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Saída de Rede

Destaque canadense tem interesse na Superliga e quer medalha no Rio

Sidrônio Henrique

20/06/2016 06h00

O ponta Gord Perrin foi o maior pontuador do Pré-Olímpico Mundial disputado no Japão (fotos: FIVB)

Durante anos o oposto Gavin Schmitt foi a principal referência na seleção do Canadá. O veterano continua em alta, mas o time já não depende só dele para seguir adiante. Aposta do técnico Glenn Hoag desde os tempos de juvenil, o ponteiro John Gordon Perrin, 26 anos, 2,01m, é um dos pilares de uma equipe que se classificou para a Rio 2016 exibindo muitas qualidades e que será adversária do Brasil no Maracanãzinho em agosto.

Gord Perrin, que foi o maior pontuador e o segundo ponteiro mais eficiente no ataque no Pré-Olímpico Mundial, não quer fazer figuração na Rio 2016, quer medalha. Estar no grupo da morte, como ele define a chave com a presença de potências como Brasil, Estados Unidos, França e Itália, não assusta esse canadense que preferia o basquete quando adolescente, mas que mudou de ideia e até influenciou sua irmã, Alicia, meio de rede que acabou de disputar a segunda divisão do Grand Prix.

Depois de quatro anos jogando na Turquia e de um na Itália, ele seguirá para a Polônia na próxima temporada, vai jogar pelo Resovia Rzeszow. Mas o Brasil está nos seus planos. "Eu conversei algumas vezes com o Fred Winters sobre a experiência dele na liga brasileira e ele sempre falou coisas positivas. Eu gostaria de um dia jogar em um clube brasileiro", afirma Perrin.

Confira a entrevista que o ponta concedeu ao Saída de Rede:

Saída de Rede – Como foi que o vôlei entrou na sua vida, quando começou a pensar nesse esporte como algo mais sério, a ponto de se tornar um jogador profissional? Sua irmã também joga. Voleibol está no sangue dos Perrin?
Gord Perrin – Sim, minha irmã também joga vôlei, nós crescemos praticando todo tipo de esporte quando crianças. Nossa família não é ligada ao voleibol, foi algo que surgiu por acaso. Na verdade, quando adolescente eu preferia jogar basquete, mas acabei praticando vôlei em um nível mais alto e a minha irmã seguiu os meus passos. Eu diria que passei a ver esse esporte de uma forma mais séria quando entrei para a universidade e fui convocado para a seleção juvenil. Aconteceu tão rápido, fui jogar profissionalmente no exterior.

Na adolescência ele preferia o basquete (Reprodução/Instagram)

Saída de Rede – Você é considerado um ponteiro completo, com muita regularidade. Qual seria sua maior deficiência?
Gord Perrin – Sempre tive orgulho em buscar ser completo, tentar ser bom em todos os aspectos do jogo. Eu vejo como algo de extrema importância no voleibol moderno ser bom em todos os fundamentos. Ainda procuro ser um sacador melhor, então diria que essa é a minha maior fraqueza. Também tenho trabalhado muito para melhorar minha defesa, quero estar entre os melhores nesse fundamento.

Saída de Rede – Falta de patrocínio, pouca atenção da mídia, baixa exposição no sistema escolar e nas universidades… Há muitos fatores interligados provocando a baixa popularidade dessa modalidade no Canadá. O que mais falta ao voleibol no país?
Gord Perrin – Aqui os esportes mais populares são aqueles que envolvem contato, como hóquei, futebol canadense (variação do americano), depois vem o basquete. Acho que é muito para o fã de esportes em geral acompanhar tantas modalidades. Nós passamos a receber mais apoio nos últimos cinco anos a partir do momento em que melhoramos nossos resultados. Espero que continuemos a crescer e que o vôlei conquiste mais espaço aqui no Canadá.

Perrin tenta salvar uma bola enquanto se desvencilha de Gavin Schmitt

Saída de Rede – Qual foi o peso das derrotas sobre a equipe, desde a tentativa de se classificar para Londres 2012 e outras pelo caminho, até chegar a essa classificação para a Rio 2016? Como você sentiu aquela derrota para Cuba, em janeiro deste ano, quando os canadenses eram favoritos para a vaga na Olimpíada do Rio?
Gord Perrin – Perder daquele jeito em Edmonton (no Pré-Olímpico continental) foi, de longe, a derrota mais dolorosa da minha carreira. Nós tínhamos expectativas tão altas, jogávamos em casa, com um ginásio cheio de fãs nos apoiando… Eu acho que sentimos a pressão e alguns jogadores não conseguiram jogar soltos.

