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De Cecco cita Ricardinho, William e afirma: “Aprendi com os melhores”

Sidrônio Henrique

21/02/2018 06h00

Luciano De Cecco: ascensão rápida na seleção e carreira consolidada na liga italiana (foto: FIVB)

O pai, treinador de basquete, sonhava em ver o filho seguir caminho em seu esporte. Desde menino, Luciano De Cecco passava horas num clube em Santa Fé, cidade onde nasceu, 500 quilômetros ao norte de Buenos Aires. O voleibol dividia espaço com o basquete, a ginástica e a natação. A presença paterna o inibia, até que aos 15 anos decidiu: queria mesmo ser jogador de vôlei.

A ascensão foi rápida. Dois meses antes de completar 18 anos já estava na seleção adulta da Argentina e naquela mesma temporada, 2006, disputava o primeiro de três Mundiais. Esteve em duas Olimpíadas, um de seus maiores orgulhos, e já faz algum tempo que ele, um dos astros do time italiano Perugia, é saudado como um dos melhores levantadores do mundo. Acumula prêmios individuais na seleção e no clube, mas mantém o foco no coletivo.

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Na época de infantojuvenil, chegou a jogar brevemente como central, apesar da pouca altura para a posição. Tentou também a entrada de rede, mas voltou para onde havia começado. O garoto tinha mesmo que ser levantador. Não demorou a ser considerado um virtuose – em um país que havia revelado craques da posição como Waldo Kantor e Javier Weber.

"Eu cresci vendo vídeos do Lloy Ball, tive a chance de jogar contra o Ricardinho, tive o Javier Weber como treinador, fui colega de time e treinei com o William Arjona, então posso dizer que aprendi com os melhores", afirma De Cecco em entrevista ao Saída de Rede.

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Aos 29 anos, capitão na seleção e no clube, De Cecco ressalta a maturidade. "Aprendi a me adaptar para alterar o meu jogo dependendo dos companheiros que tenho e do que a equipe precisa", comenta o levantador de 1,94m.

O atleta está na sua nona temporada na Itália, a sétima consecutiva, tendo jogado também na Rússia, além do seu próprio país. No Perugia, onde atua desde 2014 e tem contrato até 2020, brilha numa constelação que inclui ainda nomes como o oposto sérvio Aleksandar Atanasijevic, o ponta/oposto italiano Ivan Zaytsev e o ponta americano Aaron Russell. O levantador já teve propostas para jogar no Brasil, mas não se interessou, sequer quis saber quais eram os clubes.

Confira a entrevista que Luciano De Cecco concedeu ao SdR:

Agachado (camisa 15), aos 18 anos, no Campeonato Mundial 2006 (FIVB)

Saída de Rede – Você começou a jogar pela seleção adulta quando ainda tinha 17 anos. Hoje, perto dos 30, o que mudou em sua maneira de jogar? Como foi seu amadurecimento?
Luciano De Cecco –
Poxa, é muito tempo no vôlei… Passei por muitas coisas boas, outras ruins, mas sempre tive como meta jogar em alto nível. Eu mudei radicalmente minha maneira de jogar, minha forma de pensar não apenas dentro de quadra, mas até fora dela. Tudo isso para ser mais do que um simples levantador e oferecer algo mais aos times em que jogo. O foco é sempre o coletivo.

Saída de Rede – Quem era sua referência na posição quando decidiu que seria levantador? Algum ídolo na Argentina ou no exterior? Há alguém na função atualmente que você admire?
Luciano De Cecco –
Eu cresci vendo vídeos do (americano) Lloy Ball, tive a chance de jogar contra o Ricardinho, tive o Javier Weber como treinador, fui colega de time e treinei com o William Arjona (no Bolívar), então posso dizer que aprendi com os melhores. Cada levantador tem seu estilo, sua marca registrada e isso faz de cada um deles especial.

O levantador comemora o segundo título da Coppa Italia: ganhou o torneio 2013/2014 no Piacenza e a edição 2017/2018 pelo Perugia (foto: Lega Pallavolo Serie A)

Saída de Rede – Como você avalia o seu jogo? O que de melhor tem a oferecer à Albiceleste e ao Perugia? E quais seriam suas principais deficiências?
Luciano De Cecco –
Com as mudanças que tive na minha maneira de atuar ao longo do tempo, aprendi a me adaptar para alterar o meu jogo dependendo dos companheiros que tenho e do que a equipe precisa. Isso me ajudou a me tornar mais forte mentalmente também. Dois fundamentos em que melhorei bastante foram o saque e a defesa. Não sou muito bom no bloqueio, mas também não sou um buraco (risos). Posso melhorar mais nesse aspecto. Agora, deficiências… Tenho que melhorar minhas decisões táticas em determinados momentos da partida.

