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Contra preconceito, jogadores gays promovem Superliga da Diversidade em SP

Carolina Canossa

03/08/2018 06h00

Há 10 anos, os jogadores do Angels Volley treinam semanalmente em São Paulo (Foto: Divulgação/Angels Volley)

Por Naiara Araújo 

O esporte é mundialmente conhecido como um espaço de inclusão, mas na prática não é bem assim. O preconceito acaba afastando muitos atletas e isso acontece em todos ambientes, dos clubes mais tradicionais até aquele treino descontraído do fim de semana. Em busca de respeito e para continuar no esporte, um grupo de homens gays e apaixonados pelo vôlei decidiu treinar entre eles e deu muito certo. O resultado é a 1ª edição da Copa Angels Volley, que acontece nos dias 4 e 5 de agosto, no ginásio Poliesportivo Pedro Dell´Antonia, em Santo André (SP). Serão 10 equipes LGBTQI mostrando a paixão pelo esporte.

A competição, também chamada de Superliga da Diversidade, surgiu a partir do Angels Volley, time formado por jogadores gays que, há 10 anos, treinam vôlei semanalmente em São Paulo (SP). De acordo com Willy Montmann, capitão da equipe, a principal bandeira do evento é a inclusão no esporte. Eles querem mostrar para a sociedade que gays podem jogar o que quiserem.

"A gente não quer que o nosso resultado seja melhor ou seja pior, a gente quer mostrar que é igual a qualquer outro campeonato, que também dá para levar a família para assistir. Mostrar que na verdade não existe diferença, é um espetáculo esportivo", conta Montmann.

O Angels Volley tem atletas de 24 a 49 anos, mas a maioria com mais de 30 anos. De acordo com o capitão, é uma geração que viveu uma fase em que o preconceito ainda era muito forte. O grupo é formado por ex-atletas de clubes, seleções de base, universidades e ligas no exterior. O capitão conta que  os jogadores considerados mais "afeminados" eram perseguidos em alguns times de vôlei. Eles costumavam ouvir ofensas no vestiário e até durante as partidas, como gritos de "saca no gay ou saca no viadinho".

Para Montmann, a situação melhorou nos últimos anos. "O voleibol está muito evoluído em comparação com as outras modalidades esportivas", diz o capitão, que começou a jogar vôlei aos sete anos de idade. "O vôlei é o esporte favorito da comunidade LGBTQI, a gente acha muito importante dar essa visibilidade porque existem muitos gays que jogam e jogam bem. Mas muitas vezes eles desistem pelas perseguições que sofrem. E se a pessoa tem talento e vocação não é justo."

Nos últimos anos, a trajetória da jogadora Tifanny Abreu mostrou como os diálogos de gênero e orientação sexual ainda precisam avançar no mundo esportivo. Ela, que encarou um grande desafio na luta pela diversidade e conquistou o seu lugar como a primeira brasileira transexual a conseguir autorização da Federação Internacional de Vôlei (FIVB) para jogar nos times femininos, é uma das apoiadoras da Copa Angels Volley.

Outras figuras importantes do vôlei feminino, como Jaqueline e Carol Albuquerque, também apoiaram o evento nas redes sociais. Segundo Montmann, o vôlei feminino se sensibiliza e quer ajudar a causa LGBTQI. Por outro lado, no vôlei masculino o apoio não é o mesmo. "Eles gostam do projeto, mandam recados, mas eles falam que é complicado postar um vídeo falando [da Copa Angels Volley]. Eles têm medo de serem rotulados por defenderem a nossa causa. Ainda existe machismo no vôlei masculino", diz o capitão da equipe gay.

Apesar dos desafios, eles defendem uma causa que exige uma luta diária. Por isso, o time segue firme nos treinos e está com um projeto de captação de apoiadores e patrocinadores. Para quem ficou interessado em conhecer o Angels Volley, os rapazes contam que estão sempre abertos para receber novos atletas. É só acompanhar as redes sociais da equipe para saber o dia e o horário dos treinos.

1ª edição da Copa Angels Volley

O lançamento da Copa Angels Volley acontece nesta sexta-feira (3) em São Paulo (SP). A festa contará com a presença das equipes de vôlei participantes e show da funkeira Jojo Todynho. O evento é aberto ao público e a entrada é franca, os interessados devem levar apenas um alimento não perecível, que será doado para a Casa 1, instituição que auxilia jovens gays que foram expulsos de suas casas. As partidas acontecem no sábado (4) e no domingo (5) a partir das 8h, no ginásio Poliesportivo Pedro Dell´Antonia, em Santo André (SP), e também têm entrada gratuita.

O time é formado por ex-atletas de clubes, seleções de base, universidades e ligas no exterior (Foto: Divulgação/Angels Volley)

Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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