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Saída de Rede

Brasil encara a França no duelo dos desesperados

Sidrônio Henrique

15/08/2016 13h00

France celebrate after video confirmation point

Jogadores franceses comemoram ponto no Maracanãzinho após ganhar um desafio (fotos: FIVB)

O Brasil enfrenta a França logo mais, às 22h35 desta segunda-feira (15), na noite dos desesperados do torneio de voleibol masculino, pela última rodada da fase inicial. É possível que um desses dois favoritos ao ouro saia da quadra eliminado, sem sequer chegar às quartas de final da Rio 2016.

A Itália joga contra o Canadá na preliminar, às 20h30, com os europeus já classificados em primeiro lugar da chave somando doze pontos na tabela, após quatro vitórias – únicos invictos entre as 12 seleções da competição. O dia começou com Brasil, França, Estados Unidos e Canadá com seis pontos, com duas vitórias e duas derrotas cada, enquanto o México, eliminado, não havia vencido ninguém e seguia zerado.

O santo milagreiro do vôlei brasileiro terá que agir na seleção masculina

Pela manhã, os americanos fizeram sua obrigação e bateram a inexpressiva seleção mexicana em sets diretos, chegando a nove pontos e garantindo uma das quatro vagas. Nos bastidores, o rumor é que o técnico italiano Giancarlo Blengini colocaria seus reservas em quadra à noite, descansando os titulares e dando chance ao bom time canadense de avançar – além de eliminar um dos favoritos na corrida pelo ouro. Se isso se confirmar, o perdedor da partida entre Brasil e França estará eliminado dos Jogos Olímpicos.

Mas o que esperar da França? Em condições normais de temperatura e pressão, um voleibol de altíssimo nível. No caldeirão que tem se transformado o Maracanãzinho, somado à pressão de disputar uma Olimpíada, a atuação do time do técnico Laurent Tillie tem ficado abaixo da expectativa, algo que também tem ocorrido com o Brasil.

Brasil está pronto para o tri, mas não pode perder o foco

Até aqui, a equipe do ponteiro Earvin N'gapeth rendeu pouco na relação bloqueio-defesa, justamente o grande diferencial da seleção francesa ao longo deste ciclo. Mesmo individualmente, o que às vezes ajuda um time a arrancar, motivando o restante dos jogadores, ninguém tem se destacado. O craque N'gapeth até tem seus lampejos, impressionando a torcida aqui e ali, mas no geral foi discreto. O levantador Benjamin Toniutti, um dos melhores do mundo, tem cometido deslizes na distribuição. O líbero Jenia Grebennikov, apontado como o melhor da atualidade, parece ter sentido a pressão e é possível observar falhas no seu posicionamento ou ainda na execução, coisas que normalmente não ocorrem.

Será que a França vai deslanchar justamente contra o Brasil esta noite? Nas duas vezes em que essas equipes se enfrentaram esta temporada, os brasileiros saíram vitoriosos pelo mesmo placar, 3-1, na Liga Mundial – a partida mais recente foi na dramática semifinal da competição. No ano passado, no mesmo Maracanãzinho, também pela Liga Mundial, deu França: 3-1, no primeiro jogo da fase de grupos das finais.

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O Brasil também tem rendido menos do que o esperado na Rio 2016, mesmo nas duas vitórias, obtidas contra México e Canadá. O calcanhar de Aquiles da seleção brasileira tem sido sua linha de passe. A irregularidade de ambos, em tese, nivela por baixo o confronto de logo mais, que para muitos, antes da Olimpíada, poderia ser repetido na final, dia 21, mas que agora virou mata-mata antecipado, uma briga entre dois times buscando o melhor de si em meio a constantes oscilações.

Ponto forte
Antes da Rio 2016, seria fácil cravar a sintonia entre bloqueio e defesa, além da variedade na armação das jogadas, mas até aqui a França está devendo nesses aspectos. Se conseguirem apresentar o voleibol que os consagrou na temporada passada, o Brasil terá sérios problemas hoje à noite no Maracanãzinho.

Ponto fraco
Além de ter um banco de reservas que pouco acrescenta, o time titular não sabe jogar sob pressão. Que continuem assim! Não faltam exemplos do esmorecimento francês diante de momentos delicados. As próprias atuações abaixo da crítica no Rio podem ser reflexo da incapacidade da seleção francesa em lidar com a grandiosidade dos Jogos Olímpicos.

