Turquia atrai jogadoras estrangeiras e vira “eldorado” do vôlei
O Uralochka Ekaterinburg é um dos clubes mais tradicionais do vôlei feminino da Rússia, e sua luta diante do VakifBank, de Lonneke Slöetjes, Kimberly Hill, Milena Rasic e, sobretudo, Ting Zhu, resultou numa derrota em quatro sets. As francesas do St. Raphaël bem que tentaram, mas o Fenerbahçe, com Natália, Nootsara Tomkom e Maret Grothues, nem precisou tirar Kim Yeon Koung do banco de reservas para sair de quadra com uma vitória em sets diretos. O Eczacibasi VitrA, com Thaisa, Rachael Adams, Ognjenovic, Boskovic, Kosheleva e Jordan Larson, também não deu muita esperança de bom resultado ao Dresdner, da Alemanha, e voltou para casa com previsíveis três pontos na conta.
O resumo da estreia das equipes turcas na fase de grupos da Liga dos Campeões feminina da Europa, no mês passado, parece uma releitura da repisada batalha entre Davi e Golias. Nesse conto de vôlei, porém, os gigantes – moldados por contratações e investimentos vultosos – saem vencedores.
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Em meio à crise financeira mundial, que tem fustigado a economia europeia e a brasileira, a Turquia, quando se trata de investir no vôlei, tem remado na direção contrária. Para tomar exemplos recentes, enquanto três clubes brasileiros desistiram de disputar a Superliga nesta temporada (São José e Voleisul, no masculino, Araraquara, no feminino), o Dínamo Krasnodar, da Rússia, perdeu jogadoras por atraso no pagamento de salários no ano retrasado e o Modena, mesmo com status de campeão italiano, quase fechou as portas, o voleibol turco deixou de ser apenas um mercado promissor para ter uma das ligas mais importantes do mundo.
Dentro dessa perspectiva, é justo dizer que o campeonato masculino do país tem crescido e não é exagerado afirmar, sem susto, que a liga feminina, com três supertimes na disputa, seja a melhor das competições nacionais do vôlei atual – ainda mais com a vinda, nesta temporada, de Ting Zhu, Kosheleva, Natália, Thaisa…
ASTROS E TROFÉUS
O processo migratório de craques para o vôlei turco não é exatamente um fenômeno novo. Do início da década passada para cá, nomes como as russas Sokolova e Gamova, a norte-americana Logan Tom e as brasileiras Fofão, Fabiana e, mais recentemente, Sheilla atuaram em algum dos times de peso do país. A diferença agora é o grande número de estrelas da contestação – ou, noutras palavras, a grande quantidade reunida de jogadoras de reconhecida qualidade.
Para não ficar só no exemplo dos clubes mencionados lá no primeiro parágrafo, podemos citar atletas estrangeiras famosas no mundo do vôlei: o Besiktas tem a oposta belga Lise van Hecke, que passou por Osasco na temporada passada, o Sariyer conta com as norte-americanas Nicole Fawcett (campeã mundial com a seleção de seu país em 2014) e a central Alexis Crimes, e o Galatasaray tem a central trinitina Sinead Jack e a oposta italiana Nadia Centoni. Não se pode esquecer, ainda, de que a ponteira cubana Wilma Salas, do Halkbank, e a oposta brasileira Joycinha, do Bursa Sehíd, têm as maiores médias de pontuação da edição 2016/2017 da liga (5,12 pontos por set cada uma).
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Tamanho investimento, como se poderia prever, tem trazido troféus de competições internacionais para as estantes turcas.
Na Liga dos Campeões, desde a temporada 2008/2009, há sempre ao menos um turco no Final Four. Já desde 2009/2010, a Turquia tem sempre um representante na decisão e, nesse período, quatro títulos continentais ficaram com algum clube do país – duas vezes o VakifBank, uma vez o Fenerbahçe e outra o Eczacibasi. No mesmo período, o trio também conquistou quatro títulos mundiais – aí, o bicampeonato é do Eczacibasi.
