Brasil é o principal favorito ao ouro, diz técnico do Canadá
Não faz muito tempo o Canadá estava no terceiro escalão do voleibol masculino. Se esse status mudou, a equipe deve muito ao seu técnico, Glenn Hoag, um ex-central que integrou o time canadense com melhor campanha nas Olimpíadas (quarto lugar em Los Angeles 1984) e que dirige a seleção do seu país desde 2006 e o clube turco Arkas Izmir desde 2010. Adversário do Brasil na primeira fase, o Canadá pode até não estar na elite, mas não deve ser subestimado. Apesar do grupo difícil na primeira fase, Hoag quer avançar na competição. "A partir dali será um jogo de cada vez", afirma. Para ele, o Brasil, "com a vantagem de jogar em casa e com uma equipe habilidosa", é o principal favorito ao ouro.
Com vitórias sobre as principais potências ao longo deste ciclo, o Canadá quase ficou de fora da Rio 2016 ao perder, em casa, a vaga do pré-olímpico continental para uma seleção cubana repleta de juvenis. Foi um baque. Cinco meses depois, de maneira mais difícil, a vaga foi conquistada no qualificatório mundial, no Japão. Após 24 anos, desde a participação em Barcelona 1992, o vôlei masculino canadense voltou aos Jogos Olímpicos, com atletas talentosos como o oposto Gavin Schmitt, o ponta Gord Perrin e o levantador Tyler Sanders. O time está na chave A do torneio, ao lado de Brasil, França, Itália, Estados Unidos e México.
A seleção canadense, que no início do mês venceu a segunda divisão da Liga Mundial e subirá para a elite em 2017, desembarca em São Paulo na próxima quarta-feira (27) e segue para Taubaté. Ficará na cidade treinando e fará dois amistosos contra a equipe local, nos dias 29 e 30. No dia 1º de agosto, o grupo viaja de ônibus para o Rio de Janeiro.
Confira a entrevista exclusiva que Glenn Hoag concedeu ao blog:
Saída de Rede – Qual o objetivo da seleção canadense na Olimpíada? Recentemente, nós conversamos com o Gord Perrin e ele disse que vem para brigar por medalha. O Canadá tem time para isso?
Glenn Hoag – A gente quer passar da fase de grupos, chegar às quartas de final. A partir dali será um jogo de cada vez. Não vai ser fácil, pois caímos em uma chave muito difícil.
Saída de Rede – Como você avalia os adversários mais fortes na sua chave? Quem é o maior favorito ao ouro na Rio 2016?
Glenn Hoag – O Brasil é o grande favorito, conta com a vantagem de jogar em casa e com uma equipe habilidosa. Vamos ter que enfrentar o Brasil, vai ser muito difícil. A França também tem um time muito habilidoso, com um jogo cheio de variações, está ali entre os mais fortes da Olimpíada. Os Estados Unidos têm uma equipe jovem, com bons atletas em cada posição. Talvez a recepção seja o ponto fraco dos americanos, mas eles compensam com saque e bloqueio. A Itália também tem um time equilibrado, mais experiente, com alguns líderes em quadra, um pouco abaixo de Brasil e França na defesa.
Saída de Rede – Depois de ser decisivo no pré-olímpico, o oposto Gavin Schmitt disputou apenas uma partida em onze na Liga Mundial. Ele retomou o tratamento para se recuperar da cirurgia na tíbia a que foi submetido em janeiro e assim chegar bem aos Jogos Olímpicos?
Glenn Hoag – O Gavin estava muito cansado, realmente exausto depois do pré-olímpico no Japão. Nós decidimos dar um descanso a ele, que só jogou uma partida na fase inicial da Liga Mundial e porque estava na sua cidade natal, Saskatoon. Desde então ele começou uma preparação individual no nosso centro de treinamento, em Gatineau, e esta semana se juntou ao grupo.
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Saída de Rede – Durante várias temporadas Schmitt foi a bola de segurança do time, porém recentemente Gord Perrin passou a dividir a carga com ele. Você diria que o trio composto Schmitt, Perrin e pelo levantador Tyler Sanders dá sustentação ao time?
