Pré-Olímpicos: quem mostra força e quem está devendo rumo a Tóquio?
Janaína Faustino
05/08/2019 06h00
Classificada, seleção brasileira precisa evoluir nesta reta final de ciclo olímpico (Fotos: Divulgação/FIVB)
As seis seleções classificadas para Tóquio-2020 foram definidas nos torneios qualificatórios realizados em várias cidades do mundo na última semana. Sérvia, China, EUA, Brasil, Rússia e Itália se juntaram ao Japão (país-sede). As cinco vagas restantes para a competição serão disputadas nas repescagens continentais que acontecem em janeiro.
Assim, o Saída de Rede resolveu fazer uma análise das equipes, destacando, pela ordem dos grupos, quem teve mais dificuldades e quem mostrou estar em um estágio mais avançado de preparação para a briga por medalhas.
SÉRVIA
A seleção principal da Sérvia atuou pela primeira vez este ano no torneio Pré-Olímpico. De olho em Tóquio, o técnico Zoran Terzic deixou suas principais jogadoras de fora da Liga das Nações, o primeiro torneio da temporada, terminando na décima terceira colocação. Logo, já contando com a espetacular oposta Tijana Boskovic, a ótima levantadora Maja Ognjenovic, a potente Brankica Mihajlovic e outras titulares, a equipe dos Bálcãs, atual campeã mundial e vice olímpica, assegurou a vaga pela quarta vez consecutiva jogando na chave A, na cidade polonesa de Wroclaw, contra Porto Rico, Tailândia e as donas da casa, para quem perdeu o único set do torneio.
A falta de ritmo apontada por algumas atletas após a conquista acabou driblada pela performance novamente contundente especialmente de Boskovic, que fez 75 pontos nos três duelos. Uma das forças do vôlei mundial na atualidade, o time certamente chegará aos Jogos em plenas condições de levar mais uma medalha para casa.
CHINA
Terceira colocada na Liga das Nações, a atual campeã olímpica China disputou o quadrangular classificatório em seus domínios, na cidade de Ningbo, deixando escapar apenas um set contra a seleção alemã. Sob o comando da treinadora Lang Ping, o time garantiu a presença em Tóquio atropelando a República Tcheca e a perigosa Turquia, de Giovanni Guidetti, por 3 a 0.
Para tanto, contou com o retorno e a eficiência da estrela Ting Zhu, a promissora Yingying Li e a regular Xiangyu Gong, entre outras. Com o resultado, as asiáticas provaram que estão no páreo para a conquista do quarto ouro – o segundo consecutivo – em Jogos Olímpicos.
ESTADOS UNIDOS
Bastante competitivas em nível mundial, americanas ainda lutam para ganhar a primeira medalha de ouro olímpica
Bicampeãs da Liga das Nações e campeãs no Mundial de 2014, as norte-americanas nunca ganharam um ouro olímpico (somam três medalhas de prata e duas de bronze). O terceiro lugar conquistado recentemente na Rio-2016, no entanto, serve de estímulo para uma seleção que tem na atualidade um dos elencos mais fartos (e fortes) do mundo. Tão farto que o técnico Karch Kiraly vem utilizando desde o início da temporada peças distintas com o objetivo de dar rodagem e experiência às atletas mais jovens, entre elas, a central Dana Rettke e a oposta Jordan Thompson, ainda universitárias.
Neste Pré-Olímpico disputado em casa, no estado da Louisiana, contudo, sua seleção passou grande sufoco diante da Bulgária, derrotada somente na quinta parcial. As americanas chegaram a estar perdendo por 2 sets a 1 mas conseguiram a virada. Por outro lado, derrotou com facilidade em sets diretos a Argentina e o Cazaquistão. Entretanto, apesar da dificuldade contra as europeias, com nomes de peso como as ponteiras Jordan Larson, Kelsey Robinson e Kimberly Hill, entre outras, os EUA prometem entrar na briga direta pelo ouro em Tóquio.
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BRASIL
Depois de apresentar um desempenho inconstante ao longo da Liga das Nações – competição em que conquistou a medalha de prata de maneira surpreendente com um grupo mesclado –, a expectativa era que a seleção brasileira mostrasse evolução no torneio Pré-Olímpico.
Contudo, o que se viu foi uma equipe repleta de jogadoras abaixo da forma física ideal – entre elas, a ponta Natália, a meio de rede Carol e a oposta Tandara – e que ainda demonstra espantosa incapacidade para manter o padrão tático do jogo durante as partidas. Uma equipe que já iniciou a temporada de forma tumultuada com diversos pedidos de dispensa ao técnico José Roberto Guimarães, e que, mesmo nesta reta final do ciclo olímpico, ainda parece depender do retorno de veteranas.
A fragilidade diante do Azerbaijão e da República Dominicana – contra quem a seleção precisou suar para garantir a vaga "na marra", evitando um vexame internacional – indica que ainda há muito trabalho pela frente em busca do tricampeonato olímpico ou, pelo menos, de um lugar no pódio em Tóquio, onde o sarrafo estará em patamar bem mais elevado.
RÚSSIA
Ausente do pódio nos torneios internacionais mais recentes, a tradicional Rússia chegará a Tóquio buscando recuperar seu prestígio. A última vez que faturou um título foi no longínquo 2010, quando bateu a seleção brasileira em cinco sets na decisão do Campeonato Mundial. Depois disto, ainda garantiu o vice-campeonato no antigo Grand Prix de 2015. De lá para cá, o time acumula eliminações e frustrações.
Mais bem sucedida equipe em toda a história do vôlei feminino (contando com as conquistas como União Soviética), a Rússia também vem sofrendo para se sustentar no pódio muito em função de um padrão de jogo mais lento e focado nas bolas altas, que se difere do modelo atual.
Para se classificar neste Pré-Olímpico, portanto, o treinador Vadim Pankov contou com o poder de fogo de atletas mais novas, como a talentosa ponteira Irina Voronkova, e reintegrou titulares que não vinham atuando pela seleção, entre elas a oposta Nataliya Goncharova e a levantadora Evgeniya Startseva.
Deu certo: em casa, a equipe passou com tranquilidade por México e Canadá, e bateu a Coreia do Sul (do técnico Stefano Lavarini, ex-Itambé Minas) de virada por 3 a 2, revertendo uma vantagem de 2 sets do rival. Assim, vejamos se o imprevisível selecionado russo será capaz de interromper o longo jejum, beliscando uma medalha.
ITÁLIA
Sexta colocada na Liga das Nações e atual vice-campeã mundial, a jovem seleção italiana, uma das equipes de maior potencial a ser desenvolvido no cenário internacional, carimbou o passaporte em casa, na cidade de Catania, no grupo F. Em uma demonstração de força, bateu Quênia, Bélgica e Holanda sem perder nenhum set. Paola Egonu, um dos maiores fenômenos da atualidade, colocou 60 bolas no chão nos três confrontos. Curiosamente, apesar de ser uma das mais tradicionais escolas do vôlei mundial, a Azzurra ainda persegue a sua primeira medalha olímpica.
Além disso, o último título de nível mundial das italianas foi a Copa do Mundo de 2011, algo que inegavelmente reflete a acertada opção da Federação local pelo investimento nas categorias de base, resultando em uma ausência em pódios durante um tempo. Com um time cheio de novos e promissores talentos oriundos do Club Italia, entretanto, a Azzurra tem condições de quebrar esta escrita no ano que vem.
Sobre a autora
Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.
Sobre o blog
O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.