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Memória: cinco jogos inesquecíveis no sessentão Ibirapuera

João Batista Junior

25/01/2017 06h00

Um dos grandes palcos do vôlei brasileiro, o Ibirapuera completa 60 anos (foto: FIVB)

Um dos grandes palcos do vôlei brasileiro, o Ibirapuera completa 60 anos (foto: FIVB)

Se a cidade de São Paulo completa 463 anos nesta quarta-feira, o Ginásio Estadual Geraldo José de Almeida também faz aniversário. Inaugurado em 25 de janeiro de 1957, o Ginásio do Ibirapuera, como é mais conhecido, completa 60 anos, tendo no histórico uma respeitável lista de grandes eventos esportivos. Foi um dos locais de competição dos Jogos Pan-Americanos de 1963, abrigou nada menos que três decisões de mundiais femininos de basquete (1971, 1983 e 2006), foi a sede principal do único campeonato mundial adulto de handebol já disputado no continente americano (o feminino de 2011).

A história do voleibol brasileiro também passa pelo Ibirapuera, e o Saída de Rede relembra cinco grandes jogos disputados no ginásio.

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Isabel foi um dos destaques da seleção brasileira no Mundialito de 1982

Isabel foi um dos destaques da seleção brasileira no Mundialito de 1982

Mundialito de 1982: Brasil vs. Coreia do Sul

Quinto set, a seleção feminina da Coreia do Sul vencia o Brasil por 14-8… Mesmo numa época em que ainda havia a vantagem, ou seja, era preciso ter o saque para marcar um ponto, parecia que a partida, válida pelo Mundialito, estava definida em favor das asiáticas. Numa reação incrível, que levou à loucura os mais de 20 mil torcedores presentes ao ginásio do Ibirapuera, o Brasil marcou oito pontos seguidos, fechou o set em 16-14 e a partida por 3-2, numa atuação memorável da ponteira Isabel Salgado, então com 22 anos.

Era o final de agosto de 1982 e dali a duas semanas teria início o Mundial feminino, no Peru. Como ocorre na preparação para grandes torneios, as seleções faziam seus últimos ajustes antes da principal competição da temporada. Foi no ginásio do Ibirapuera que Brasil, Japão, União Soviética, Coreia do Sul, Argentina e um combinado paulista (substituindo o México) participaram do Mundialito, competição amistosa transmitida pela TV Record, com narração de Luciano do Valle, que catapultou à fama Isabel, Vera Mossa e Jacqueline.

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O Brasil terminou o torneio em segundo lugar, atrás do Japão. Aliás, a vitória sobre a URSS, de virada, por 3-2, foi outro jogo memorável. Pena que no Mundial o time tenha ficado apenas em um modesto oitavo lugar, mas aquelas partidas no Ibirapuera até hoje são lembradas por quem viveu a época.

Nove vezes campeã da Liga Mundial, a seleção brasileira levantou seu primeiro título no Ibirapuera, em 1993 (foto: reprodução/internet)

Nove vezes campeã da Liga Mundial, a seleção brasileira levantou seu primeiro título no Ibirapuera, em 1993 (foto: reprodução/internet)

Liga Mundial de 1993: Brasil vs. Itália

Quando Brasil e Itália se enfrentaram em 1993, no Ibirapuera, pelas semifinais da Liga Mundial, o jogo tinha um interesse incomum para as edições atuais do torneio. Para a seleção brasileira, a partida tinha sabor de revanche, já que a Itália, de Giani, Gardini, Tofoli, Zorzi, Cantagalli, Luchetta, havia sido campeã mundial no Rio, em 1990, eliminando o time verde e amarelo também nas semifinais. Para a Azzurra, do outro lado da rede, o duelo era um tira-teima, pois, em Barcelona 1992, a equipe caíra para a Holanda nas quartas de final e não pôde evitar que o ouro ficasse com a seleção comandada por José Roberto Guimarães.

Quando a bola subiu, na tarde daquela sexta-feira, 30 de julho, prevaleceu o voleibol de quem tinha a torcida a seu favor, de quem só havia perdido um set em dez jogos disputados em casa na competição, de quem desfrutava das combinações de ataque orquestradas pelo levantador Maurício.

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Com um inapelável 3 a 0 (15-11, 15-11, 15-9), o Brasil se credenciou para jogar a final e decretou que o troféu daquela Liga Mundial não iria para a coleção italiana – aliás, entre 1990 e 1995, foi a única edição do torneio não conquistada pela Itália. Na decisão, no dia seguinte, o Brasil emplacou um novo 3 a 0 – dessa vez, sobre a Rússia – e manteve a aura campeã daquele time.

