Fã de Fê Garay, promessa peruana realiza sonho no Vôlei Nestlé
Principal talento peruano desde a geração que encantou o mundo nos anos 1980, a ponta/oposta Ángela Leyva desembarcou no Brasil na semana passada para realizar um velho sonho: disputar a Superliga. Fã da campeã olímpica Fernanda Garay, a atacante peruana de 20 anos, 1,84m, disse ao Saída de Rede que sente "aquele frio na barriga, que não vê a hora de estrear", mas além da ansiedade e da vontade de aprender, está disposta a ajudar o Vôlei Nestlé, seu novo clube, a recuperar um título que o time não ganha desde a temporada 2011/2012. "Sei que as coisas não serão fáceis, mas nada é impossível", afirmou Leyva.
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Conhecida em seu país como Ángel de las alturas (anjo das alturas), apelido criado pelo jornalista argentino Martín De Rose quando ela ainda era infantojuvenil e que rapidamente se espalhou entre os fãs e a imprensa peruana, Leyva mantém os pés no chão quando questionada sobre suas limitações. "Esse período em que estive na seleção com os treinadores brasileiros, o professor Luizomar (de Moura), o Jefferson (Arosti), venho melhorando muito, não apenas na parte técnica, mas também na mental. Tenho muito o que aprender, quero ser completa, não errar muito, não perder oportunidades no ataque".
Talento
Versátil, Leyva joga tanto na entrada quanto na saída de rede, embora com Luizomar tenha sido utilizada somente como ponteira na seleção. Com lacunas no passe, defesa, bloqueio e saque, ela ainda está em formação, algo natural na sua idade. No ataque, porém, Ángela Leyva exibe a segurança de algumas veteranas, com uma variedade de golpes que vão desde pancadas certeiras até jogadas de efeito. Não à toa chamou a atenção de Luizomar de Moura, técnico da seleção peruana e do Vôlei Nestlé.
"É a minha primeira experiência em um clube fora do Peru, estou muito ansiosa, mas creio que tudo vai correr bem", comentou. Veio para Osasco cedida por empréstimo pelo seu clube no Peru, o Universidad San Martín de Porres (USPM). O período de cessão começou a valer nesta sexta-feira (20), quando foi apresentada oficialmente pelo Vôlei Nestlé, até o encerramento da Superliga 2017/2018. Pelas regras da Federação Peruana de Vôlei (FPV), qualquer jogadora só pode assinar contrato com equipes estrangeiras depois de completar 22 anos, mas Luizomar conseguiu que Leyva fosse cedida.
Fã de Garay
Ela tem a ponta brasileira Fernanda Garay como ídolo. "Gosto muito da forma como ela joga, seu estilo de jogo, bastante agressivo, porém maduro. Costumo fazer aquela diagonal curta, como ela, sempre que posso vejo vídeos da Fê Garay jogando". Luizomar de Moura vê semelhanças entre o estilo de Leyva e o de Garay. Embora não tenha sido enfático, indicou que deve utilizar a peruana mesmo como ponteira, ao afirmar durante a apresentação da jogadora que ela está treinando passe e que ataca melhor pela entrada de rede – Osasco já tem duas opostas, Paula Borgo e Lorenne.
A possibilidade de enfrentar seu ídolo e outras campeãs olímpicas, além de jogar ao lado de duas delas, como Tandara e Carol Albuquerque, deixa Ángela Leyva animada. "É uma honra para mim. Essa experiência vai me ajudar muito a seguir crescendo, não apenas como atleta, mas como pessoa também". Como ainda vai se entrosar com sua nova equipe, ela não tem data para estrear, mas Luizomar pretende colocá-la em quadra tão logo seja possível. O Vôlei Nestlé venceu as duas primeiras partidas na Superliga – 3-1 sobre o Hinode Barueri e 3-2 contra o Renata Valinhos/Country – e enfrenta, como visitante, o São Cristóvão Saúde/São Caetano, no dia 31 de outubro, às 20h, pela terceira rodada.
Fama precoce
Leyva conquistou fama em seu país aos 15 anos, quando liderou a seleção peruana que venceu o Sul-Americano infantojuvenil, em Lima, em 2012, diante do Brasil – título que o Peru não ganhava desde 1980. A imprensa peruana fez barulho, acreditando que o fim do jejum de títulos da equipe adulta seria uma questão de tempo. Desde então, a atacante passou a atuar em todas as categorias possíveis, mesmo aumentando o risco de lesões, disputando inúmeros torneios com a camisa do Peru.
Ela jogava basquete na escola, quando, aos 11 anos, foi chamada para tentar o voleibol. "O começo foi muito difícil, eu era descoordenada e queria desistir. Minha mãe me deu muita força para que eu seguisse em frente e só tenho que agradecer a ela pela minha carreira". Acabou influenciando sua irmã mais nova, a ponta Leslie, 18 anos, 1,75m, jogadora da seleção juvenil e que como Ángela tem contrato com o USPM.
Seleção peruana
Ángela Leyva tem o sonho de voltar a ver a seleção peruana como parte da elite mundial. O Peru já teve resultados expressivos no cenário internacional, como uma prata olímpica (Seul 1988) e uma prata e um bronze no Campeonato Mundial (em 1982 e em 1986, respectivamente). Mas isso foi nos anos 1980 e muita água passou por debaixo da ponte. O Peru, que era potência, virou uma seleção sem expressão. Conquistou o último de seus 12 títulos sul-americanos em 1993 – competição disputada na altitude de Cuzco, Peru, e com a seleção brasileira no meio de uma crise entre as atletas e o então técnico Wadson Lima, desfalcada de algumas jogadoras, incluindo sua principal atacante, a ponta Ana Moser.
"Queremos voltar a ser uma grande seleção com uma geração que hoje está em torno dos 20 anos. Não somos melhores do que aquelas dos anos 1980, mas vamos lutando, temos uma responsabilidade muito grande de voltar a se classificar para um Mundial, para os Jogos Olímpicos. Embora os resultados atualmente não sejam bons, temos que ver o lado positivo, a nossa evolução", analisou a ponteira, que completa 21 anos no dia 22 de novembro. A última participação peruana em um Mundial foi em 2010. Nas Olimpíadas, o Peru não compete desde Sydney 2000.
Este mês, jogando em casa, na cidade de Arequipa, a seleção peruana ficou apenas em terceiro lugar entre quatro equipes na disputa por uma vaga para o Campeonato Mundial 2018, atrás da Argentina (classificada) e da Colômbia. Mas Leyva mantém o otimismo. "Ocorreram muitas coisas nesses cinco meses em que estivemos trabalhando com Luizomar e seus assistentes. Tomamos consciência de que podemos ir mais longe, que nosso time pode conseguir algo bom no futuro".
Colaborou Carolina Canossa
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