Glenn Hoag – Isso tudo é resultado do amadurecimento do grupo. Por meio das experiências individuais eles têm amadurecido e trazido isso para a equipe. Além do Gavin, eu diria que Gord Perrin, Tyler Sanders, Nicholas Hoag (ponta), Steve Marshall (ponta) e Graham Vigrass (central) são hoje elementos-chave do nosso sucesso. O melhor de tudo é que temos vários jogadores jovens sendo trabalhados para um futuro próximo.
Saída de Rede – O oposto reserva Dallas Soonias não jogou este ano. Ele estará no Rio ou mais uma vez você terá que improvisar um substituto para Gavin Schmitt nas inversões ou em qualquer eventualidade?
Glenn Hoag – Dallas não está mais com a equipe, os joelhos dele já não aguentavam mais e ele deixou o esporte. Gavin será o nosso único oposto de ofício. Se necessário, vamos recorrer ao (central) Rudy Verhoeff para que jogue na saída de rede ou então vamos utilizar um sistema híbrido.
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Saída de Rede – Você concorda que com Tyler Sanders finalmente foi possível estabelecer um estilo de jogo consistente com um levantador, entre os vários que passaram pela seleção desde 2006? Que a segurança que ele transmite aos atacantes confere maior solidez ao time canadense?
Glenn Hoag – Sanders é um jovem muito inteligente. Ele teve dificuldade em encontrar um clube no qual ele pudesse crescer e desenvolver seu talento. Na próxima temporada ele vai jogar comigo, em Izmir. Ele ainda é muito novo, mas tem habilidade e uma condição física muito boa, uma postura legal, então eu acho que ele se tornará um levantador excelente em alguns anos. Nós vamos trabalhar para polir o jogo dele em todos os aspectos.
Saída de Rede – O Canadá venceu a segunda divisão da Liga Mundial com folga, até poupou vários titulares na maioria dos jogos. No entanto, ter enfrentado somente times cujo nível era claramente inferior ao da sua seleção, na reta final da preparação para a Olimpíada, não foi prejudicial?
Glenn Hoag – Não tivemos escolha nem tempo para amistosos, tínhamos que enfrentar aqueles times. Mas houve algo importante, ver o amadurecimento do grupo. Num passado recente nós teríamos perdido algumas partidas contra aquelas equipes e agora ganhamos mesmo com um oposto improvisado, pois não havia ninguém dessa posição à disposição. Depois da Liga Mundial (o Canadá bateu Portugal na final) nós focamos na preparação específica para os nossos adversários no Rio.
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Saída de Rede – Você começou seu trabalho como técnico da seleção em 2006. Que tipo de dificuldade enfrentou para elevar o nível do time ao padrão atual?
Glenn Hoag – A maior dificuldade é que o voleibol não é um esporte popular no Canadá, não há uma cultura em torno dele, como no caso do hóquei sobre o gelo. Nós não temos uma liga profissional, então os nossos jogadores mais jovens não jogam e treinam como deveriam, exceto por uns poucos que fazem do vôlei sua profissão desde cedo, mas na maioria dos casos eles são atletas-estudantes, então o desenvolvimento de um jogador dessa modalidade no Canadá acaba sendo demorado e isso se reflete na seleção.
Saída de Rede – Após três tentativas e dois ciclos completos, você conduziu o time às Olimpíadas. O que essa classificação para a Rio 2016 representa na sua carreira?
Glenn Hoag – A classificação pro Rio foi um momento marcante da minha carreira de técnico, porém o mais importante foi como chegamos lá e o que vamos fazer daqui em diante. Eu sempre procuro não me prender ao passado, mas quando nós atingimos metas importantes eu faço questão de agradecer a todos que me ajudaram a conseguir algo.
Saída de Rede – Quando termina seu contrato com a Volleyball Canada (organização responsável pela modalidade no país)? Vocês já conversaram sobre renovação ou depende do resultado no Rio?
Glenn Hoag – Meu contrato termina depois da Olimpíada e eu decidi não renovar. Vou focar no meu clube, em Izmir, na Turquia. Já são dez anos com a seleção, está na hora de relaxar um pouco durante o verão, quando não estou com o clube. Sabe como é, estou ficando velho (risos).
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