Sada Cruzeiro no Mundial 2017: o que deu errado?
A única notícia boa que o torcedor do Sada Cruzeiro teve nesta semana foi de que, graças à derrota do Sesc para o Sesi, na noite do sábado, a equipe chegou à metade da fase classificatória da Superliga 2017/2018 na liderança da competição. Pois nem mesmo a medalha de bronze conquistada no domingo, com o 3-0 aplicado sobre o PGE Skra Belchatow, em Cracóvia (Polônia), serviu para amenizar a má impressão deixada pelo time no Campeonato Mundial masculino de Clubes 2017.
Há que se ressaltar que existem elementos para entender que esse campeonato foi bem diferente daqueles conquistados pelo time nos últimos anos. Os jogos em Betim (MG) traziam a torcida para junto da equipe, fato reconhecido pelo próprio técnico Marcelo Mendez, e o ginásio era, por si só, um fator de desequilíbrio, já que os times sempre reclamavam do calor – um incômodo extra para os estrangeiros.
Além disso, observando os cinco últimos mundiais de clubes contando com este, o Sada Cruzeiro sempre levantou seus títulos no mês de outubro (2013, 2015, 2016), num período em que os times – inclusive a própria equipe mineira, a bem da verdade – ainda buscam o melhor condicionamento físico para a temporada, estão com o pé mais na academia do que na quadra.
Ressalte-se que, além deste torneio na Polônia, disputado no meio da temporada de clubes, outro troféu que não foi para a coleção cruzeirense foi o de 2014, no Mineirinho, que ocorreu no mês de maio daquele ano, ou seja, depois dos campeonatos nacionais.
Contudo, não é a perda do título mundial o que incomoda, mas sim, o voleibol tão aquém daquele que elevou o time celeste ao status de multicampeão. Para entender o porquê, elencamos três fatores.
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Bloqueio pouco efetivo
Claro que jogando contra equipes de grande poderio ofensivo, como Zenit Kazan ou Lube Civitanova, é difícil imaginar que um sexteto pouco afeito a enfrentá-las obtenha um número alto de pontos de bloqueio – melhor, muitas vezes, é esperar que os bloqueadores amorteçam os ataques para que a defesa tenha chance de manter a bola longe do solo. Contudo, chama a atenção o baixo número de pontos anotados pelo time nesse quesito.
Em cinco jogos, todos decididos em sets diretos, o Sada Cruzeiro marcou 17 pontos, o que dá a média de 1,13 anotações por set no fundamento. Para se ter ideia de o quão baixo é esse número, basta dizer que o Civitanova, no 3-2 contra o Zaksa, obteve 14 pontos nesse quesito, e que o Zenit, em três parciais, chegou a 12 anotações do bloqueio contra o Personal Bolívar.
Entre os dois centrais cruzeirenses, Simón, que entrou para a seleção do campeonato, marcou seis pontos de bloqueio em toda a competição, e Isac, quinto melhor bloqueador da Superliga (média de 0,73 pts/set no nacional), fez apenas um ponto nesse fundamento em todo o mundial.
Problemas nas bolas altas
De uma forma geral, o aproveitamento dos dois principais atacantes do Sada Cruzeiro foi bom. Com 57,4% de acertos nas cortadas, o oposto Evandro foi o quarto melhor atacante do torneio nas estatísticas da FIVB e o ponteiro Leal, com 56,6%, o quinto.
Porém, é necessário ressaltar que Evandro, nas semifinais, e Leal, tanto na semifinal quanto na estreia, tiveram rendimento muito abaixo do que costumam ter.
Evandro, que completa 36 anos de idade no próximo dia 27, se viu bem marcado pelo Zenit Kazan, rodou apenas sete das 18 bolas que recebeu e saiu do jogo no decorrer do terceiro set.
Já o ponteiro Leal, principal nome da Superliga nos últimos anos, teve dificuldade para se desvencilhar da marcação adversária nas partidas ante os finalistas do campeonato. Contra o Civitanova, time que não tem bloqueadores tão agressivos, mas tem um fundo de quadra bastante eficiente, recebeu 16 bolas e pôs apenas sete no chão. Já contra a equipe russa, de bloqueio mais pesado, foram 11 pontos de ataque em 25 tentativas.
Olhando as opções no banco – o oposto Alemão, de 27 anos de idade, mas pouca experiência internacional, e o ponta Rodriguinho, de 21, ainda uma promessa –, é difícil imaginar que o técnico Marcelo Mendez tenha entre os reservas atacantes à altura de seus dois principais definidores.
Mudança no levantamento
Um olhar menos aguçado dirá que em relação ao time titular que conquistou o mundial do ano passado, APENAS uma peça do Sada Cruzeiro foi modificada. A questão é que essa mudança específica é crucial: por mais qualidade que o argentino Nicolás Uriarte possua, é difícil que o torcedor do time mineiro vá preferi-lo a William Arjona, que marcou época no clube e se transferiu para o Sesi nesta temporada.
Esse câmbio na armação de jogadas, além de tudo, exige um tempo para adaptação da equipe, que talvez não tenha sido ainda suficiente. Nota-se que Uriarte, com o passe na mão, busca jogar bastante com o meio de rede, mas, sem a bola de primeiro tempo, tem tido alguma dificuldade para levantar na medida para os atacantes das extremidades, e isso pode ajudar a explicar o rendimento de Evandro e Leal nas partidas de maior relevo.
O time cruzeirense só volta à Superliga no mês que vem, dia 13, quando recebe o Sesc-RJ, em Contagem, pela segunda rodada do returno. O duelo deverá valer a liderança da competição nacional. É um jogo importante para quem pretende mostrar que superou os reveses sofridos no Mundial e quer manter inabalada a confiança do torcedor em mais um título brasileiro.
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