“Baixinha” que encanta brasileiros conduz Argentina ao sonho olímpico
Ela é a cara de uma seleção que tenta, aos poucos, galgar postos no mundo do vôlei. A argentina Emilce Fabiana Sosa, ou Mimi Sosa, como é chamada, surpreende até seus fãs. Quem poderia supor que essa baixinha, com apenas 1,77m, seria uma central. Mesmo a libero da Albiceleste, Tatiana Rizzo, com seu 1,78m, é mais alta do que ela. Mas foi ali, no meio de rede, que ela achou seu lugar, competindo com jogadoras que são dez ou vinte centímetros mais altas. Por telefone, desde Tucumán, Mimi conversou com o Saída de Rede.
Raízes
Sua história começa em Ibarreta, onde nasceu, uma pequena cidade da província de Formosa, no norte da Argentina, a região mais pobre do país. Ela foi criada a 400 quilômetros dali, numa comunidade de índios wichis na qual seus pais eram professores, na mesma província. Nunca abandonou suas origens. Além de visitar o povoado sempre que pode, ela tem no antebraço direito a tatuagem com a frase, na língua wichi, "Otetsel ta n'am talakis", que quer dizer "Minhas raízes, minha história". É o mesmo antebraço que ela ergue e põe sobre a testa cada vez que bloqueia uma adversária. Sua marca registrada.
Quando criança ela gostava de jogar futebol com o pai e somente aos 14 anos começou a praticar o esporte que a consagrou. Hoje, aos 28, caminha para a terceira temporada na Superliga brasileira e, mais importante, realizou o sonho da classificação para os Jogos Olímpicos. A Argentina caiu na chave do Brasil, que tem ainda Rússia, Japão, Coreia do Sul e Camarões. "Disputar as Olimpíadas será algo especial, lindo, mas não vamos perder nosso foco por causa da grandiosidade do evento, temos nossas ambições", diz Mimi, capitã do time.
Fazendo história
Las Panteras, como são chamadas as jogadoras da seleção argentina de vôlei, já fizeram história ao se classificarem pela primeira vez para os Jogos Olímpicos. Uma vez no Rio, onde a jornada começa na noite de 6 agosto, diante da poderosa Rússia, as atletas comandadas pelo técnico Guillermo Orduna querem mais. "Brasileiras e russas estão muito acima da gente, mas acreditamos que é possível ganhar não apenas de Camarões, mas também de Japão e Coreia do Sul", explica a central. O objetivo é avançar às quartas de final. "Não vamos às Olimpíadas para passear ou tirar fotos, vamos nos sacrificar", completa.
Você aí, que acompanha o voleibol, deve achar otimismo exagerado, mas ela prossegue: "Para ganhar de japonesas e coreanas devemos estar 100% concentradas, reduzir nossos erros ao máximo, principalmente na recepção, jogar mais rápido e aumentar a eficiência do nosso saque". Mimi Sosa analisou as duas seleções asiáticas. "Ambas cometem poucos erros. O Japão tem um jogo coletivo mais forte, é mais rápido, tem potencia com a ponta (Saori) Kimura e a oposta (Miyu) Nagaoka. Já a Coreia do Sul gira em torno da Kim (Yeon-Koung), que é fora de série, mas é um time ligeiramente inferior ao Japão". Nos confrontos mais recentes entre as argentinas e essas duas seleções, na Copa do Mundo 2015, as asiáticas saíram vencedoras em sets diretos. Tarefa complicada para Mimi e sua equipe em agosto. Como quatro das seis seleções avançam, em tese bastaria vencer as camaronesas e uma das asiáticas, desde que alguma das derrotadas não acumule duas vitórias também, pois aí viria a disputa pelo saldo de sets e até de pontos.
Altos e baixos
Não, não é fácil. Mas a Argentina aqui e ali apronta das suas. Já bateu a Alemanha, equipe duas vezes vice-campeã europeia nesta década, além de ter engrossado partidas contra italianas e chinesas em edições do Grand Prix. A façanha mais recente foi levar para o quinto set o jogo contra a forte Sérvia na Copa do Mundo 2015. As sérvias foram vice-campeãs do torneio e conquistaram ali a vaga para a Rio 2016, mas se tivessem perdido para as sul-americanas não teriam conseguido o bilhete naquela competição.
Para desespero do treinador Orduna, o time alterna boas exibições com outras repletas de erros. Integrantes da segunda divisão do GP, terminaram a edição deste ano em quinto lugar entre oito participantes, com apenas duas vitórias, ambas sobre o fraco Quênia. Fizeram partidas equilibradas, mas saíram de quadra derrotadas contra República Dominicana, Bulgária, Polônia e Porto Rico. A principal razão para os reveses foi justamente a fragilidade da linha de passe argentina, uma das preocupações de Mimi Sosa. Porém, ainda há tempo para ajustes e o time ganha esta semana a presença de sua melhor ponta, Yas Nizetich, boa atacante, passadora e sacadora, que não disputou o GP devido a uma contusão simples no pé direito.
Reta final
O time volta de Wloclawek, Polônia, local da disputa da sua última etapa do GP, para Buenos Aires, onde permanecerá treinando por quase três semanas. De 2 a 10 de julho disputará, em Santo Domingo, República Dominicana, a Copa Pan-Americana, competição secundária no calendário, mas que servirá para dar ritmo a Las Panteras – elas caíram no grupo de EUA (será representado por um time B), Cuba, Peru, Costa Rica, e Trinidad e Tobago. O Brasil, que geralmente é representado por times B ou juvenis, decidiu não participar este ano. O torneio tem 12 equipes. Na sequência, a Argentina volta para a concentração em Buenos Aires.
Na Rio 2016, após a estreia diante das russas, elas enfrentarão a seleção brasileira no dia 8, a Coreia do Sul no dia 10, Camarões no dia 12 e finalmente o Japão no dia 14. Como será enfrentar o Brasil, bicampeão olímpico, diante do Maracanãzinho lotado? "Vai ser fantástico. Vamos entrar, tentar fazer o nosso melhor, nos divertir", diz a meio de rede.
Superliga
Depois de jogar por seis anos na liga argentina, Mimi Sosa passou três temporadas na Romênia. De lá, deu um salto de qualidade na sua carreira e veio parar no Rio do Sul/Equibrasil, time do interior de Santa Catarina pelo qual jogou por dois anos, sempre tendo outra argentina como companheira de time – no primeiro período foi a levantadora Yael Castiglione e no mais recente a líbero Tatiana Rizzo. Agora vai para São Paulo, jogar pelo tradicional Pinheiros/Klar, desta vez sem colegas argentinas. "Para mim é uma honra jogar na Superliga, que é uma das melhores ligas do mundo. Era um sonho. Minha última temporada não foi tão boa por causa de problemas no joelho direito, mas agora estou recuperada. Jogar no Brasil acrescenta muito ao meu jogo e sempre procuro dividir essa experiência quando vou para a seleção", comenta.
Sonho de ir a uma Olimpíada, sonho de jogar na Superliga… Pouco a pouco essa argentina que compensa a pouca altura com impulsão e técnica vai conseguindo o que quer. Quem sabe, com muito esforço e superação da Albiceleste, o sonho de ir além da primeira fase na Rio 2016 se torne realidade.
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