Entre convidados e excluídos, é preciso questionar o Mundial de Clubes
Faltando um mês e meio para o Mundial masculino de Clubes, a FIVB decidiu ampliar de seis para oito o número de times participantes na competição, convidando três novas equipes e tirando a Norceca da jogada.
A nota oficial divulgada na terça-feira pela UPCN San Juan, da Argentina, um dos três clubes contemplados, dando conta dos novos competidores no torneio, provoca reflexão. Mais do que apenas enaltecer o ingresso do tradicional Diatec Trentino, da Itália, que aumenta o nível técnico do certame, há de se questionar os critérios adotados pela FIVB na escolha dos chamados wild cards, bem como a própria relevância do Mundial de Clubes.
Além do Trentino e da UPCN, o Personal Bolívar, da Argentina, também foi presenteado com uma passagem para Betim. Juntando-se o Minas Tênis Clube a eles, a matemática calcula que metade dos times do Campeonato Mundial masculino de Clubes não preencheu requisitos técnicos para estar na disputa.
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De pronto, três considerações:
1) Oficialmente, o Minas não é "convidado", mas é considerado, junto com o Sada Cruzeiro, como "clube anfitrião". Isso é esquisito, porque os jogos serão todos em Betim e, dessa forma, por que a FIVB precisaria de duas "equipes da casa"?
2) Se, por acaso, o Trentino houver sido convidado por conta do vice-campeonato europeu, por que entraram no páreo dois clubes argentinos, semifinalistas derrotados na competição continental deste ano, e não a Funvic Taubaté, vice-campeã sul-americana?
3) Ok, a Norceca não promove um torneio interclubes. Contudo, se para a Rio 2016 a FIVB deu uma potente cortada nos "critérios técnicos" e criou aqueles Pré-Olímpicos surreais, com México, Chile, Tunísia e Argélia, no masculino, e Porto Rico, Quênia, Argélia e Colômbia, no feminino, por que não usar um (apenas um) dos convites para algum dos vencedores nacionais da América do Norte, Central e Caribe? Sei lá, para o campeão da Rep. Dominicana ou de Porto Rico ou de Cuba ou do México ou da liga universitária dos EUA…
É claro que é mais interessante a participação do Trentino do que, como no ano passado, dos Capitanes de Arecibo, de Porto Rico – esportiva e comercialmente falando. Mas esse argumento poderia servir, por exemplo, para pôr representantes do Velho Continente também em lugar das equipes africanas e asiáticas no torneio, já que, com exceção do time fictício montado pelo Al-Rayyan, do Qatar, em 2014, só europeus e sul-americanos já decidiram o mundial.
O contra-argumento é justo: como chamar de "mundial" um campeonato que carecesse de representação das federações continentais? Daí a roda gira novamente e a questão volta a ser "por que a Norceca está fora?" Incluí-la, como aliás estava no plano original, não seria nenhum favor nem manobra política da FIVB, seria apenas um ato em nome da representatividade de seus entes.
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É digno de nota que é a primeira vez, desde 2009, que uma das confederações não toma parte no mundial masculino – isso é mais ou menos costumeiro no naipe feminino. Além desse mau ineditismo, registre-se que alterar uma tabela menos de uma semana depois de divulgada passa a impressão de descuido por parte da federação internacional – quando não, de improviso.
Noutro vértice, é preciso questionar que, se houve a "necessidade" de elevar o nível técnico do torneio, como parece ser o caso, convidando clubes que não haviam conseguido a classificação na quadra, até que ponto uma competição nesse formato é relevante para os clubes de voleibol? Vale só pelo status?
(Cá entre nós, se esse torneio, em 2009, até já serviu de laboratório para uma regra esdrúxula que obrigava o time recebedor do saque a efetuar o primeiro ataque do fundo de quadra, isso pode sinalizar que o torneio, que cobra título continental para algumas equipes e distribui convites a outras tantas, talvez tenha menos cartaz do que se supõe.)
FEMININO
Se o torneio masculino não terá representante da América do Norte, Central e Caribe, a versão feminina não terá equipes da Norceca nem da África. Participam o campeão sul-americano (Rexona-Sesc), europeu (Pomì Casalmaggiore), asiático (Bangkok Glass), os convidados Eczacibasi VitrA, VakifBank (ambos da Turquia) Volero Zürich (Suíça) e Hisamitsu Springs (Japão), além do PSL Manila, uma espécie de seleção da superliga das Filipinas.
Além das mesmas questões suscitadas na competição dos homens em relação aos convidados e à ausência de duas federações continentais na disputa, é bom frisar que as Filipinas, que recebem o campeonato, atravessam problemas gravíssimos quanto à segurança pública. Na guerra contra as drogas, promovida pelo presidente Rodrigo Duterte, cerca de 2 mil pessoas foram mortas nos últimos meses, inclusive com o chefe das policiais do país conclamando os viciados a matar os traficantes.
Na semana passada, depois de um atentado que matou 14 pessoas e feriu 70 (cuja autoria foi reivindicada pelo grupo Abu Sayyaf), o governo local decretou "estado sem lei", o que pode levar o presidente a aplicar um regime de exceção no país e amplia os poderes das Forças Armadas.
A FIVB deveria se pronunciar sobre essa situação, já que a disputa do Mundial feminino está marcada para o próximo mês.
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