Topo

Saída de Rede

Copa Brasil: clubes brasileiros não devem viver só de Superliga

João Batista Junior

30/01/2017 15h38

Casa cheia foi a tônica no Taquaral, nas finais da Copa Brasil (foto: William Lucas/Inovafoto/CBV)

Casa cheia foi a tônica no Taquaral, nas finais da Copa Brasil (foto: William Lucas/Inovafoto/CBV)

A vitória do Rexona-Sesc sobre o Camponesa/Minas, sábado, em Campinas, fechou a edição 2017 da Copa Brasil. Se o torneio tem pontos a melhorar, também é preciso ressaltar aspectos positivos de uma competição que, a rigor, é um apêndice da Superliga, mas que deu sinais de que pode, de fato, crescer.

Curta a página do Saída de Rede no Facebook

PONTOS POSITIVOS

Público
Não dá para não começar a falar da Copa Brasil sem mencionar a ótima presença de público nos dois Final Four. A rigor, a torcida em Campinas só teve um jogo do time de casa para ver (derrota do Brasil Kirin para Taubaté por 3 a 0), mas lotou o ginásio Taquaral nas semifinais e decisão masculina, repetindo a dose no naipe feminino. Esse talvez tenha sido o ponto mais alto de todo o torneio.

1967: O Mundial de Vôlei que a Guerra Fria encurtou

Titulares em quadra
A ideia de que o torneio não vale nada ficou à margem do Taquaral. Os jogos semifinais e finais não serviram de mero laboratório às melhores equipes do país, que preferiram escalar seus atletas titulares em vez de argumentar que o calendário é massacrante.

Um bom exemplo disso é que o Sada Cruzeiro, mesmo com toda a coleção de troféus que possui, encarou o Sesi com seu sexteto titular – o que, diga-se de passagem, tem se visto bem pouco na Superliga, já que a comissão técnica mineira tem usado a fase classificatória da competição para dar rodagem ao elenco.

Outro exemplo é que a Funvic/Taubaté, nas semifinais, escalou Lucarelli diante do Brasil Kirin, ainda que as condições físicas do ponteiro não fossem as melhores. (O reverso da medalha é que o jogador agravou uma lesão no pé e, por conta dela, até desfalcou a equipe no último sábado, contra o Lebes/Gedore/Canoas, pela Superliga).

As verdadeiras mudanças foram as promovidas pelo Vôlei Nestlé diante do Camponesa/Minas: Tandara, com indisposição gástrica, foi poupada, enquanto Paula Borgo ficou na reserva da sérvia Ana Bjelica.

Sada Cruzeiro e Sesi disputaram uma semifinal emocionante (Bruno Miani/Inovafoto/CBV)

Sada Cruzeiro e Sesi disputaram uma semifinal emocionante (Bruno Miani/Inovafoto/CBV)

Competitividade
A Copa Brasil não deixou a desejar em termos de emoção e de competitividade.

Camponesa/Minas e Vôlei Nestlé, no feminino, assim como Sesi e Sada Cruzeiro, entre os homens, disputaram semifinais em que os erros, se cometidos em excesso, foram compensados ralis vibrantes e finais surpreendentes. A Funvic/Taubaté, que fazia uma temporada mediana na Superliga, mostrou que, assim como foi no Campeonato Paulista, é um time que pode se agigantar na hora de decidir. E o Rexona-Sesc, com variações táticas e a eficiência de sempre, atestou outra vez que tem o melhor jogo coletivo do país.

PARA MELHORAR

Estatísticas
É lamentável que a CBV não dê à Copa Brasil a mesma atenção dispensada à Superliga. Num torneio que chamou a atenção do público e que teve transmissão para todo o Brasil pelo SporTV e também na TV aberta, com a TV Brasil, a entidade máxima do voleibol nacional não disponibilizou informações estatísticas que subsidiassem análise das equipes nem dos atletas nos fundamentos.

Fabiana diz que Zé Roberto insiste, mas ela garante que não volta à seleção

Estrutura
Essa não deveria entrar na conta da Copa Brasil, mas, como foi numa partida válida pelo torneio, a queixa deve aparecer aqui mesmo: mais uma vez ficou evidente a precariedade das praças esportivas do país – nsse caso específico, do Rio de Janeiro.

Goteira no Tijuca atrapalhou partida entre Rexona-Sesc e Fluminense (Mailson Santana/Fluminense F.C.)

Goteira no Tijuca atrapalhou partida entre Rexona-Sesc e Fluminense (Mailson Santana/Fluminense F.C.)

Se, na Superliga, a umidade no ginásio Hebraica fez um jogo entre Fluminense e Dentil/Praia Clube mudar de horário e de local, na Copa Brasil, foi a vez de uma goteira no Tijuca roubar a cena.

Rexona-Sesc e Fluminense já haviam disputado o primeiro set, pelas quartas de final da Copa Brasil, quando o teto do ginásio apresentou uma goteira inestancável. O jogo foi interrompido e só prosseguiu no dia seguinte, o que soa bizarro para uma cidade que há seis meses sediou uma Olimpíada e tem vários ginásios de primeira linha sem utilização.

Participantes
Se um torneio de partidas eliminatórias agrada ao público, não seria uma boa ideia expandir a Copa Brasil na temporada que vem? Que tal desatrelá-la da Superliga, já que atualmente a classificação do turno é que indica os participantes do torneio, e ampliar o número de equipes?

Além das 12 equipes de cada naipe da Superliga, há nove clubes na Superliga B masculina e sete na feminina. Uma Copa Brasil mais abrangente, com todos os participantes das divisões nacionais, daria a equipes de orçamento mais baixo a oportunidade de enfrentar um time de peso, o que poderia, até, atrair mais investimento para esses clubes.

Imagine, por exemplo, um Alfa/Montecristo/Teuto ou um Jaó/Universo, ambos de Goiás, com a expectativa de receber um time como o Sada Cruzeiro? Qual seria a expectativa e o retorno de público, se Campo Grande, com o Rádio Clube/AVP, recebesse uma equipe com campeões olímpicos, como Wallace e Lucarelli? E como se sairia o Hinode/Barueri, da B, se encarasse uma equipe intermediária da competição principal?

Indo além, se Manaus e Belém têm recebido jogos do campeonato nacional, não seria uma boa também levar jogos da Copa Brasil para cidades onde não há times disputando a Superliga?

A Copa Brasil nunca vai ter a mesma estatura e importância da Superliga, isso é óbvio, mas pode ser mais um vetor para popularizar e desenvolver o voleibol no país.

Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

Blog Saída de Rede