“Falso canhoto” é a grande promessa do vôlei brasileiro
Ele completa 20 anos nesta sexta-feira (19), mas quem tem muito a comemorar é o voleibol brasileiro. O oposto canhoto Felipe Roque, 2,10m, com alcance de 3,65m no ataque, desponta como uma das maiores promessas do país na modalidade, mesmo ainda juvenil. Ele causou boa impressão entre os adultos ao ser um dos destaques da Superliga 2016/2017. O salto foi considerável: começou a temporada como terceiro oposto no Minas Tênis Clube e no final do primeiro turno já era titular. Aliás, "falso canhoto", que é como ele se define. "Eu faço tudo com a mão direita, também chuto com o pé direito. Só para atacar é que uso o braço esquerdo, sou um falso canhoto. Se eu tentar atacar com a direita, não sai nada, não tenho potência nem coordenação, não sei a razão, comigo sempre foi assim", contou ao Saída de Rede.
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Apesar de ter ficado de fora ou atuado pouco em diversas partidas na fase inicial do torneio, o oposto terminou a Superliga entre os 20 maiores pontuadores, marcando 250 vezes, sendo 212 pontos de ataque. Foi um dos principais destaques do Minas, onde joga desde 2015 e permanecerá na próxima temporada.
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Seu desempenho anima não apenas os técnicos das seleções brasileiras de base, mas o próprio Renan Dal Zotto, treinador da seleção principal. "A gente fica muito feliz em ver o Felipe Roque jogando. É muito importante ter esses atletas jovens em ação, ganhando experiência. Estamos atentos a ele pela Superliga que fez, pela sua juventude, potencial físico", disse Renan ao SdR.
Seleção sub21
Felipe está com a seleção sub21 no Canadá, onde nesta terça-feira (16) começou a disputa da Copa Pan-Americana – o Brasil já derrotou os fracos times de Barbados e da Guatemala por 3-0. A competição, que termina domingo (21), classificará duas equipes para o Campeonato Mundial, de 23 a 31 de junho, na República Tcheca. Na sub21, o atacante segue sob o comando do técnico Nery Tambeiro, que também é seu treinador no clube.
"Esse garoto promete muito. Tem um encaixe muito bom na bola, é todo coordenado. Ainda oscila, precisa ganhar velocidade, mas isso é natural na idade dele. O Felipe é um investimento do Minas, mas temos que ir com calma, ele ainda não suporta a carga de um jogador adulto. No primeiro semestre de 2015 ele se recuperou de uma periostite tibial*, teve esse problema na perna direita, depois veio o tratamento acompanhado por médicos e fisioterapeutas. Tenho certeza que esse menino ainda vai dar muitas alegrias ao voleibol brasileiro", comentou Tambeiro com o blog.
Força de vontade
Giovane Gavio, técnico do Sesc e da seleção sub23, que no ano passado estava à frente da equipe sub21 do Brasil, da qual Felipe fazia parte, endossa os elogios ao jovem oposto. "Se a gente parar para pensar que o Felipe Roque está há duas temporadas despontando, ele evoluiu muito. É um atleta privilegiado na questão física, pois é muito alto e forte, e isso o ajuda muito. Além de ele ser canhoto, o que é uma característica boa para o voleibol por diferenciá-lo da maioria. Mas o que eu destaco nele é a vontade que ele tem. Trabalhamos juntos na seleção no ano passado e ele sempre chega no treino querendo muito e sai querendo fazer mais. Ele tem a atitude certa para chegar lá".
O bicampeão olímpico ressaltou que o jogador do Minas ainda está em evolução, mas o vê como peça importante na renovação que cedo ou tarde deverá ocorrer na seleção principal. "Obviamente ainda há todo um processo, mas isso é muito bom pra gente, pois todas as grandes equipes do vôlei mundial contam com opostos fortes. O Wallace e o Evandro são exemplos de grandes jogadores e, pensando em uma eventual renovação, o Felipe vem em bom tempo", ponderou Gavio em entrevista à Carolina Canossa, do Saída de Rede.
Futsal
O vôlei nem era o esporte favorito de Felipe, mineiro de Juiz de Fora, que preferia o futsal até os 14 anos. Difícil imaginar alguém tão alto driblando os adversários, mas até aquela idade ele tinha apenas 1,80m. "Cresci muito rápido, fui de vez para o vôlei, que eu praticava mais como diversão, e era bem descoordenado. Aos poucos fui me ajustando", relembrou o atacante.
Quando questionado sobre seu futuro na seleção, Felipe Roque pensa com calma. O foco está na seleção sub21, na tentativa de conseguir a vaga para o mundial da categoria este ano e depois lutar por uma medalha na República Tcheca. Há dois anos, no Mundial sub19 disputado na Argentina, fez parte do time que terminou em sexto lugar. Ele enfatiza que precisa evoluir.
Aprendizado
"Tenho que trabalhar muito para melhorar o meu jogo. Eu começo bem na partida, depois vou oscilando, mas tenho que ter paciência para encontrar meu ritmo. Meu bloqueio, que não era bom, vem melhorando graças ao Nery (Tambeiro). Na temporada de clubes, eu era a terceira opção do Minas na saída de rede, depois do Bisset e do Abouba. O Bisset foi pra entrada e eu consegui uma chance na saída e fiz o melhor que pude. Eu tenho pouco tempo no voleibol profissional, pouca experiência para tomar a decisão certa com mais frequência, mas vou aprender", afirmou o ex-jogador de futsal, que apesar de jovem já é fonte de preocupação para os adversários e esperança para o voleibol brasileiro.
*A periostite tibial, também conhecida como canelite ou síndrome do estresse medial tibial, é uma inflamação do periósteo, membrana que reveste os ossos – nesse caso, a tíbia, osso da parte anterior da perna, popularmente chamada de canela.
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