Laurent Tillie coach of France

Laurent Tillie assumiu o comando do time neste ciclo olímpico

Mas vamos voltar um pouco no tempo. Foi com a camisa que o Brasil bateu a França no tie break do Mundial 2014. A equipe de Earvin N'gapeth também sentiu o baque diante da Rússia na final do Pré-Olímpico da Europa, em janeiro deste ano, depois de um primeiro set brilhante. Mais tarde, em maio, no qualificatório mundial, perdeu de virada um jogo praticamente ganho contra a Polônia. Também vacilaram na partida ante os brasileiros na semifinal da Liga Mundial 2016, perdendo um set em que tinham vantagem de seis pontos e ainda cometendo erros na reta final da partida. Em entrevista ao Saída de Rede, em julho, o técnico Laurent Tillie falava sobre a importância de saber lidar com o medo de perder.

Se olharmos as duas conquistas da França, a Liga Mundial e o Campeonato Europeu, ambos em 2015, o adversário da final tinha pouca experiência, caindo em três sets. Na final da Liga Mundial do ano passado, os franceses encararam a jovem equipe da Sérvia (em 2016, com mais rodagem, o time dos Bálcãs sagrou-se campeão com a vantagem de se preparar exclusivamente para o torneio). Já no Europeu, a França decidiu o ouro diante da esforçada e surpreendente, porém limitada, Eslovênia, que ainda assim engrossou os dois primeiros sets. Numa partida decisiva contra times da elite, a França continua devendo. Nesta segunda-feira, diante de 12 mil torcedores, eles terão a chance de provar que não sucumbem à pressão.

Qual a chance de ganhar do Brasil?
Boa. Essa é uma daquelas partidas em que as chances são de 50/50.

Earvin Ngapeth of France

Earvin N'gapeth é o grande destaque da seleção francesa

Fique de olho
A seleção francesa é uma verdadeira constelação. Além dos já citados N'gapeth, Toniutti e Grebennikov, o time conta com um dos melhores centrais do mundo, Kevin Le Roux. O oposto Antonin Rouzier, embora não seja o jogador clássico da saída de rede, demonstra eficiência baseada no seu entrosamento com o levantador Toniutti. Mas num jogo desses é bom mesmo ficar de olho no ponta Earvin N'gapeth, que com lances imprevisíveis é capaz de levantar o moral do time em momentos difíceis. É fato também que seu destempero também os joga pra baixo às vezes, como ocorreu na já citada partida contra a Polônia, no Pré-Olímpico Mundial. Fiquemos então de olho no craque!

Elenco (em negrito, o provável time titular)
Levantadores: Benjamin Toniutti (camisa 6), Pierre Pujol (13)
Opostos: Antonin Rouzier (4) e Thibault Rossard (18)
Centrais: Kevin Le Roux (10), Nicolas Le Goff (14) e Franck Lafitte (17)
Ponteiros: Earvin N'gapeth (9), Kevin Tillie (7), Nicolas Marechal (16) e Trevor Clevenot (5)
Líbero: Jenia Grebennikov (2)

Desempenho no ciclo olímpico
A França já dava sinais que iria despontar no ciclo olímpico anterior. Neste, começando em 2013, sob o comando de Laurent Tillie, bateu grandes equipes naquele mesmo ano. Mas foi a partir de 2014 que os Bleus impressionaram. No Campeonato Mundial, chegaram às semifinais como o melhor time, o mais ajustado, terminando em quarto ao passar fatura pela inexperiência. Já 2015 foi o ano deles: ganharam a segunda divisão da Liga Mundial, disputaram as finais da elite e venceram também. Três meses depois conquistaram outro título, o do Campeonato Europeu.

Esta temporada, começaram caindo para a Rússia na final do Pré-Olímpico da Europa, mas garantiram a vaga para a Olimpíada no qualificatório global. Ficaram com o bronze na Liga Mundial.

Chegaram ao Rio como um dos favoritos ao ouro. No entanto, foram atropelados pela Itália na estreia, sem passar dos 20 pontos em nenhum set. Na sequência, trituraram o México e o Canadá, mas não resistiram ao saque e bloqueio dos Estados Unidos.

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Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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