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No clima do Halloween, relembre oito pesadelos do voleibol brasileiro

Carolina Canossa

31/10/2017 06h00

    (Foto: Reprodução Pinterest)

Trauma, angústia, aflição… apesar de sua rica e vitoriosa história, o voleibol brasileiro também acumula momentos perturbantes. No clima do Halloween, celebrado neste 31 de outubro, o Saída de Rede decidiu relembrar alguns dos maiores pesadelos que já afetaram aqueles que vivem o esporte por aqui. Pra você, qual teve o maior impacto?

24 a 19

Parecia que finalmente chegaríamos lá. Em 26 de agosto de 2004, a seleção brasileira feminina de vôlei esteve mais perto do que nunca da primeira final olímpica de sua história. O placar do ginásio da Paz e da Amizade, em Atenas, marcava 24 a 19 no quarto set para a equipe de amarelo, que liderava o duelo contra a Rússia por 2 a 1. Foi então que aquilo que parecia impossível aconteceu: após desperdiçar seis match points, o Brasil tomou a virada por 28-26. No tie-break, mais uma chance desperdiçada e a virada consolidada. "É difícil explicar o inexplicável", resumiu o técnico José Roberto Guimarães, ainda na beira da quadra.

Com 37 pontos na semi de Atenas, Mari ainda foi culpada por parte da torcida e imprensa

Cubanas nos anos 90

Se a seleção feminina chegou à Grécia sem nunca ter jogado uma final olímpica, a culpa é delas, as cubanas. Ainda que contasse com uma incrível geração comandada por Ana Moser, Fernanda Venturini e Marcia Fu nos anos 90, o time verde-amarelo foi duas vezes impedido de tentar a glória máxima do esporte por Cuba, país que ostentava um time ainda mais incrível protagonizado por nomes como Mireya Luis, Regla Torres e Magaly Carvajal. Além de jogar muito e também nos atropelar na final do Mundial de 1994 em pleno ginásio do Ibirapuera, as caribenhas não economizavam provocações. Enfrentá-las era um verdadeiro terror.

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Gamova nas finais do Mundial

As cubanas não são as únicas "vilãs" do voleibol brasileiro. Do alto de seus 2,02 m, Ekaterina Gamova foi outra que causou inúmeros calafrios na torcida brasileira e é diretamente responsável pela seleção ainda não ostentar um Mundial no currículo. Marcou respectivamente 28 e 35 pontos nas finais das edições de 2006 e 2010 do torneio, ambas encerradas em 3 sets a 2. Para temperar a rivalidade, a russa sempre deixou claro que não é exatamente fã do Brasil, pelo contrário. Ao menos nesse caso, porém, a vingança não demorou a vir: em 2012, a seleção salvou seis match points nas quartas de final dos Jogos de Londres em um duelo épico, que fez Gamova literalmente ir chorando para o vestiário.

Dmitriy Muserskiy

Muserskiy destruiu a defesa brasileira após virar oposto (Foto: AFP)

Derrotas traumáticas não são, nem de longe, um privilégio da seleção feminina no Brasil. Na decisão de Londres 2012, o gigante Dmitriy Muserskiy fez 31 pontos e foi o destaque da vitória da Rússia sobre o time nacional masculino, que chegou a estar vencendo por 2 sets a 0, com direito a dois match points no terceiro set. Méritos também para o técnico Vladimir Alenko, que mudou o rumo da partida ao deslocar o atleta de 2,18 m da posição de central para de oposto, desestruturando a seleção brasileira – Muserskiy até já havia jogado assim no Campeonato Russo, mas uma mudança deste tamanho em um jogo tão importante parecia improvável.

Clayton Stanley

A perda do ouro no vôlei masculino em Londres 2012 foi especialmente dolorida porque, quatro anos antes, o Brasil também havia tomado uma virada na final da Olimpíada de Pequim. À época, porém, o algoz verde-amarelo atendeu pelo nome de Clayton Stanley: dono de um saque aberto e potente, extremamente difícil de ser recepcionado, o oposto americano colocou o time de Bernardinho em enormes dificuldades para executar a virada de bola, a ponto de o técnico ter tentado jogar com quatro passadores em quadra. Mas foi em vão: o oposto titular do time brasileiro, André Nascimento, por exemplo, virou apenas uma das 15 bolas levantadas pra ele na partida inteira. Não bastasse isso, Stanley ainda fez 15 pontos de ataque e três de bloqueio.

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Brasil x China na Rio-2016

Brasileiras lamentam eliminação precoce na Rio 2016 (Foto: Divulgação/FIVB)

Fatos assustadores também acontecem em casa. Depois de uma campanha irretocável na primeira fase da Olimpíada do Rio de Janeiro, a seleção brasileira feminina de vôlei ficou cara a cara contra o forte, mas instável time da China, que passou por diversas dificuldades em seus primeiros jogos no Maracanãzinho. Depois de um 25-15 na primeira parcial, a classificação para as semis parecia questão de tempo, mas a técnica Lang Ping conseguiu arrumar a casa colocando em quadra a levantadora Qiuyue Wei, a ponteira Changning Zhang e a central Ni Yan. Foi a senha para a jovem Ting Zhu brilhar, encerrando o confronto com 28 pontos, um tremendo balde de água fria em um time que sonhava em se igualar às lendárias cubanas dos anos 90 com o tricampeonato olímpico.

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Saída abrupta de patrocinadores

Assim como o Halloween, este pesadelo acontece todo ano: a retirada de patrocinadores dos clubes brasileiros, deixando atletas e outros profissionais do vôlei sob o permanente medo de verem seus empregos desaparecerem de uma hora pra outra. Tal situação não poupa nem as equipes consideradas grandes: em 2008, pouco após a conquista da Olimpíada de Pequim, o Finasa anunciou que não apoiaria mais o time de Osasco, que só não acabou graças ao esforço do técnico Luizomar de Moura, responsável por chegar a um acordo de patrocínio com a Nestlé que dura até hoje. Seis anos depois, o RJ Vôlei (ex-RJX) acabou de vez após seu mecenas, o empresário Eike Batista, afundar financeiramente. Nem mesmo o título da Superliga 2012/2013 evitou situações constrangedoras como salários atrasados e saída de jogadores no meio da última participação do projeto na principal competição de clubes do país. No mesmo ano de 2014, a Amil retirou o patrocínio à equipe feminina de Campinas de forma abrupta, uma semana após Paulo Coco ser anunciado como novo técnico, alegando reposicionamento da estratégia de marketing. O time chegou à semifinal das duas Superligas que participou.

Corrupção na CBV

 

Acusação de corrupção não afetou carreira de Ary Graça na FIVB (Foto: Divulgação/FIVB)

O maior, sem dúvida, dos pesadelos já vividos pelo voleibol brasileiro. Também em 2014, uma brilhante série de reportagens feita pelo jornalista Lucio de Castro, da ESPN, revelou irregularidades em contratos da Confederação Brasileira de Vôlei que somavam R$ 30 milhões, fazendo com que o principal patrocinador da entidade, o Banco do Brasil, suspendesse temporariamente seu apoio. Infelizmente, nenhum dos acusados foi efetivamente punido. Inclusive, o ex-presidente da CBV Ary Graça segue firme e forte como presidente da FIVB (Federação Internacional de Vôlei).

Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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