Saída de Rede – Você acredita que, de algum modo, a derrota em Edmonton teve seu lado positivo, pois vocês foram forçados a treinar logo após a temporada de clubes para conseguir a vaga olímpica no qualificatório mundial, tiveram que se superar depois de um fracasso?
Gord Perrin – Sim, foi o caminho mais difícil, mas aprendemos muita coisa sobre nós mesmos enquanto equipe, fortaleceu o nosso caráter e no final provamos que deveríamos estar nas Olimpíadas.

Saída de Rede – A seleção canadense de vôlei masculino volta aos Jogos Olímpicos depois de 24 anos. Como a imprensa repercutiu a classificação e como isso foi recebido pelos fãs? Você acredita que há alguma chance do voleibol se tornar mais popular no país por causa da presença de vocês na Rio 2016?
Gord Perrin – Os fãs canadenses de vôlei estão muito animados com os nossos resultados e pela chance de ver a seleção numa Olimpíada. Sem dúvida, eu acho que aqueles que não conhecem bem ou não curtem o voleibol aqui no país vão acabar nos vendo nos Jogos Olímpicos e isso pode influenciar positivamente. É um evento gigantesco e todo mundo adora acompanhar, independentemente da modalidade. Acredito que estar nas Olimpíadas vai atrair muita gente no Canadá para esse esporte.

Saída de Rede – Como vocês se sentiram tendo que aguardar o resultado da partida entre Polônia e Austrália após terem derrotado a China na última rodada do Pré-Olímpico para a confirmação da vaga? E como se sentiram ao ver a seleção polonesa entrando em quadra com um time reserva?
Gord Perrin – Foi o momento de maior estresse da minha vida… Estávamos tão nervosos antes do jogo deles começar. A Polônia é uma equipe muito forte, os substitutos são tão bons quanto os titulares, mas você nunca sabe como vai se comportar um time que já está classificado. Mas assim que a partida começou, nós ficamos aliviados ao ver os poloneses jogando em alto nível, vencendo como deveriam.

Saída de Rede – Muito ansioso diante da proximidade da Olimpíada?
Gord Perrin – Voltamos nossa atenção para alcançar a melhor forma quando chegar a hora de competir no Rio de Janeiro. Nossa meta é chegar às semifinais e disputar uma medalha. É um objetivo ambicioso, muito difícil, mas estaremos prontos quando chegar a hora.

O ponta está na seleção principal desde os tempos de juvenil

Saída de Rede – O Canadá esteve muito perto de surpreender a Polônia e quase derrotou o Irã no Pré-Olímpico Mundial, perdeu essas duas partidas no quinto set. Ao longo desse ciclo, a seleção canadense mostrou que pode jogar de igual para igual com potências como Rússia, Brasil e Estados Unidos. Porém, também teve momentos ruins, apresentou muitos altos e baixos, mais do que o aceitável para um time que quer ascender à elite. Como você explica essas oscilações?
Gord Perrin – Uma das principais razões foram as lesões. Nós não temos um substituto à altura na saída de rede para o Gavin Schmitt, e ele esteve ausente na maior parte do tempo em duas temporadas por causa de contusões sérias, teve de encarar mais de uma cirurgia. Mesmo assim tivemos momentos em que mostramos que podemos jogar em alto nível, alguns jogadores mais jovens se desenvolveram ao longo do ciclo. Esses últimos anos foram importantes para o crescimento do nosso jogo, para apresentarmos um voleibol mais completo. Agora que o Gavin voltou e está em forma, somos uma equipe muito perigosa.

Saída de Rede – Vocês estão na segunda divisão da Liga Mundial, enfrentando alguns adversários cujo nível é baixo. Como isso pode afetar o ritmo da equipe com tão pouco tempo até a Rio 2016?
Gord Perrin – Alguns jogadores ganharam folga depois de emendar a temporada de clubes com o qualificatório no Japão. No começo da Liga Mundial algumas formações serão testadas e na sequência (esta semana) o time estará completo para três partidas em casa (a seleção canadense enfrentará Coreia do Sul, China e Portugal na cidade de Saskatoon). Vamos usar esses jogos e os demais para fazer alguns ajustes.

