Giovane quer mais rodagem para jogadores da base
Os resultados das seleções brasileiras de base este ano, se não indicam terra arrasada, ao menos demonstram que o trabalho do vôlei nacional com jovens atletas não evoluiu no mesmo passo dos rivais. Dois indicativos disso: o Brasil disputou as últimas olimpíadas com seleções em ambos os naipes com média de idade acima dos 30 anos e – o menos importante – o país não conquistou nenhuma medalha nos campeonatos mundiais das categorias menores.
A solução apontada por Giovane Gávio, técnico da seleção masculina sub-23 e da equipe masculina do Sesc, para corrigir essa defasagem e fazer com que o país tenha atletas na idade adulta em quantidade e qualidade suficientes para rejuvenescer o plantel das seleções principais é fazer com que os jogadores em faixa etária de desenvolvimento físico e técnico ganhem rodagem disputando o máximo de partidas que puderem.
"Nosso raciocínio tem que ser um pouco maior do que simplesmente o resultado de um ano. 'O que está sendo feito hoje pra gente colher no amanhã?'. Não dá pra formar jogadores todos os anos, mas dá pra formar uma geração, e eu acho que isso vem sendo feito. Acho que o maior desafio que a gente tem hoje é fazer com que esses jovens joguem mais", avaliou Giovane em entrevista ao Saída de Rede.
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O exemplo que o bicampeão olímpico aponta está ao lado: a Argentina. Sem títulos globais na base ou na categoria adulta até este ano, os argentinos bateram os russos na decisão do Mundial do Egito e conquistaram o troféu da sub-23 masculina, com o time brasileiro, dirigido por Giovane, terminando na quarta posição.
"A Argentina vem tendo bons resultados. Como eles resolveram isso? Eles têm uma liga da faixa etária dos 19 aos 21 anos e os atletas fazem em torno de 80 jogos por ano, entre seleção e clube. Aqui no Brasil, se a gente pegar o jogador que mais jogou, deve ter feito 25, 30 jogos", calculou.
Isso não implica dizer, na visão de Giovane, que a estrutura do vôlei brasileiro para a base esteja ultrapassada.
"A gente tem certezas. Certeza de que (o Centro de Treinamento da CBV em) Saquarema é espetacular, de que o nível do treinamento técnico ali é o melhor que a gente pode oferecer, talvez um dos melhores do mundo. Material humano, a gente tem jovens bem interessantes na questão da estatura, da força física. Onde está o pequeno déficit? Na minha opinião, na quantidade de jogos que esses atletas fazem. Existe já um movimento da CBV e da confederação dos clubes para que esses jovens joguem mais, criando torneios brasileiros com clubes na base. Pode, talvez, ter uma seleção sub-19 B jogando uma Superliga B… são ideias que a gente precisa colocar em prática", admitiu.
Formação de jogadores: um problema do vôlei brasileiro
Na Itália, uma equipe composta por jovens atletas para a disputa de um campeonato nacional regular não é novidade: o Club Italia Crai, onde jogou até ano passado, por exemplo, a oposta Paola Egonu, só conta com jogadoras do país com idade até 20 anos – atualmente, o time está na Série B da liga italiana.
Já o campeonato brasileiro de clubes com jogadores da base – um avanço, se considerar que até recentemente só havia os torneios entre seleções estaduais – começou a ser disputado este ano.
Campeonatos de base
Nesta sexta-feira, 10, Flamengo e Fluminense disputam, na sede do Flamengo, no Rio, a final do campeonato brasileiro masculino de clubes sub-16. O vencedor será o primeiro clube campeão masculino de vôlei nas categorias de base no país. No feminino, a honraria coube ao Praia Clube, que bateu o Curitibano na decisão em sets direitos, no mês de outubro, em Belo Horizonte, e conquistou o título nacional feminino sub-15.
Até o final do ano, estão agendados outros cinco torneios – três no feminino, dois no masculino –, com faixas etárias que variam do sub-15 ao sub-21, o que totaliza sete campeonatos nacionais interclubes. As competições são promovidas em parceria pela CBV e pela Confederação Brasileira de Clubes (CBC). Para Renato D'Ávila, o superintende da CBV, o certame representa "um grande salto de qualidade".
"O trabalho com as seleções brasileiras é de médio a longo prazo. Nem sempre se consegue colher os frutos de campeões (sic) na base. Às vezes, esses campeões vão ser revelados e compor as seleções brasileiras adultas, que são nosso foco principal. A novidade é com relação ao incremento na base", disse o dirigente. "A gente vai buscar fortalecer os clubes, fazer com que os clubes da base subsistam e consigam jogar mais, e (com isso) vão servir à seleção brasileira com os melhores jogadores) sendo selecionados", completou o dirigente.
Resultados não preocupam
Coordenador das seleções femininas do Brasil em todas as categorias etárias, o técnico José Roberto Guimarães também entende que revelar atletas é um trabalho mais importante do que a conquista de títulos na base. O treinador tricampeão olímpico lembra, inclusive, que a equipe que terminou na modesta 19ª posição do mundial feminino sub-18 deste ano foi a China, ouro na Rio 2016 com um time bastante jovem.
"Eu não me preocupo tanto com o resultado na base. Me preocupo com a filosofia de trabalho. Se você conseguir tirar da base duas, três jogadoras pra seleção adulta, é muito legal. O que eu acho mais importante é aparecerem jogadoras altas, e isso está sendo trabalhado. Não conquistamos medalhas, mas esses resultados, dois quintos lugares (no feminino sub-20 e sub-23), de certa forma, são importantes", ressaltou Zé Roberto.
Por outro lado, Giovane acrescenta que a ´recente escassez de títulos se deve também ao crescimento do trabalho de outras seleções na base. "Não é só a gente que trabalha bem", disse o ex-ponteiro da seleção, que avalia que o modelo estrutural brasileiro foi estudado (e seguido) por outras escolas de voleibol.
"Não me assustam mais essas pessoas cobrando, 'ah, vocês não ganham mais'. Tem muita gente lá fora investindo muito dinheiro nisso. Polônia, Rússia e Itália têm centro de treinamento pras categorias de base, todo mundo está se mexendo. Eles vieram aqui, viram o que a gente fazia e copiaram", comentou o treinador do time masculino sub-23 do Brasil.
Colaborou Carolina Canossa
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