Cinco erros que culminaram no fracasso do Brasil no Mundial feminino
Dois ouros olímpicos, três medalhas em Mundiais e nove títulos do Grand Prix, entre outras conquistas: é inegável o sucesso do técnico José Roberto Guimarães à frente da seleção brasileira feminina de vôlei. Porém, pela primeira vez desde que ele assumiu o cargo, em julho de 2003, a equipe termina uma temporada sem subir ao pódio em algum dos torneios que disputou. Depois das quartas colocações na Liga das Nações e no Montreux, o Brasil sofreu sua maior queda no ano ao ser precocemente eliminado na segunda fase do Campeonato Mundial, torneio em que terminou na sétima posição.
Mas o que aconteceu para, depois de tantos anos de sucesso, a seleção feminina viver um 2018 tão abaixo do nível que vinha apresentando até então? O Saída de Rede aponta alguns fatores:
Recepção
Foi o grande problema do time ao longo de toda a temporada. Por mais que a comissão técnica tenha testado diferentes formações na linha de passe, nenhuma delas conseguiu dar tranquilidade para as levantadoras executarem seu trabalho. Não foram raros os erros na hora de receber o saque que, quando não acabavam em ace, prejudicavam toda a dinâmica de ataque da equipe. Perdeu-se assim uma das qualidades históricas do time, a velocidade, fator que tradicionalmente compensou o fato de as brasileiras serem um pouco mais baixas que os principais rivais.
Ataque com dificuldades
Sem poder desfrutar de todas as opções de ataque por estarem tentando consertar os problemas do passe, Roberta e Dani Lins acabaram concentrando as principais jogadas ofensivas em dois nomes: Tandara e Gabi. As estatísticas do Mundial mostram que ambas, de uma maneira geral, até executaram bem a virada de boa (48% e 45,9% de aproveitamento, respectivamente). O problema é que, nos momentos decisivos, os adversários sabiam para quem iriam as bolas, marcando-as muito bem. Pouco a pouco, isso minou a confiança delas e não houve ninguém que desafogasse a seleção.
Questões físicas
Um fato curioso marcou boa parte da reta final da participação da seleção feminina no Mundial: quatro campeãs olímpicas (Adenízia, Dani Lins, Natália e Thaisa) estavam no banco de reservas. Não tratava-se, porém, de um luxo, mas sim do resultado de questões físicas que marcaram todo o elenco em 2018: enquanto Natália só foi confirmada no Mundial no último momento devido a uma lesão crônica no joelho que a impediu de saltar até pouco antes da estreia, Thaisa ainda não conseguiu voltar ao seu nível normal depois de duas lesões seríssimas no joelho e no tornozelo, que a deixaram dez meses parada. Dani, por sua vez, não atuou na última temporada de clubes devido à gravidez de sua primeira filha, nascida no fim de fevereiro. Como se não bastasse, Gabi (joelho), Bia (ombro), Tandara (ombro) e Fernanda Garay (costas) tiveram problemas físicos ao longo dos últimos meses. Faça as contas e você chegará a metade do elenco fora das condições físicas ideais em um torneio altamente exigente como o Mundial.
Defesa
Se o bloqueio foi uma das poucas boas notícias do Brasil no Mundial, o mesmo não se pode dizer da defesa, que teve muitas dificuldades para manter a bola em jogo e proporcionar contra-ataques. Nas estatísticas do fundamento no Mundial, apenas a líbero Suelen aparece entre as 25 primeiras colocadas, na nona posição – a presença dela ali, porém, é esperada, dada a natureza de sua posição. A sensação era que o time estava um segundo mais lento do que o normal neste aspecto e, mesmo quando tocava a bola, não mantinha o controle necessário dela para seguir a jogada.
Falta de concentração
Essa foi a grande marca da seleção no Mundial, exposta, por ordem cronológica na 1) virada sofrida diante da mediana Alemanha depois de ter quatro match points, 2) no set perdido contra o semiamador México, 3) na derrota no terceiro set do jogo contra a Holanda depois de ter 8 a 1 e 23 a 20 no placar e 4) no primeiro set contra o Japão, onde, mesmo ciente de que o 3 a 0 era o único resultado que interessava, o time tomou uma sequência de 1-8, que fez com que um tranquilo 22-17 virasse um fatal 23-25. Não bastassem os "apagões", em muitos desses momentos Zé Roberto demorou demais para parar o jogo na tentativa de recuperar a concentração das jogadoras.
Fica claro assim que a eliminação precoce da seleção feminina no Mundial do Japão foi merecida. Resta agora à CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) e à comissão técnica juntar os cacos, de olho não só na segunda metade do ciclo olímpico, mas no futuro do vôlei brasileiro, que não consegue mais renovar suas peças como antes. Isso fica explícito na falta de uma reserva à altura de Tandara e no fato de não ter havido comoção pela ausência de qualquer jogadora na convocação, ainda que muitas atletas que foram à Ásia estivessem longe de suas melhores condições físicas ideal. O sinal amarelo está aceso e é preciso agir rápido para que a fraca campanha no Mundial de 2018 seja um ponto fora da curva em uma trajetória de tantas vitórias.
A terceira fase do Mundial feminino de vôlei começa neste domingo (14), com as seis seleções restantes divididas em dois grupos de três da seguinte forma: Itália, Japão e Sérvia de um lado e Estados Unidos, Holanda e China do outro. Os times de cada chave jogam entre si e os dois melhores se classificam para as semifinais. Clique aqui e confira a tabela de jogos.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.