Bronze no Rio, jogadora da seleção paraolímpica vence o próprio preconceito
Atleta promissora na juventude, inclusive com passagens pela seleção brasileira juvenil, Janaína Cunha teve o sonho de ser tornar profissional interrompido aos 18 anos ao ser atropelada por um ônibus. Gravemente ferida, precisou ficar dois meses internada e perdeu força muscular na panturrilha e no quadríceps. Até tentou voltar, mas não conseguiu atuar no mesmo nível de antes e, decepcionada, afastou-se do esporte até 2009. Naquele ano, depois de muita insistência da comissão técnica da seleção, passou a se dedicar ao vôlei sentado. Mal sabia que seria este o caminho rumo à medalha olímpica, conquistada no mês passado, aos 36 anos, em pleno Rio de Janeiro.
De cinco jogos que fez na Paraolimpíada, o Brasil venceu quatro – a única derrota foi na semifinal diante dos Estados Unidos, que se sagrariam campeões. Apesar da decepção de sair da disputa pelo ouro, o time brasileiro teve forças para se recuperar e, dois dias depois, aplicar um contundente 3 a 0 sobre a Ucrânia.
Mas como será que foi todo esse processo? Em depoimento exclusivo concedido ao Saída de Rede, Janaína nos contou sobre suas sensações desde que decidiu vencer a própria resistência em se dedicar ao vôlei sentado. Em seu relato, ela fala da irritação inicial com companheiras, da desconfiança que a equipe enfrentava e da sensação de superar os obstáculos para finalmente subir ao pódio olímpico. Confira:
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De início, tive uma resistência muito grande porque eu mesma tinha preconceito e associava o vôlei paraolímpico a pessoas bem deficientes. Eu não me achava deficiente, mas depois de um longo tempo resolvi conhecer o esporte através do Ronaldo Oliveira, que é técnico do Sesi e, na época, era o treinador da seleção.
As dificuldades começaram a aparecer depois do primeiro campeonato: como era atleta profissional, achava que as meninas tinham que jogar igual a mim. Não entendia que a maioria havia aprendido a jogar depois da deficiência. Mas, como dizia meu técnico: "As pessoas têm seu tempo". Jogamos vários campeonatos, como Mundiais, Intercontinentais e Paraolimpíada de Londres e o que me deixava triste era que íamos só pra participar, ninguém nos respeitava. Aquilo me deixava com muita raiva. Pensava se um dia seríamos uma seleção respeitada no mundo do vôlei sentado.
As coisas começaram a mudar depois que apareceram mais meninas, algumas que, inclusive, que já haviam jogado vôlei antes. Em março deste ano, no Campeonato Intercontinental, ganhamos da China, que era tricampeã paraolímpica. Foi aí que realmente percebi que as outras seleções nos olhavam diferente.
Quando o Rio foi escolhido para ser sede das Paraolimpíadas, fiquei meio desconfiada, pois sabia que teríamos que fazer boas apresentações. Mas, ao mesmo tempo, tínhamos que pensar que deveríamos jogar bem por nós e não pelos outros. No final, deu tudo certo: a torcida compareceu em massa em todas as partidas, jogamos bem e deixamos boas impressões. Terminamos em terceiro lugar, perdendo somente um jogo para os Estados Unidos, que sabíamos que seria difícil. Ficamos um pouco decepcionadas porque, se jogássemos um pouco melhor, poderia ter sido diferente.
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Mas enfim: tínhamos que nos recuperar porque o bronze seria uma conquista inédita para nós. Erguemos a cabeça e foi um jogo maravilhoso. Subir no pódio foi uma sensação única. Não sei como será daqui pra frente, pois o vôlei sentado aqui no Brasil é complicado. Agora, é esperar e ver o que vai acontecer.
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