Topo

Saída de Rede

Semifinal promete equilíbrio: Rússia ainda oscila, mas vem melhorando

Sidrônio Henrique

19/08/2016 15h00

Russia celebrate

Longe de ser brilhante, mas ainda forte, a seleção russa chegou à semifinal da Rio 2016 (fotos: FIVB)

Ninguém é louco de subestimar a Rússia, ainda que a seleção treinada por Vladimir Alekno tenha sido inconstante na Rio 2016. Afinal, o mesmo problema atinge o Brasil. Se colocarmos na balança os defeitos e as virtudes das duas equipes que se enfrentam logo mais, às 22h15 desta sexta-feira (19), na segunda semifinal do voleibol masculino, teremos equilíbrio – o vencedor encara a Itália, que bateu os Estados Unidos por 3 a 2 em um jogaço. O preocupante é que a Rússia vem melhorando ao longo do torneio, com cada vez menos oscilações. Há quatro anos, em Londres 2012, brasileiros e russos se enfrentaram na final, de triste memória para o time de Bernardinho, que tomou a virada após estar vencendo por 2-0.

A Rússia não é aquela que dominou o cenário mundial nos dois últimos anos do ciclo anterior e no primeiro do atual. O saque já não é tão eficiente, embora não possa ser subestimado, e o bloqueio, ainda que seja forte, teve dias melhores.

Curta o Saída de Rede no Facebook

Terceiro colocado do grupo B, o time russo perdeu por 1-3 para a organizada porém ofensivamente limitada Argentina (eliminada pelo Brasil nas quartas de final) e suou para derrotar a confusa Polônia em cinco sets. Nas quartas, entrou como favorito diante do Canadá, que com o oposto Gavin Schmitt jogando com dores no joelho direito facilitou ainda mais a vitória russa em sets diretos.

Vladimir Alekno coach of Russia

Técnico Vladimir Alekno comanda a Rússia pela terceira vez

Ponto forte
Experiência. Apesar da entrada de alguns jogadores novos na equipe, desde o retorno do treinador Vladimir Alekno em agosto do ano passado, a seleção russa conta com gente tarimbada, veteranos de outras edições de Jogos Olímpicos, além de ser a atual campeã. Entre os experientes bons de bola temos o ponta e capitão Sergey Tetyukhin, o levantador Sergey Grankin, o oposto Maxim Mikhaylov, o central Aleksandr Volkov e o líbero Alexey Verbov. Do lado brasileiro, quatro jogadores já estiveram nos Jogos Olímpicos – Serginho, Bruno, Wallace e Lucão. Mas veja o caso dos ponteiros: nenhum dos quatro jogadores da entrada de rede do Brasil (Lucarelli, Lipe, Maurício Borges e Douglas Souza) jamais disputou uma Olimpíada. Na hora do aperto, isso pode fazer a diferença. Não podemos nos esquecer de mencionar a experiência de Vladimir Alekno, o técnico que conduziu os russos ao ouro olímpico em 2012, entre outros títulos. Se temos Bernardinho, eles têm Alekno – um duelo de respeito. O treinador russo, que ainda ganhou um bronze em Pequim 2008, dirige a seleção do seu país pela terceira vez.

Ponto fraco
Aquele time que defendia bem acima da média da tradicional escola russa e que tinha bastante variação nas combinações de ataque, dominando as competições de 2011 a 2013, já não existe mais. A Rússia, ninguém se iluda, ainda é uma seleção muito forte, mas marcá-la não é uma tarefa tão extenuante.

Cada vez mais no sacrifício, Brasil avança à semifinal olímpica

Algumas ausências também enfraquecem os russos. No começo deste ciclo havia muitas opções na entrada de rede, mas seja por contusões ou por queda de nível, algumas peças que pareciam ter vida longa na equipe ficaram pelo caminho, caso dos ponteiros Alexey Spiridonov e Denis Biryukov, entre outros, além do jovem e promissor ponta Aleksandr Markin, flagrado no exame antidoping durante o Pré-Olímpico europeu e que foi deixado de lado. Outra ausência importante é do central Dmitriy Muserskiy, carrasco do Brasil na final de Londres 2012, quando foi deslocado para a saída de rede e terminou a partida com 31 pontos. O gigante de 2,18m vinha sofrendo com dores nos dois joelhos e foi cortado em julho.

