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Pupilo de Bernardinho, Anderson mira semifinal com o Brasília Vôlei

Sidrônio Henrique

21/12/2016 06h00

Anderson encara primeira temporada como técnico na Superliga (foto: Gaspar Nóbrega/Inovafoto/CBV)

O time, diz ele, foi montado para ficar ali pelo quinto ou sexto lugar. Porém, dependendo dos resultados da última rodada do primeiro turno da Superliga 2016/2017, pode terminar esta fase até em terceiro – já esteve na vice-liderança. Anderson Rodrigues, 42 anos, encara sua primeira temporada como técnico na competição mais importante do vôlei brasileiro à frente do Terracap/BRB/Brasília Vôlei. Depois de quatro anos como assistente no Camponesa/Minas, revezando-se como treinador da seleção brasileira militar feminina, o ex-oposto diz que está "quebrando a cabeça", mas sente que está preparado.

O bom desempenho da equipe, mesmo com algumas oscilações, o leva a pensar no voo mais alto da história de um clube novo, com orçamento bem abaixo dos favoritos, que fez sua estreia na Superliga há quatro anos e que ainda não passou das quartas de final. "Queremos ir o mais longe possível, chegar à semifinal seria muito importante", afirma. O próximo desafio, fechando o primeiro turno, será nesta quarta-feira (21), em casa, às 20 horas (horário de Brasília), diante do São Cristóvão Saúde/São Caetano, décimo colocado entre os doze participantes.

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Consta também no currículo de Anderson a participação na comissão técnica da seleção masculina nas duas últimas temporadas, sob o comando de Bernardinho – o que inclui, claro, o ouro na Rio 2016. "Ele (Bernardo) acompanhava meu trabalho com a seleção militar feminina. Eu quis fazer um estágio com ele, depois ele me convidou para continuar. Trabalhar com o melhor é muito bom. Queria ter ao menos metade da competência dele", comenta sobre o técnico bicampeão olímpico e tri mundial, a quem trata como um mentor. "Fico pensando no quê ele não me influenciou".

O treinador do Brasília Vôlei ficou conhecido na década passada por ter feito parte da geração mais vitoriosa do Brasil – entre suas conquistas como jogador estão um ouro e uma prata olímpicas, dois títulos do Campeonato Mundial e dois da Copa do Mundo. A transição para a função de técnico representou um desafio. "A maior dificuldade que se enfrenta quando se deixa de ser atleta para virar treinador é fazer com que os atletas passem a te enxergar de outra forma, não te vejam como um ex-jogador. Hoje eu acredito que elas me veem como o Anderson técnico, não o jogador".

Confira a entrevista que Anderson Rodrigues concedeu ao SdR:

Saída de Rede – Como avalia sua primeira experiência como técnico na Superliga, depois de ter treinado a seleção militar feminina e de ter sido assistente no Camponesa/Minas?
Anderson Rodrigues – Acho que tive uma boa base como assistente por quatro anos no Minas e também como técnico da seleção militar feminina. Cara, está sendo show… Tô quebrando a cabeça, mas faz parte. Me preparei para isso durante quatro anos.

Saída de Rede – Qual o maior desafio nessa transição da função de assistente para técnico, passando a ter o controle sobre uma equipe?
Anderson Rodrigues – A maior dificuldade que se enfrenta quando se deixa de ser atleta para virar treinador é fazer com que os atletas passem a te enxergar de outra forma, não te vejam como um ex-jogador. Esse é o maior desafio. Hoje eu acredito que elas me veem como o Anderson técnico, não o jogador. O meu trabalho com a seleção militar, como assistente no Minas ajudou nisso.

Brasília pode terminar o turno em terceiro lugar (foto: Ricardo Botelho/Inovafoto/CBV)

Saída de Rede – Qual o seu objetivo com a equipe do Brasília Vôlei?
Anderson Rodrigues – Queremos ir o mais longe possível, chegar à semifinal seria muito importante. Se você for olhar no papel, esse time foi montado para ser quinto ou sexto colocado, mas podemos ficar entre os quatro primeiros. Gostaria muito de manter essa campanha no returno, para, se chegarmos à semifinal, termos um adversário mais acessível.

Saída de Rede – Você pensa em ir além do quarto lugar para não ter, talvez, que cruzar com o Rexona-Sesc numa eventual semifinal?
Anderson Rodrigues – Isso. Mas a semifinal já seria muito difícil, seja lá quem for o adversário. Aliás, acho a tensão que envolve a semifinal, por ser em melhor de cinco jogos, maior do que a final, que é disputada em jogo único, onde entraríamos como franco-atiradores. Se numa final o saque entra bem, temos uma chance… A semifinal é bem mais complicada, temos que manter o nível em alta por mais tempo.

