Marcelo Negrão relembra Barcelona: "A expectativa era ganhar experiência, jamais o ouro"
No país da memória curta e ídolos esquecidos, Marcelo Negrão pode se considerar um privilegiado. Vinte e cinco anos depois de ser um dos destaques da seleção brasileira masculina de vôlei na conquista do ouro na Olimpíada de Barcelona, o atacante ainda é reconhecido nas ruas e é celebrado pelos fãs como se o fulminante ace que encerrou a final contra a Holanda tivesse acontecido há poucos meses.
"Eu já vou fazer 45 anos e, quando saio na rua, as pessoas ainda comentam, me cumprimentam e me dão parabéns igual", comentou Negrão, atualmente apresentador do programa "Roda de Vôlei", que vai ao ar todas as quintas-feiras à noite no canal BandSports. Em entrevista exclusiva ao Saída de Rede, o oposto lembrou algo que poucos ainda guardam na memória: aquele título não foi, nem de longe, algo esperado pela torcida ou mesmo especialistas em vôlei: "Era uma equipe recém formada e jovem, que não tinha vencido ninguém ali na Liga Mundial".
Saiba por onde andam os campeões olímpicos de 1992
O dia em que Carlão jogou (e foi campeão da Superliga) com o pé quebrado
O histórico pouco animador se refletia no próprio elenco. Marcelo, por exemplo, era um adolescente de 19 anos que já estava contente apenas por participar do maior evento esportivo do planeta: "Tudo era novidade e representar o Brasil já era um feito enorme. Pra mim, estar ali já era bom, mas vencer? Jamais imaginaria. A expectativa era só ganhar experiência, dar o nosso melhor".
Como então explicar tamanha surpresa? A resposta passa por José Roberto Guimarães. Se hoje é reconhecido mundialmente, à época o treinador era um pupilo de Bebeto de Freitas que, de repente, assumiu a "bomba" de assumir uma seleção no mesmo ano dos Jogos Olímpicos, após as saídas do próprio Bebeto e de seu primeiro substituto, Josenildo de Carvalho. Observador e com experiência nas categorias de base, decidiu ousar alternando Marcelo Negrão e Carlão nos ataques de bolas rápidas. "Eu tinha facilidade de jogar em outras posições por conta de uma base muito boa na infância. Foi uma sacada muito grande do Zé e acabou surpreendendo. O jogo começou a fluir, a encaixar", comentou Negrão.
Perdidos, os bloqueios e as defesas adversárias não tiveram a menor chance diante do Brasil, que perdeu somente três sets ao longo de oito jogos. Como reflexo imediato da conquista, os atletas viraram pop stars de uma hora para outra. "Saímos do anonimato para sermos reconhecidos no Brasil inteiro. Onde íamos, não podíamos entrar nos lugares, os ginásios ficaram abarrotados, foi uma coisa muito louca… Até então, eu mesmo nem sabia o que era uma assessoria de imprensa", diverte-se o atacante.
Comemoração informal em breve
A celebração formal dos 25 anos do ouro em Barcelona 1992 foi discreta: enquanto a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) apenas divulgou uma nota em seu site lembrando a data, o presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), Carlos Arthur Nuzman, enviou uma carta aos campeões olímpicos.
Mas o próprios jogadores devem resolver o "problema" em breve: reunidos em um grupo de Whatsapp, eles estão se organizando para celebrar a conquista durante um fim de semana ainda este ano, provavelmente em Florianópolis. A confirmação da reunião, porém, ainda não aconteceu por conta da agenda lotada dos convidados. "O problema é a data. Somos muitos e cada um está em um Estado, alguns trabalham na TV, outros como técnicos, há quem tenha seu próprio negócio, então conciliar as agendas de todos é difícil", afirmou Negrão.
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