Cuba, de Mireya Luis, frustrou a torcida brasileira no Mundial de 1994 (foto: reprodução/internet)

Cuba, de Mireya Luis, frustrou a torcida brasileira no Mundial de 1994 (foto: reprodução/internet)

Campeonato Mundial feminino de 1994: Brasil vs. Cuba

A década de 1990 mudou radicalmente o patamar da seleção brasileira feminina de vôlei. Quem antes sonhava superar o Peru nas competições continentais passou a frequentar o pódio dos principais torneios mundo afora, com força o bastante para bater potências como EUA, Rússia, Japão e China, e com argumento suficiente para tentar contestar a hegemonia cubana. O ponto chave dessa virada foi em 1994.

Naquele ano, o primeiro sob o comando de Bernardinho, o time de Ana Moser, Márcia Fú, Hilma, Fernanda Venturini se sagrou vencedor do Grand Prix e passou a acreditar que, sim, era possível conquistar, em casa, um título mundial.

Depois de uma campanha invicta e uma semifinal infartante contra a Rússia, o Brasil tinha Cuba pela frente. Mais do que a final do campeonato mundial de 1994, estava em quadra uma rivalidade que marcaria a década.

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As cubanas, como lembrariam mais tarde as jogadoras brasileiras, entraram para aquecer no Ibirapuera com bobes no cabelo, dando a impressão de que a partida era apenas um compromisso a mais antes da festa. E, no jogo, foi exatamente o que aconteceu.

Um tanto nervoso pela final inédita, um tanto cansado pelos cinco sets disputados na véspera, o time da casa não ofereceu resistência à equipe de Carvajal, Mireya Luis, Regla Torres. O público paulistano viu Cuba aplicar um sonoro 3 a 0 (15-2, 15-10, 15-5) e levantar o título sem perder um set, sequer, em todo o campeonato.

Natália: 28 pontos pelo Osasco, na final da Superliga 2009/10 (divulgação)

Natália: 28 pontos pelo Osasco, na final da Superliga 2009/10 (divulgação)

Superliga feminina 2009/2010 – Sollys/Osasco vs. Unilever

A final da Superliga em jogo único foi Instituída na temporada 2007/2008, mas só em 2010 o Ibirapuera recebeu a primeira decisão nesses moldes. O jogo era um óbvio Sollys/Osasco vs. Unilever. Àquela altura, era a sexta final consecutiva entre as duas equipes e as cariocas buscavam o quinto título seguido.

Depois de uma apertada vitória na primeira parcial, as osasquenses viram as visitantes virarem para 2 a 1. Contudo, depois de um começo meio devagar, Natália, que jogava de oposta no clube e ponteira na seleção, levou um (célebre) cartão amarelo na reta final do terceiro set e, subitamente, cresceu no jogo e mudou o rumo da final.

Jaqueline acabou eleita a melhor jogadora da partida, mas os 28 pontos assinalados por Natália, na vitória do Osasco sacramentada em 3 a 2 (25-23, 18-25, 19-25, 25-13, 15-12), se tornaram uma marca ainda não igualada nas decisões de Superliga feminina que se seguiram.

Unilever comemora título nacional da temporada 2012/13 (Alexandre Arruda/CBV)

Unilever comemora título nacional da temporada 2012/13 (Alexandre Arruda/CBV)

Superliga feminina 2012/2013 – Unilever vs. Sollys/Osasco

Havia dois bons motivos para que a nona final consecutiva de Superliga feminina entre Unilever e Sollys/Osasco tivesse gosto de revanche para as cariocas. Não bastasse a partida final da temporada 2012/2013 ser no mesmo Ibirapuera da decisão de três anos antes, as osasquenses haviam sido campeãs, em 2012, com um acachapante 3 a 0 dentro do Maracanãzinho!

Na manhã daquele domingo, 7 de abril de 2013, parecia que as atletas da Unilver haviam perdido a hora. O time visitante demorou para acordar no jogo e quando deu por si, o placar marcava 2 a 0 para as paulistas. Contudo, com a canadense Sarah Pavan na saída de rede, Natália na entrada e Fofão no levantamento, a equipe dirigida pelo técnico Bernardinho tinha meios para reverter a situação e assim o fez.

A Unilever venceu por 3 sets a 2 (22-25, 19-25, 25-20, 25-15, 15-9) e levantou o troféu da Superliga pela oitava vez.

Depois desse jogo, o time do Rio de Janeiro permaneceu assíduo frequentador das decisões nacionais e venceu todas elas, ao passo que a equipe de Osasco só chegou à partida final uma vez – em 2015 (o Sesi foi o vice-campeão em 2014 e o Praia, em 2016). E desde então, o Ibirapuera não recebeu nenhuma outra final de Superliga feminina ou masculina.

Colaborou Sidrônio Henrique

Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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