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O feito de Lang Ping e a necessidade de valorizar as mulheres no vôlei

Carolina Canossa

24/08/2016 06h00

Lang Ping teve um longo tempo de espera antes de chegar ao ouro olímpico como técnica (Fotos: FIVB)

Lang Ping teve um longo tempo de espera antes de chegar ao ouro olímpico como técnica (Fotos: FIVB)

Ao levar a China ao ponto mais alto do pódio no vôlei feminino na Olimpíada de 2016, Lang Ping não apenas encerrou uma longa espera de 22 anos para se consagrar de vez como técnica. De jeito discreto e fama de durona, a chinesa quebrou um tabu em uma área incompreensivelmente ainda difícil para elas em pleno século 21.

Pense comigo: quantas mulheres você costuma ver em cargos de decisão no vôlei? De cabeça, só consigo lembrar de duas: Letícia Pessoa, que possui uma consolidada e vitoriosa carreira na praia, e Sandra Mara Leão, que ironicamente anunciou o fim das atividades de seu time, o Araraquara, durante a mesma Olimpíada que consagrou Lang Ping. No fim dos anos 90 e começo dos anos 2000, Isabel Salgado também se arriscou como treinadora, primeiro pelo Flamengo e depois pelo Vasco, onde foi vice-campeã da Superliga na temporada 2000/2001. Mas atualmente em nível tão alto Lang Ping é uma figura solitária.

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Na Rio 2016, a chinesa teve participação decisiva. Depois de uma primeira fase muito ruim, eliminou ninguém menos que o favorito Brasil com direito a um nó tático em cima do grande José Roberto Guimarães. Destroçada com um 25-15 no primeiro set, a China ressurgiu na partida graças a três modificações efetuadas pela técnica: a entrada da levantadora Wei, da ponteira Zhang e da central Yan. Na final, ocorreu o mesmo, quando ela virou o duelo contra a Sérvia, desta vez promovendo Ding no lugar de Wei e mudando a estratégia de saque. Se, por um lado, a treinadora quase pagou caro pela decisão de "esconder" o time e promover diversas alterações no grupo, por outro Lang Ping não tem o menor medo de mudar o que está ruim e tem um conhecimento incrível do grupo que possui em mãos. Conhecimento não lhe falta.

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Em um esporte no qual as mulheres ainda levam menos que a metade dos homens por ganharem torneio semelhantes, a consagração de Lang Ping precisa ser celebrada. Por mais que a FIVB insista em dizer que a diferença nos valores das premiações seja fruto da escolha dos patrocinadores, devemos questionar: será que o vôlei feminino realmente só não tem 50% do alcance do masculino? Ou seria essa defasagem uma escolha até inconsciente de quem investe no esporte? Nunca fiz uma pesquisa com rigor científico para responder a isso, mas a impressão que tenho via Saída de Rede é que elas são tanto ou até mais populares que eles, ao menos no Brasil.

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Lenda viva do vôlei, com direito a outro ouro olímpico como jogadora e outras duas pratas como técnica, Lang Ping certamente inspira muitas mulheres a seguirem o caminho dela. Que elas apareçam cada vez mais e mais.

Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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