Corrida pelo cargo de técnico da Polônia tem ares de reality show
Dezesseis concorrentes, muita exposição na mídia, intrigas, especulação, torcida, palpites e apenas um prêmio. Não, não é nenhum reality show, mas a corrida pela sucessão de Stéphane Antiga, demitido do cargo de técnico da seleção masculina da Polônia no dia 10 de outubro. Se dependesse da apaixonada torcida polonesa ou da imprensa local, haveria votação para decidir quem fica com o posto. A Federação Polonesa de Vôlei (PZPS) abriu inscrições para quem quisesse se candidatar a vaga aberta com a dispensa de Antiga, que não resistiu ao fiasco na Rio 2016 – a Polônia amargou sua quarta eliminação consecutiva nas quartas de final das Olimpíadas. O resultado será anunciado no final de novembro.
Até agora, 14 dos 16 nomes são conhecidos. Inicialmente, a PZPS revelou quem eram 11 candidatos, mantendo os outros cinco em sigilo a pedido deles. Nos últimos dias, a imprensa polonesa teve acesso a mais três nomes. Não faltam notas plantadas na mídia elevando um ou denegrindo outro, além de discussões acaloradas nas redes sociais. A lista é, digamos, eclética – tem gente talentosa e alguns na base do "vai que cola", como o desempregado Yuri Marichev, aquele que dirigiu a seleção feminina da Rússia no ciclo recém-encerrado e ficou célebre pelos atabalhoados pedidos de desafio em vídeo, além de claramente perder o controle da equipe.
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Todos os nomes revelados têm experiência, a maioria deles italianos, e curiosamente nenhum polonês – o último a dirigir a seleção do país foi Stanislaw Gosciniak, na Olimpíada de Atenas, em 2004. Os 14 nomes revelados que estão concorrendo ao cargo são: Andrea Anastasi, Andrea Gardini, Andrea Giani, Ferdinando De Giorgi, Emanuele Zanini, Daniel Castellani, Radostin Stoychev, Yuri Marichev, Igor Kolakovic, Mauro Berutto, Daniele Bagnoli, Camillo Placi, Lorenzo Bernardi e Slobodan Kovac. Especula-se que os outros dois seriam o argentino Raul Lozano e o italiano Angelo Lorenzetti.
Favorito
Informações de bastidores apontam para o búlgaro Radostin Stoychev como o favorito do presidente da PZPS, Jacek Kasprzyk. Conhecido por seu estilo ortodoxo, Stoychev construiu sua reputação no comando do clube italiano Trentino, onde colecionou títulos – quatro mundiais e três da Liga dos Campeões da Europa. Ele dirigiu a seleção da Bulgária em 2011 e 2012, saindo antes dos Jogos de Londres por se desentender com a federação do seu país. Nos últimos meses, o búlgaro estava de olho mesmo era no cargo de técnico da seleção italiana, um velho sonho, mas viu tudo ir por água abaixo com o inesperado sucesso do novato Gianlorenzo Blengini, vice-campeão olímpico e da Copa do Mundo com a Azzurra. Quem não tem Itália, vai de Polônia… Isso se for ele o ganhador.
Ferdinando De Giorgi, atual campeão polonês com o Zaksa Kedzierzyn Kozle, Andrea Giani, que levou a Eslovênia ao surpreendente vice-campeonato europeu em 2015, e Angelo Lorenzetti, atualmente à frente do Trentino, estão bem cotados. Assim como Stoychev, são respeitados no mercado. Porém, a PZPS gosta de surpreender. Não estranhe se vir como o escolhido algum nome improvável como Igor Kolakovic ou Mauro Berutto, técnicos da Sérvia e da Itália, respectivamente, no ciclo passado.
Tarefa ingrata
Ser técnico da seleção polonesa não é tarefa fácil. A pressão é mais intensa do que comandar, por exemplo, o Brasil, a Rússia ou a Itália. O voleibol é o segundo esporte do país, depois do futebol, mas a popularidade é bem maior do que a vista por aqui. A imprensa faz marcação cerrada. Alguns veículos da mídia polonesa não temem sequer cair no ridículo. Houve quem considerasse que Bernardinho estava na briga – imagine aí o multicampeão enviando currículo para a PZPS, cujo orçamento é bem menor do que o da CBV, disposto a dirigir um time com limitações óbvias. Se você considerar que não há tantos talentos por lá e os resultados não chegam a impressionar, estar à frente da seleção polonesa masculina de vôlei pode virar um tormento. Foi assim com os quatro últimos treinadores.
Gangorra da Superliga tem favoritos em alta e público carioca em baixa
Antiga que o diga… O francês levou a Polônia, em casa, ao título do Mundial 2014. Contou com inúmeras contusões de brasileiros e russos, favoritos à época, além de manobras de bastidores e o providencial empurrão dos apaixonados fãs poloneses. Mesmo com a conquista, ninguém de fora exaltava a Polônia. O time tem problemas na execução do jogo, seu oposto titular, Bartosz Kurek, desaparece da partida nos momentos cruciais, e a equipe não é grande coisa sem seu saque. Naturalmente, não ganharam nada depois do surpreendente Campeonato Mundial, mas as cobranças dos fãs, dos jornalistas e da federação não cessam – ao contrário, é exigida da seleção polonesa uma grandeza que ela definitivamente não tem. A eliminação na Rio 2016 foi o estopim. Stéphane Antiga caiu.
Suelle fala sobre desentendimento no Pinheiros e futuro na carreira
O último treinador a durar um ciclo olímpico inteiro foi o argentino Raul Lozano, de 2005 a 2008, que mesmo assim saiu às turras com a PZPS. Desde então, ninguém ficou além de três temporadas. Não vai ser fácil conduzir a Polônia ao topo. O voleibol masculino atual é mais equilibrado do que na década passada, período em que o Brasil dava as cartas, mas os poloneses estão em clara desvantagem quando se pensa, por exemplo, nos quatro semifinalistas da Rio 2016, ou ainda em outras equipes como a também eliminada França, além de terem em seus calcanhares times como a ascendente Argentina. É bom que o vencedor dessa corrida para o cargo de técnico mantenha seu currículo atualizado, só por precaução.
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