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Saída de Rede

Avanços e polêmicas de Ary Graça à frente da FIVB

João Batista Junior

08/10/2016 14h00

Na presidência da FIVB desde 2012, Ary Graça ficará até 2024 (fotos: FIVB)

Na presidência da FIVB desde 2012, Ary Graça ficará até 2024 (fotos: FIVB)

Candidato único à presidência da Federação Internacional de Vôlei (FIVB), a reeleição de Ary Graça foi sacramentada na última quarta-feira, em Buenos Aires. Sem surpresa, o dirigente brasileiro foi aclamado por seus pares e permanecerá à frente da entidade. Como já havia conseguido aumentar de quatro para oito anos o período do mandato, o ex-presidente da CBV, que comanda o voleibol mundial desde 2012, ficará no cargo até 2024.

A revisão de jogadas por vídeo já foi utilizada nos mundiais masculino e feminino de 2014

Recurso do auxílio de vídeo na revisão de jogadas: um grande avanço

Tecnologia e expansão
Entre os aspectos positivos dos primeiros quatro anos do brasileiro à frente da federação, o voleibol viu a tecnologia chegar às quadras para dirimir dúvidas em relação às decisões da arbitragem. A revisão de vídeo ainda necessita de ajustes, mas hoje é uma ferramenta indispensável a um esporte em que as ações de saque e ataque são cada vez mais velozes e no qual o mais leve desvio da bola no dedo do bloqueador pode definir o destino de uma partida.

Outra ferramenta que se aliou à modalidade nos últimos anos foi a internet. Os sites das competições promovidas pela federação ganharam nova roupagem, melhoraram e aumentaram o material fotográfico de divulgação das partidas, e deram mais um passo no aprimoramento da análise estatística dos jogos – embora o acompanhamento dos números em tempo real ainda esteja aquém das possibilidades do vôlei e das necessidades da cobertura da imprensa (nisso, a Fiba – Federação Internacional de Basquete – é bem superior).

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Além disso, a federação passou a exibir seus torneios ao vivo pela internet. Em 2015, algumas partidas da Liga Mundial, do Grand Prix e da Copa do Mundo foram transmitidas pelo canal da FIVB no Youtube. Neste ano, o recurso se estendeu a todas as partidas dos Pré-Olímpicos internacionais, da Liga e do GP. (Não custa nada lembrar que, no Brasil, houve uma controvérsia em relação aos direitos de transmissão, como nós já falamos no blog).

Foi também nesse período também que os torneios anuais das seleções sofreram inchaço. Em 2012, tanto o Grand Prix quanto a Liga Mundial foram disputados por 16 times. Já em 2016, o número chegou a 28 seleções no GP (serão 32 no ano que vem) e 36 na Liga. O problema do número elevado de equipes e a consequente queda no nível esportivo da disputa foi contornado com a segmentação dos torneios em três divisões.

Circuito mundial de vôlei de praia 2016 teve mais de 40 torneios

Circuito mundial de vôlei de praia 2016 teve mais de 40 torneios

No circuito mundial de vôlei de praia, houve um salto de 11 torneios masculinos e 12 femininos em 2012 para 21 masculinos e 20 femininos na temporada 2016 (que começou em outubro de 2015).

Também houve o acréscimo de um faixa etária às categorias de base, com a inclusão dos mundiais sub-23 em 2013.

Dossiê e denúncias
Mesmo à frente da FIVB desde 2012, Ary Graça só renunciou à presidência da Confederação Brasileira de Vôlei em 2014, pouco depois de a ESPN publicar uma matéria intitulada "Dossiê do Vôlei". Nessa reportagem, o jornalista Lúcio de Castro relatou que a CBV, patrocinada pelo Banco do Brasil, mantinha negócios com empresas cujos sócios eram ex-dirigentes da própria entidade.

Em setembro deste ano, a ESPN publicou uma matéria (veja aqui) afirmando que uma empresa que tem como sócio um genro de Ary Graça, Bruno Beloch, é beneficiária em contratos com a Confederação Sul-Americana de Vôlei (CSV) e a Norceca (da América do Norte, Central e Caribe).

Cheque para o campeão do GP foi um quinto do valor para o vencedor da Liga

Cheque para o campeão do GP foi um quinto do valor para o vencedor da Liga

Polêmicas
Em que pese o voleibol estar experimentando um período de expansão, com a Liga e o GP chegando a mais de 30 participantes, a modalidade ainda se mantém dependente em excesso do dinheiro dos japoneses (o próprio Ary Graça afirmou que é o Japão quem "sustenta" o vôlei). O país é rotineiramente contemplado com torneios de grande porte, sendo Kobe agraciada, na última semana, com a sede do Mundial feminino de Clubes 2017.

A dependência do Japão é tanta que a Copa do Mundo 2019 perderá seu caráter pré-olímpico para que não saia do país. (Bom recordar que o Brasil foi impedido de participar do torneio em ambos os naipes em 2015, sob o pretexto de que o país não precisava disputar vaga para as Olimpíadas do Rio).

Noutra controvérsia, vê-se também que a distorção entre as premiações masculinas e femininas deve diminuir nos próximos anos, mas não acabar: enquanto a Liga Mundial paga um milhão de dólares ao campeão, o Grand Prix rendeu, até este ano, 200 mil dólares à seleção vencedora, com a promessa de aumento para 600 mil no cheque do ano que vem. Outra comparação: o melhor jogador da Liga em 2015 (o francês N'gapeth) recebeu 30 mil dólares contra 15 mil da melhor atleta do GP 2016 (a brasileira Natália).

Ainda em relação aos torneios anuais, notem-se como pontos negativos nesse primeiro mandato de Ary Graça a inclusão da Rússia, rebaixada em 2015, na primeira divisão em 2016, e a ausência de Cuba no GP de 2017: se integrantes do time masculino foram acusados de estupro na passagem pela Finlândia neste ano, por que o país foi excluído dos torneios FIVB do ano que vem e não apenas a equipe masculina? A federação se defende, afirmando que a ausência das cubanas foi pedido dos dirigentes locais, mas a imprensa da ilha fala em represália.

Confusão em pós-jogo no Mundial de 2014 rendeu punições à seleção brasileira

Confusão em pós-jogo no Mundial de 2014 rendeu punições à seleção brasileira

E não é demais mencionar que foi sob a presidência do brasileiro que a FIVB promoveu o emblemático Campeonato Mundial masculino da Polônia 2014. Se o torneio foi um sucesso de público, com o jogo inaugural sendo disputado no Estádio Nacional de Varsóvia para 62 mil pessoas, o certame foi marcado por um polêmico sorteio das chaves para a terceira fase, que deixou três potências do vôlei num grupo (Brasil, Rússia e Polônia) e colocou França, Alemanha e Irã no outro, Além disso, a confusão no final do encontro entre Brasil e Polônia, nessa mesma terceira fase, que rendeu punições posteriores a Bruno, Murilo, Mário Jr. e ao técnico Bernardinho – que declarou à época: "O que a FIVB decide, para mim, não tem nenhum valor. Deles não espero nada positivo."

Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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