Aos 45, Márcio Araújo resiste à aposentadoria e segue jogando em alto nível
Após a aposentadoria anunciada em 2016, Márcio Araújo, medalhista de prata na Olimpíada de Pequim, em 2008, ao lado do capixaba Fábio Luiz, deixou o amor pelo esporte falar mais alto e resolveu retornar às arenas no semestre passado. E, aos 45 anos de idade, o atleta segue desafiando o tempo, jogando vôlei de praia em alto nível.
Em entrevista ao Saída de Rede, o jogador, campeão mundial em 2005, falou sobre os desafios de sua nova rotina fora das arenas – que incluem a dedicação ao Instituto Cuca, que ele mantém na sua cidade natal Fortaleza (CE) –, a dedicação para se manter competitivo e as mudanças no vôlei de praia.
Atualmente disputando o Circuito Brasileiro em parceria com o jovem e também cearense Allison, Márcio Araújo conta que sua principal motivação para permanecer na estrada, mesmo depois de tanto tempo, é a paixão pelo vôlei.
"Para mim, como atleta, o mais importante é você fazer o que gosta. Hoje eu estou conseguindo conciliar o meu trabalho com as competições e está cada vez melhor. (…) Tenho muito amor pelo que faço e então procuro sempre dar o meu melhor nos treinamentos e em tudo para chegar bem nas competições. Gosto muito de treinar e tenho prazer em fazer isso. Acho que é o que me motiva a competir", destaca Márcio que, em mais de vinte anos de carreira, chegou a acumular mais de 1.500 vitórias e foi campeão do circuito nacional em três oportunidades (2000, 2005 e 2013/2014).
Além disso, ele explica que a condição física privilegiada também o beneficia. "Uma vantagem que tenho – e isso tem que ser considerado – é que eu não costumo me lesionar. Sou atleta desde criança e não tenho lesões. Isso facilita para que a gente possa jogar em alto nível sem dor. Porque o maior adversário do atleta é a dor, são as contusões. Como não tenho nenhum tipo de problema crônico, isso ajuda", acrescenta, colocando que herdou a boa condição física do pai e que sempre teve cuidados com o corpo, o que também colabora para a sua longevidade no esporte.
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Apesar da rotina de viagens, Márcio menciona que o fato de estar disputando apenas o Circuito Brasileiro acaba sendo menos estafante, além de fazer com que ele consiga se dedicar à família e aos trabalhos fora das quadras. Por isso, a Olimpíada e o Mundial, onde ele se sagrou vice-campeão cinco vezes, estão fora dos planos.
"Mundial e Olimpíada requerem dedicação plena e exclusiva. E eu não estou com idade para disputar vaga na Olimpíada nem com parceria para isso. Então acho que minha missão eu cumpri. Acredito que consegui incentivar muita gente, inspirar novos atletas. Esse é o nosso papel. Depois que passa dessa fase, a gente se torna inspirador de outras pessoas", explica, deixando claro que seu maior foco, hoje, é no Instituto Cuca, entidade que implementa projetos comunitários na capital cearense.
"Eu presido o Instituto Cuca, da prefeitura de Fortaleza. É um centro esportivo, cultural e educacional voltado para crianças e jovens de 15 a 29 anos. Trabalhamos com cultura, ciência, tecnologia, esporte e educação. O esporte é maior porque trabalho com várias modalidades. A juventude é tudo, né? Tenho vôlei de praia, voleibol de quadra. Estou sempre em contato com os atletas, às vezes bato bola com eles. É muito gratificante esse trabalho", diz, orgulhoso.
O medalhista olímpico ressalta que, mesmo com os projetos fora da praia, não tem planos para parar de atuar por enquanto. Márcio explica que, ao voltar da aposentadoria, precisou se readaptar ao ritmo das competições e teve que aprender a conciliar os jogos com suas demais atividades.
"Em 2016, no Mundial, eu resolvi encerrar a minha carreira na etapa de Fortaleza. Depois de dois anos, senti vontade de voltar, conversei com a minha esposa e retornei. Decidi que só vou parar de jogar quando eu perceber que não dá mais. Não tem mais essa questão de idade, eu e o [campeão olímpico] Ricardo estamos aí, jogando bem, ganhando campeonato… Mas como eu voltei no semestre passado, estou retomando a rotina de viagens, treinamentos, arenas. E como eu também sou professor, trabalho à noite, durante o dia e treino de manhã cedo. O resto do dia eu me dedico ao meu trabalho. Então, eu tenho que me adaptar à minha nova condição de vida e rotina para continuar jogando", conta o jogador ganhador de inúmeros prêmios individuais tanto no Circuito Mundial quanto no Brasileiro.
Experiente, Márcio Araújo percebe que o vôlei de praia passa por mudanças desde a época em que começou. Segundo ele, a força vem se sobrepondo à técnica, e este é processo que se dá em nível mundial.
"Nos últimos anos, a força tem superado mais a técnica no vôlei de praia. Eu vejo poucos atletas que são habilidosos. Não que não sejam habilidosos como eram antigamente. São também, mas atletas como o Bruno Schmidt e o Álvaro Filho são jogadores mais baixos, mas que superam na técnica. Já esses jogadores como o Alisson e o Evandro são atletas bem mais altos de muita força, vigor físico", observa.
"Com isso, o voleibol de praia tem mudado. Isso é algo natural. Há dez anos o vôlei era um e hoje é outro. Alemães, russos, poloneses, italianos, americanos e holandeses têm crescido muito não só em estatura, mas também em força física. E o Brasil tem entrado nesse ritmo de atletas altos, fortes fisicamente. Tanto que o Alisson joga com o André Stein hoje e é uma dupla de sucesso também. Acho que essa é a tendência: o esporte ganhar mais vigor físico e altura", conclui.
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