Saída de Rede – O Canadá caiu na mesma chave de Brasil, Estados Unidos, França e Itália, além do México. Como você avalia as chances de avançar às quartas de final, uma vez que disse que pensam em medalha?
Gord Perrin – Caímos no grupo da morte. Esses quatro primeiros times que você citou são da elite do esporte e certamente serão quatro jogos muito difíceis. No entanto, acreditamos que temos o necessário para desafiar qualquer equipe do mundo, vamos ao Rio para apresentar o nosso melhor voleibol e aí veremos se será o suficiente para passar da primeira fase. Nossa meta é mesmo disputar uma medalha.

Seleção canadense comemora vitória no Pré-Olímpico

Saída de Rede – O técnico Glenn Hoag te convocou para a seleção A quando você ainda era um juvenil, no final da década passada. Você demonstrava ter técnica e muito potencial, mas faltava potência no ataque. Como você resolveu esse problema? E o quanto Glenn foi importante no seu desenvolvimento como atleta? Pois além da seleção você treinou sob o comando dele por quatro anos no Arkas Izmir, da Turquia.
Gord Perrin – É verdade, quando eu cheguei ao time principal eu tinha um problema com a falta de potência, com meu condicionamento físico. Eu trabalhei esses aspectos durante um ano no nosso centro de treinamento (na cidade de Gatineau) para me tornar mais forte e ter a forma apropriada para jogar em alto nível. Quando eu fui para a liga turca, sob o comando do Glenn, ele me ajudou ainda mais a desenvolver minhas habilidades, além de me ensinar muito sobre o jogo. Trabalhei duro para melhorar meu ataque e vi a evolução a cada ano, tive boas temporadas com o Arkas Izmir, pude disputar a Liga dos Campeões da Europa e vencer a liga turca duas vezes.

Saída de Rede – Jogar na liga italiana, pelo Piacenza, acrescentou muito ao seu jogo?
Gord Perrin – Jogar na Itália foi muito importante para mim. A liga turca não é tão forte, tem poucos times bons. Já na Itália toda semana você disputa uma partida de alto nível, com saques e ataques muito fortes na maioria das equipes. Tive a chance de jogar ao lado de jogadores muito experientes e pude aprender com eles.

Saída de Rede – Na próxima temporada você vai para o Resovia Rzeszow, um dos clubes mais fortes da Polônia. O que você espera daquela liga?
Gord Perrin – Desde que disputei minha primeira partida na Polônia tem sido um sonho meu jogar na liga deles, a PlusLiga. A paixão que eles têm pelo voleibol, os fãs, são coisas que você não vê na maioria dos países. O Resovia é um dos times mais fortes do mundo e eu vou para lá para ajudar a brigar por títulos.

Perrin passando durante a Copa do Mundo 2015

Saída de Rede – Nós tivemos dois canadenses na Superliga, Fred Winters e Gavin Schmitt. Ainda que o Gavin não tenha ficado sequer uma temporada com o clube, por causa de seus problemas físicos na época, o Fred se adaptou facilmente ao estilo do voleibol brasileiro e ficou aqui por dois anos. Já considerou a possibilidade de jogar no Brasil? Que referências você tem dos fãs brasileiros?
Gord Perrin – Eu conversei algumas vezes com o Fred sobre a experiência dele na liga brasileira e ele sempre falou coisas positivas. Na minha primeira Liga Mundial nós estivemos no Brasil (na cidade paulista de São Bernardo do Campo), jogando diante de um ginásio cheio, foi incrível. Eu gostaria de um dia jogar em um clube brasileiro.

Saída de Rede – Você imagina como será enfrentar o Brasil numa Olimpíada, com torcida contra, em um ginásio lotado?
Gord Perrin – Enfrentar o Brasil nos Jogos Olímpicos, em pleno Rio de Janeiro, certamente será uma experiência que jamais vou esquecer. Eu estou muito animado para ir ao Brasil para a Olimpíada e acredito que o torneio de voleibol masculino será fantástico.

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Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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