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Indo além da competição feminina, vê-se que a liga masculina também possui jogadores de relevo, como os brasileiros Lipe (Halkbank), Maurício Borges e João Paulo Bravo (estes, do Arkas Spor). Mas, em geral, num caminho ainda diferente do percorrido no vôlei das mulheres, o campeonato tem posto em quadra jogadores veteranos, como o oposto sérvio Ivan Miljkovic (companheiro de Lipe), o italiano Cristian Savani, o holandês Kay van Dijk e o central norte-americano David Lee (estes, no Ziraat Bankasi), e o oposto recentemente aposentado da seleção francesa Antonin Rouzier – que joga com os compatriotas Nicolas Marechal e Le Goff no Istanbul BBSK.
Quando saem para jogar pela Europa afora, os times masculino não repetem os resultados das equipes femininas. O vice-campeonato continental do Halkbank na temporada 2013/2014, com um time que tinha o ponta ítalo-cubano Osmany Juantorena e o levantador brasileiro Raphael, foi a melhor campanha de um clube do país na Liga dos Campeões. Digna de registro também foi a campanha do Arkas Spor em 2011/2012: com João Paulo Bravo na entrada de rede e o colombiano Agamez na saída, a equipe eliminou o Lokomotiv Novosobirsk e terminou no quarto lugar.
E PARA QUEM É DE CASA?
Com passos mais lentos, as seleções turcas têm tentado acompanhar o crescimento vertiginoso das equipes femininas do campeonato local. Em 2015, por exemplo, a Turquia foi vice-campeã mundial sub-23 tanto no masculino quanto no feminino, ao que, em 2011, as turcas levantaram a taça no sub-18.
Nas seleções adultas, porém, a fonte ainda é bastante escassa. Os homens quase nunca vão a campeonatos mundiais e jamais disputaram uma olimpíada. As mulheres, por outro lado, tem evoluído de fato nos últimos anos, com três participações consecutivas em mundiais, uma medalha de bronze no Grand Prix de 2012 e uma honrosa participação nas Olimpíadas de Londres, quando quase conseguiu eliminar o Brasil na primeira fase do torneio.
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Nesse aspecto, pensando no desenvolvimento das seleções, a antipática medida de proibir os times de utilizarem mais do que três estrangeiras em quadra por vez acaba sendo necessária. Assim, Eczacibasi VitrA, Fenerbahçe e VakifBank só conseguem de fato usar o máximo da força que têm na Liga dos Campeões e se veem obrigados a dar vez a atletas turcas na liga nacional.
Imagine que a oposta Neslihan Demir, 33 anos, maior pontuadora dos mundiais de 2006 e 2010, só tem chance de atuar no Eczacibasi VitrA quando a revelação sérvia Tijana Boskovic é barrada pela matemática do regulamento!
Há, evidentemente, turcas que têm se destacado independentemente da cota de atletas locais. A oposta Polen Uslupehlivan tem sido titular do Fenerbahçe, assim como a central Eda Erdem. O mesmo vale para a levantadora Naz Aydemir e a ponta Gözde Kirdar, no VakifBank. No entanto, num mercado importador como esse, é inegável que as estrelas da festa falam outra língua.
Não se trata de pintar a Turquia como um oásis do esporte e do vôlei ou de dizer que o momento político do país não seja dos mais delicados, já que houve a tentativa de um golpe de estado no ano passado, um recente atrito diplomático com a Rússia e, o pior, frequentes atentados terroristas – o último deles, no primeiro domingo de 2017.
Também não se trata de fechar os olhos para problemas causados pelas torcidas nos ginásios, como a briga transportada do futebol entre torcedores do Fenerbahçe e do Galatasaray, que interrompeu por mais de uma hora uma partida entre as duas equipes nas finais da liga passada, ou as hostilidades sofridas pelas jogadoras do Dínamo Krasnodar, em Istambul, na decisão da Copa CEV, contra o Galatasaray, em março deste ano.
Mas o fato é que, apesar da pouca tradição das seleções turcas, os investimentos no voleibol fizeram do país um novo eldorado da modalidade – ainda mais, no feminino.
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