Qual a chance de ganhar do Brasil?
Como foi dito acima, esse confronto envolve equilíbrio, são duas potências da modalidade, ainda que ambas não estejam em seu melhor momento. Os detalhes devem fazer a diferença. Claro que os russos podem sair vencedores.

Ponta Sergey Tetyukhin disputa sua sexta Olimpíada

Fique de olho
Ele é o melhor jogador russo na competição, da qual é também o mais velho. O ponta Sergey Tetyukhin completa 41 anos em setembro (é três semanas mais velho do que o líbero brasileiro Serginho), mas ainda esbanja vitalidade, além da sua inegável categoria. Em sua sexta Olimpíada, ele que disputou a primeira em Atlanta 1996 e acumula quatro medalhas (um ouro, uma prata e dois bronzes), Tetyukhin se destaca entre os atacantes mais eficientes.

Fique de olho também no oposto Maxim Mikhaylov. Ele já foi a grande promessa do voleibol russo, surgindo para o mundo em Pequim 2008. Depois consolidou-se, mas já em Londres 2012 dava sinais de desgaste e viu um central substituí-lo na final porque vinha sendo neutralizado pelo Brasil. No atual ciclo, amargou a reserva, sofreu com contusões, passou por cirurgia, mas esta temporada voltou a jogar como não fazia há bastante tempo. Se o ponteiro Tetyukhin é o toque de classe da Rússia, Mikhaylov está lá para colocar a bola no chão, como manda a cartilha do bom oposto.

Elenco (em negrito, o provável time titular)
Levantadores: Sergey Grankin (camisa 5) e Igor Kobzar (1)
Opostos: Maxim Mikhaylov (17) e Kostyantyn Bakun (12)
Centrais: Aleksandr Volkov (18), Artem Volvich (14) e Andrey Ashchev (11)
Ponteiros: Sergey Tetyukhin (8), Egor Kliuka (19), Dmitriy Volkov (7) e Artem Ermakov (20)
Líbero: Alexey Verbov (16)

Desempenho no ciclo olímpico
A Rússia começou este ciclo com técnico novo. Saiu, por opção dele, o campeão olímpico de 2012 Vladimir Alekno e entrou o treinador Andrey Voronkov, que então dirigia o forte Lokomotiv Novosibirsk. A seleção manteve o nível em 2013, conquistando a Liga Mundial naquele ano, com um acachapante 3-0 sobre o Brasil na final. Também venceu o Campeonato Europeu. Ficou em segundo na desimportante Copa dos Campeões, na mesma temporada.

Veio 2014 e começou a queda. Os russos terminaram em quinto na Liga Mundial e no Campeonato Mundial. Pior, perderam três vezes para o arquirrival Brasil, que não os derrotava desde a primeira fase de Londres 2012.

Em 2015, perderam 11 das 12 partidas na Liga Mundial e só não foram rebaixados para a segunda divisão porque a Federação Internacional de Vôlei (FIVB) fez uma manobra para ampliar a elite de oito para doze equipes, mantendo os russos na primeira divisão. Voronkov caiu. Alekno voltou e na primeira competição, a Copa do Mundo, viu o time ficar em quarto lugar, perdendo para Estados Unidos, Itália e Polônia. No Campeonato Europeu, terminaram numa modesta sexta colocação.

Este ano, a Rússia conquistou a vaga olímpica em janeiro, ao derrotar a badalada França na final do qualificatório europeu. Na Liga Mundial, jogando a maioria das partidas com uma mescla de titulares e reservas, ficaram em sétimo lugar.

Na Rio 2016, a seleção russa começou mal perdendo um set na vitória sobre a fraca equipe cubana e na sequência caiu por 1-3 diante da Argentina, mas vem melhorando a cada jogo e não perdeu mais, embora só tenha sido exigida diante da mal-estruturada Polônia, a quem bateu por 3-2.

————-

Receba notícias de vôlei pelo WhatsApp

Quer receber notícias no seu celular sem pagar nada? 1) adicione este número à agenda do seu telefone: +55 11 94546-6166 (não esqueça do "+55″); 2) envie uma mensagem para este número por WhatsApp, escrevendo só: giba04

Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

Blog Saída de Rede