oferecendo bolsas de estudo, para atrair mais talentos para a modalidade. É hora de pegar carona e levar o vôlei adiante.
Russell Holmes – Eu acredito que o vôlei pode conquistar espaço entre os americanos. Vai exigir muito de nós, que estamos tentando promovê-lo, e teremos que ter em mente que vai levar tempo. Precisamos de paciência. O vôlei é muito dinâmico, com muita explosão e velocidade. Eu diria que, se o público em geral tiver acesso e parar para observar, vai sentir a energia e se deixar tocar. Quando você compreende o voleibol, ele se torna interessante. Um aspecto muito importante é o conteúdo, isso é crucial para atrair as pessoas. Por acaso há vôlei nos EUA para ser oferecido ao público? Não. Então não há como sequer pensar em chamar a atenção. À medida que a NVA vá se fortalecendo, que a liga cresça, isso vai criar potencial para atrairmos a audiência, cativarmos as pessoas. E os envolvidos nessa empreitada são pessoas capacitadas, com larga experiência no meio, capazes de compreender o que pode chamar a atenção do público.
Saída de Rede – Que tipo de apoio a NVA tem recebido da USA Volleyball?
Bill Li – Falamos com a USAV, que mantém a ideia de criar sua própria liga até 2020. Bom, por enquanto somos independentes, não temos nada a ver com eles.
Lloy Ball – O vermelho, o branco e o azul correm nas minhas veias. Joguei pela seleção americana em quatro Olimpíadas. Sou fã do diretor executivo da USAV, Jamie Davis, e da diretoria, sei que eles querem uma liga profissional nos EUA. Mas como atleta veterano e como diretor de uma equipe, eu não poderia esperar para ver o que iriam fazer. Torço para que a NVA seja bem sucedida e que, em algum momento, a USAV e a NVA possam trabalhar juntas para o desenvolvimento do voleibol nos Estados Unidos.
Russell Holmes – Somos independentes. A USAV quer uma liga profissional tanto quanto nós queremos. Tomara que num futuro próximo os dois lados possam caminhar juntos para fazer o vôlei crescer no país.
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USA VOLLEYBALL QUER OUTRA LIGA
O SdR procurou o diretor executivo da USA Volleyball, Jamie Davis, mas ele não quis dar entrevista. Perguntamos sobre o andamento do projeto, anunciado no início deste ano, para o lançamento de uma liga pela USA Volleyball e como a organização via o surgimento da NVA. Por meio da assessoria de imprensa, a USAV respondeu o seguinte: "A USA Volleyball está desenvolvendo uma estratégia para uma bem sucedida liga profissional nos Estados Unidos. Houve várias tentativas falhas e nós queremos tempo para garantir que faremos a coisa certa. Nossa meta é lançar a liga ainda neste ciclo olímpico (até Tóquio 2020) e o projeto será apresentado quando for concluído. Já houve várias tentativas de criação de uma liga profissional sem o apoio da USAV, mas nenhuma delas foi bem sucedida".
EQUIPES DA NVA (e os estados onde ficam suas sedes):
– Academy United, da Califórnia
– Arizona Sizzle, do Arizona
– Blizzard Volleyball, da Califórnia
– Lights Out VBC, de Illinois
– Ice Men, de Illinois
– Rising Tide, da Califórnia
– Team LVC, de Nova York
– Team Pineapple, de Indiana
ONDE VER AS PARTIDAS?
Tanto o torneio de três dias em Las Vegas (de 8 a 10 de dezembro) quanto a liga que começa em janeiro serão transmitidos, conforme Bill Li, via YouTube, em um canal ainda a ser lançado pela NVA, e também na página da National Volleyball Association no Facebook. A tabela do torneio de apresentação da associação e também a da liga ainda não foram divulgadas.
A entrada para cada dia de jogos na UNLV custa apenas 10 dólares. Mas, para garantir público na apresentação no próximo fim de semana, a NVA optou pela distribuição da maioria dos ingressos entre convidados dos patrocinadores.
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