Saída de Rede – A seleção argentina já mostrou que é capaz de jogar de igual para igual com qualquer equipe do mundo. No Mundial 2014, eliminou os Estados Unidos. Na Rio 2016, foi a primeira do grupo e fez uma excelente partida contra o Brasil nas quartas de final. Em 2017, derrotou o Brasil na Liga Mundial. Embora, em todos esses momentos, não lidasse com a pressão de ser a favorita. Teve também momentos ruins, como na semifinal do Sul-Americano 2017, quando perdeu para uma frágil Venezuela. Como você explica essas oscilações?
Luciano De Cecco –
Todas as equipes vão vivendo situações distintas, momentos que dependem às vezes de pequenos ajustes, além do estado de ânimo dos atletas. A Argentina é uma seleção que para jogar bem precisa de todos os seus jogadores no melhor nível possível, precisa estar muito bem treinada para poder brigar com as principais equipes. Sim, em 2017 fomos de uma vitória sobre os brasileiros na Liga Mundial a uma derrota para os venezuelanos no Sul-Americano. Esse tipo de coisa, essa oscilação pode acontecer naquelas temporadas imediatamente após um ano olímpico, quando as equipes passam por mudanças ou sentem a ausência de um ou outro jogador. Mas mesmo nesses momentos ruins seguimos lutando para que a equipe saia com uma vitória, não esmorecemos.

"Não sou muito bom no bloqueio, mas também não sou um buraco" (FIVB)

Saída de Rede – O que falta para a Argentina avançar à elite mundial? Do que a equipe sente mais falta: um bloqueio mais ofensivo ou um atacante de definição na saída de rede?
Luciano De Cecco –
Olha, vou te dizer que precisamos de mais defesa, embora já sejamos bons nesse fundamento. Nosso bloqueio, embora não seja tão ofensivo, amortece, vai tocando na bola. No ataque nunca fomos fisicamente muito fortes, mas compensamos com bastante técnica. Então eu gostaria de mais defesa, ampliando o tempo dos ralis, nos dando uma chance a mais de marcar.

Saída de Rede – Durante quatro temporadas você esteve acima do peso, sendo alvo constante de comentários por causa disso. De alguma forma isso te afetou?
Luciano De Cecco –
Não, não… Digo isso de verdade. Eu me sentia bem com meu corpo. Obviamente, eu sabia que precisava melhorar meu físico, sou um atleta. Porém, aquilo era reflexo de alguns problemas particulares que tive. Com o tempo e com a ajuda de algumas pessoas, eu consegui mudar e hoje estou em plena forma física.

Com os pais e a irmã no Maracanãzinho durante a Rio 2016 (FIVB)

Saída de Rede – Mesmo tendo há alguns anos vários jogadores de renome, o Perugia ainda não conquistou o scudetto (título da liga italiana). Como o time lida com essa pressão?
Luciano De Cecco –
Ganhamos duas copas (Supercoppa e Coppa Italia) muito importantes esta temporada, somos uma equipe competitiva, estamos prontos para brigar com qualquer um. Eu espero realmente poder conquistar o scudetto ou até mesmo a Champions League algum dia com o Perugia.

Saída de Rede – Quais os momentos mais importantes da sua carreira, nos clubes e na seleção?
Luciano De Cecco –
Até agora, disputar duas Olimpíadas e três Mundiais representando a Argentina foi a melhor coisa que já me aconteceu. Nos clubes, ganhar títulos, disputar finais, o que sempre quis alcançar.

O levantador em ação na liga italiana pelo Perugia (Lega Pallavolo Serie A)

Saída de Rede – Seu contrato com o Perugia vai até 2020 e você tem muito prestígio no mercado italiano. Ainda assim, não cogita atuar depois fora da Itália?
Luciano De Cecco – Sempre estive muito bem desde que vim para a Itália e não tenho planos de sair daqui.

Saída de Rede – Você já recebeu proposta de algum clube brasileiro nos últimos anos?
Luciano De Cecco – Sim, já recebi algumas propostas do Brasil (por meio de agentes), mas nunca cheguei a avaliar.

Saída de Rede – Que clubes brasileiros te fizeram propostas?
Luciano De Cecco Como não tinha intenção de deixar a Itália, nem perguntei que times estavam interessados em mim.

Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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