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Jovem talento da seleção brasileira desabafa após ser vítima de preconceito

Carolina Canossa

24/05/2017 16h46

Drussyla postou uma foto antiga com os pais para ressaltar o orgulho de suas origens (Foto: Reprodução/Facebook)

As ótimas atuações na reta final da Superliga feminina de vôlei renderam não só a titularidade do Rexona-Sesc no Mundial de clubes, mas também uma convocação para a seleção brasileira adulta à ponteira Drussyla Costa. Porém, a despeito do excelente momento profissional, a jogadora de 20 anos teve que lidar recentemente com uma situação bastante incômoda: o preconceito.

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Filha de uma família humilde que migrou para o Rio de Janeiro em busca de melhores condições de vida, Drussyla ainda não teve a chance de completar os estudos. Foi o suficiente para um internauta que se identificou como Carlos Magno Schulz escrever um post no grupo "Total Vôlei", no Facebook: "As #DruFans estão nervosas, aceitem que ela não tem ensino médio se não se matar de jogar não trabalha nem de doméstica".

Internauta foi expulso de grupo sobre vôlei após destilar preconceito contra a atleta (Foto: Reprodução/Facebook)

Apesar de este ter sido o comentário mais agressivo, outros internautas também criticaram a falta de escolaridade de Drussyla e outras atletas brasileiras, em alguns casos comparando-as com as americanas, que normalmente ganham bolsas de estudo em universidades para jogar vôlei. A polêmica chegou até a atleta, que usou as redes sociais para se defender:

Sou negra, nordestina, criada na favela e sem o segundo grau completo! Antes de tudo, agradeço a Deus pela minha família e pela vida que Ele me deu. De onde eles vieram, do que eles fizeram aqui no Rio pra gente construir nossa primeira casa, pela educação, força de vontade, e principalmente CORAGEM! Lembro da minha primeira joelheira (parecia um travesseiro de tão gorda que era), o primeiro tênis caro que meu pai me deu (parcelado em 10x sem juros, rs), meu primeiro roxo no braço, primeira cochilada na escola por conta dos treinos, da subida da ladeira do morro onde eu morava (que tinha que subir de qualquer jeito senão ia dormir na rua) e assim vai… pra ir atrás dos meus sonhos e do que Deus tem guardado pra mim, tive que abrir mão de muitas coisas que hoje eu sinto saudade. E com muito esforço meu, da minha família, dos meus técnicos de base e amigos, estou realizando meus sonhos aos poucos com muita perseverança, porque sempre tive fé de que um dia ia jogar uma Superliga, um campeonato internacional e conseguir uma convocação pra seleção brasileira adulta. Oro a

Deus pra que Ele nunca tire essas lembranças e ensinamentos do meu coração, pra que não cresça orgulho e que eu seja a cada dia mais dependente dele porque sem Ele não sou nada! E pra finalizar, ressaltar pra nunca desistirem dos seus sonhos independente do que você faça terem fé, coragem e perseverança, pq vamos sempre colher o que nos plantamos"

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Em pleno ano de 2017 é incrível que as pessoas ainda usem este tipo de situação social para expor seu lado mais feio e mesquinho. De fato, a escolaridade média dos atletas de vôlei no Brasil é mais baixa que em muitos países pelo mundo, mas ao invés de pressionar para que a nossa formação esportiva seja semelhante àquela dos Estados Unidos, gente de baixo nível prefere fazer troça com a falta de oportunidade alheia. Ainda temos muito a evoluir.

Nos últimos anos, ponteira se destacou nas seleções de base (Foto: FIVB)

Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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