Lei muda, mas CBV dá jeito de manter atletas do vôlei sem poder
Por Demétrio Vecchioli, do Blog Olhar Olímpico
Em assembleia realizada em hotel de frente para o mar em Natal (RN) no sábado (23), a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) alterou seu estatuto para cumprir o que manda (ou vai mandar) a lei no que diz respeito à participação dos atletas nos colégios eleitorais. Mas o fez de modo a não tirar o poder da mão de quem sempre esteve no poder: as federações estaduais. Tudo na base do jeitinho brasileiro.
Diferente de grande parte das demais confederações olímpicas brasileiras, a CBV deu ampla participação à classe dos atletas apenas na assembleia geral eleitoral, conhecida pela sigla AGE, que se reúne a cada quatro anos para escolher o presidente. Nas demais discussões, como aprovação de contas, votação de orçamento e alteração de estatuto, responsabilidades da assembleia ordinária (AGO), os atletas continuam com pouco espaço. São dois representantes da comissão de vôlei de praia e outros dois da comissão de vôlei de quadra, contra 27 votos de federações e dois de clubes.
Pela lei 13.756/2018, sancionada no fim do ano passado, a partir de maio os estatutos das confederações precisam ser alterados para que os atletas tenham direito a 1/3 dos votos nos colégios eleitorais. Em outras modalidades, a solução foi a óbvia: votam 14 representantes da comissão de atletas e 27 federações. Na prática, isso significa que, unidos, os atletas precisam do apoio de sete estados para terem maioria na eleição. O vôlei encontrou uma fórmula mágica. As 27 federações votam com peso seis, assim como quatro representantes da comissão. Além deles, também votam 54 atletas indicados pelas Comissões Estaduais de Atletas, cada um com peso um, e oito medalhistas olímpicos, também com peso um.
O modelo tem tudo para dar errado. A começar pelo fato de os atletas representarem seu estado, em eleições organizadas pelas federações estaduais. Uma fórmula que tende a perpetuar a concentração de poder na mão dos cartolas que comandam essas federações e que, principalmente fora dos grandes centros, têm muito mais ascendência sobre esses representantes dos atletas do que teria a comissão de atletas.
Além disso, o modelo é custoso. Hoje, participam da assembleia um total de 33 pessoas. A CBV paga viagem e hospedagem a todas elas até o local da eleição. Pelas novas regras, esse número mais do que triplicaria, para 102 pessoas. A CBV diz que uma comissão vai estudar um novo regimento para a assembleia, que vai decidir se o financiamento será mantido – vale lembrar que, passada a Olimpíada de 2016, a entidade teve uma redução em suas receitas com a queda de 17% no valor do patrocínio pago pelo Banco do Brasil.
Caso não seja, é de se esperar que seja maior a ausência de atletas representantes de estados mais distantes dos grandes centros, a maioria deles amadores. Quanto menos atletas aparecerem para votar, melhor para os presidentes de federações, sempre presentes em eventos assim. E, como a história não esconde, pior para o vôlei brasileiro.
Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.
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