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Estreia da 1ª trans no vôlei brasileiro tem nervosismo, curiosidade e apoio

Carolina Canossa

06/03/2017 12h58

Isabelle recebei todo o apoio dos organizadores e de sua equipe (Foto: Divulgação)

Enquanto a maioria dos atletas de vôlei do Brasil aproveitava o domingo de folga da Superliga, mais um capítulo da história da modalidade estava sendo escrito em um torneio amador em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba.  Era início da tarde quando Isabelle Neris, 25 anos, se tornou a primeira jogadora transexual a atuar em uma torneio feminino no país, defendendo a equipe do Voleiras na Taça Dia Internacional da Mulher.

Sete jogos, o quarto lugar na classificação e muito cansaço depois, a central se disse satisfeita com a experiência. "Foi bem legal, fui muito bem recebida por todo mundo e fiquei muito feliz", comentou Isabelle, em entrevista exclusiva ao Saída de Rede. "Acho que defendi bem meu time", destacou.

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Como não houve um scout oficial, Isabelle reluta quando pedimos para ela falar sobre seus números, mas estima que tenha feito cerca de dez pontos por partida. Mais importante foi o apoio recebido por todos, a começar pela organização que confeccionou camisetas com a hashtag #SomosTodosIsabelle. "Alguns técnicos de outros times ficaram um pouco receosos, mas não tive nenhum problema em relação a preconceito", afirmou.

O fato de o caso de Isabelle ter aparecido na mídia ao longo dos últimos dias atraiu muitos curiosos para o torneio.  Tal atenção se converteu em nervosismo, mas a jogadora diz logo ter se sentido à vontade novamente.

"Muita gente foi lá pra ver se eu realmente eu tenho vantagem em relação a altura, força e desempenho, mas quando  viram que meu nível de competição era igual ao de outras atletas, a grande maioria me aceitou", contou Isabelle, que, com 1,75 m, era a central mais baixa do torneio. "Houve alguns olhares e comentários, mas isso eu já enfrento em todos os lugares e dias, então já estou acostumada", complementou.

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Profissionalismo é sonho distante

Aos 25 anos, Isabelle vê o vôlei como um hobby – o sustento dela, de fato, está no trabalho como cabeleireira. Ainda assim, ela se diz satisfeita com o que vem conquistando no esporte.

"Todo atleta tem o sonho de participar de times profissionais, mas sei que isso é algo distante devido a minha idade avançada para o esporte. Sou pé no chão em relação a isso. O que quero hoje é participar de campeonatos regionais aqui no Paraná ou até em inter estaduais", explicou.

O envolvimento com o esporte começou quando ela tinha dez anos. À época, Isabelle fez parte de um programa social comandado pelo Rexona, do técnico Bernardinho – o time se mudou de Curitiba para o Rio de Janeiro em 2004. Com o pioneirismo, ela espera inspirar outras pessoas que também mudaram de sexo.

"Há uma triste realidade no Brasil: somos o país onde mais se matam mulheres trans. Estamos acostumadas a receber notícias trágicas. É bacana quando uma ou outra destoa desta situação, pois mostramos pra essas meninas que não existe só um caminho pra quem é trans. Somos cidadãs como todos, temos direitos e deveres e devemos correr atrás dos nossos sonhos, independente de qual ele seja", encerrou.

O próximo compromisso de Isabelle deve acontecer entre 20 e 24 de março, na Taça Curitiba. A atleta, porém, ainda precisa acertar detalhes burocráticos com a Federação Paranaense de Vôlei para confirmar sua participação na disputa.

Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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