Saída de Rede – O Brasília Vôlei teve uma boa sequência de vitórias, inclusive sobre o Vôlei Nestlé e o Dentil/Praia Clube, mas perdeu para o Rio do Sul no início do torneio e mais recentemente para o Genter Vôlei Bauru. Ainda que o Bauru tenha uma equipe forte e em ascensão, vocês foram mal na partida. O time ainda está oscilando. Qual a maior limitação do Brasília Vôlei?
Anderson Rodrigues – Temos que melhorar na parte física, pois mexemos muito pouco no time, utilizamos quase sempre as mesmas jogadoras. Estamos chegando agora ao final do primeiro turno, mesmo esta Superliga sendo mais espaçada, com intervalos maiores entre as partidas, e estamos sofrendo um pouco na parte física.

Saída de Rede – Você está falando do desgaste das titulares. Mas e as reservas, falta experiência a elas?
Anderson Rodrigues – A maioria é inexperiente. Temos a Mari Helen (ponta), que tem experiência, mas está contundida. A Sabrina (ponta) está se recuperando do ombro, está voltando agora. Essas são jogadoras que vão compor ali, pois as outras são muito jovens.

Anderson orienta o time durante pedido de tempo (foto: Alexandre Loureiro/Inovafoto/CBV)

Saída de Rede – Na saída de rede, a Andreia poderia render mais, na sua avaliação? Qual era a sua expectativa em relação a ela quando montou o time?
Anderson Rodrigues – As pessoas falam muito da Andreia, mas meio que lembrando apenas dos dois últimos jogos. Nos primeiros, lá atrás, que ela pontuou, o que ela fez ficou esquecido. É lógico que hoje em dia num time uma oposta faz muita falta, mas ela está suprindo essa necessidade de outra maneira, com maturidade, ela é uma líder dentro de quadra. A Andreia é uma menina que nos dá muito volume, bloqueio, saca muito bem. Não tem pontuado tanto no ataque, mas tem feito a diferença em outros aspectos.

Saída de Rede – Ela compensaria a pontuação baixa também com poucos erros? Há casos de atacantes com pouca visão de jogo que marcam muito, mas erram bastante também, às vezes deixando a quadra com saldo negativo. Você vê a Andreia como uma jogadora equilibrada?
Anderson Rodrigues – Sim, ela joga numa linha tênue que pra gente é interessante, mas teria que pontuar um pouco mais. Vamos crescer dentro da competição, é uma coisa que vai acontecer.

Saída de Rede – Você considera a Macris uma levantadora arrojada, que arrisca bastante?
Anderson Rodrigues – Arrisca bastante, em certos momentos até demais. (risos)

Saída de Rede – Você é conservador nesse sentido?
Anderson Rodrigues – Em algumas coisas, sim. Não posso ser voltado o tempo todo para o risco. Olha, mesmo em outras situações precisamos ter cuidado.

Saída de Rede – Por exemplo?
Anderson Rodrigues – Bolas altas. Não tenho alguém que defina o tempo todo com bolas altas. Eu tenho a Paula, mas ela não é essa jogadora que define o tempo todo. Se deu algum problema, joga a bola na ponta que ela vai se virar, não é assim… O Rexona fazia isso no ano passado. O Bernardinho colocava o time para arriscar. Acelerava, acelerava… Não deu? Era bolão pra Natália na ponta, ela vinha com tudo. Nós temos que jogar acelerado, mas um jogo bem coeso, fazendo as centrais jogarem mais. Trabalhar a bola com a Andreia na saída. Bola acelerada na ponta com a Amanda e a Paula.

Ao lado de Bernardinho, na seleção (foto: Alexandre Arruda/CBV)

Saída de Rede – A Superliga chegou à última rodada do primeiro turno e só falta vocês enfrentarem o São Caetano. O que você está achando do nível do torneio?
Anderson Rodrigues – Eu acho que os times que, no papel, são candidatos ao título ainda estão errando muito.

Saída de Rede – Você quer dizer os três favoritos: Rexona, Vôlei Nestlé e Praia Clube?
Anderson Rodrigues – Sim, nessa etapa do campeonato eu acreditava que eles estariam um pouco mais distantes na tabela. Pode ser que seja por causa de lesões, não vou entrar nesse mérito porque não vivo o dia a dia deles, mas pelo número de erros que vemos nas sessões de vídeo, ainda erram muito.

Saída de Rede – No caso do Rexona, a equipe chegou a 28 pontos de 30 possíveis. Isso não é muito?
Anderson Rodrigues – Mas ainda continua errando demais. É um time que errava menos.

Saída de Rede – Como é que tem sido trabalhar como um dos assistentes do Bernardinho nesses últimos dois anos? Como foi que ele te chamou para integrar a comissão técnica?
Anderson Rodrigues – Ele acompanhava meu trabalho com a seleção militar feminina. Eu quis fazer um estágio com ele, fiquei lá um tempo, depois ele me convidou para continuar. Cara, trabalhar com o melhor é muito bom, né. Na minha opinião, ele é o melhor.

Saída de Rede – O quanto ele te influenciou na carreira de técnico?
Anderson Rodrigues – Fico pensando no quê ele não me influenciou… Só não quero ser é extremamente nervoso como ele. (risos) Queria ter ao menos metade da competência dele.

Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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