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Saída de Rede

Até governo se mexe na Argentina para manter técnico lendário

Sidrônio Henrique

10/05/2016 19h46

Julio Velasco comanda a equipe desde 2014 (fotos: FIVB)

A Argentina quer manter o treinador Julio Velasco onde ele está até os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, numa articulação que envolve inclusive o governo do país vizinho. O lendário técnico, escolhido o melhor do século XX numa votação realizada pela Federação Internacional de Vôlei (FIVB) em 2000, está à frente da albiceleste desde o primeiro semestre de 2014, após passagens bem sucedidas por clubes e seleções da Europa e da Ásia.

As negociações vão além da Federação do Voleibol Argentino (FeVA) e passam por órgãos do governo, como a Secretaria Nacional de Esportes, e ainda o Enard, organização voltada para o esporte de alto rendimento que envolve entes públicos e privados. Mais do que cifras, a continuidade do treinador depende da manutenção das condições de trabalho.

"Estou contente com as condições de trabalho que me ofereceram e certamente há o que melhorar na equipe. Se as condições seguirem nesse nível, será possível fazer um bom trabalho na Argentina, quero manter a estrutura com a qual tenho contado. Claro que os resultados fazem parte da lógica para manutenção de qualquer treinador, mas esse aspecto quem avalia é a federação, embora eu não me sinta imune a esse conceito", afirmou Velasco, em uma nota enviada ao blog pela FeVA.

A seleção argentina treina no Centro Nacional de Alto Rendimento Esportivo (Cenard), um complexo localizado ao lado do Estádio Monumental, do clube River Plate, em Buenos Aires. Ao chegar ao Cenard, em 2014, uma das primeiras providencias do treinador foi exigir a instalação do taraflex, piso utilizado em competições oficiais, para que o selecionado pudesse treinar em uma superfície apropriada. Esse é um dos exemplos da preocupação de Julio Velasco com as condições de trabalho.

Sonho antigo
Treinar a seleção masculina da Argentina era um sonho antigo de Velasco, assistente da equipe de 1981 a 1983, antes de ganhar projeção mundial, o que ocorreria nos anos 1990, quando moldou e comandou na Itália, de 1989 a 1996, a "Generazione di Fenomeni". Aquela seleção italiana conquistou, entre 1990 e 2000, o tricampeonato mundial (o terceiro já sob o comando do brasileiro Bebeto de Freitas), oito edições da Liga Mundial (cinco com Velasco), a Copa do Mundo 1995 e a prata olímpica em Atlanta 1996.

O treinador passou por outros países e conseguiu resultados expressivos para seleções do terceiro escalão, como República Tcheca e Espanha. Mas foi no Irã, a partir de 2011, que seu nome voltou a ser badalado no mundo do vôlei. Velasco fez do então desconhecido time do levantador Saeid Marouf e do central Seyed Mousavi uma equipe respeitada internacionalmente, colecionando vitórias sobre seleções tradicionais, embora não tenham chegado ao pódio em competições globais.

Uma crise na Argentina, envolvendo alguns titulares e o então técnico Javier Weber, foi a deixa para que a FeVA recorresse ao premiado Velasco, que abriu mão de um salário mais alto no Irã para poder treinar a seleção albiceleste. Ele foi contratado em fevereiro de 2014 e começou a treinar a equipe três meses mais tarde.

Ajustes
Sem um oposto no mesmo nível das equipes de elite, o veterano técnico vem fazendo o que pode, inclusive tornou mais eficiente o jogo dos seus centrais, antes meros coadjuvantes, evolução ocorrida principalmente com Sebastián Solé, melhor bloqueador da Copa do Mundo 2015. Os destaques da equipe são o ponteiro Facundo Conte e os levantadores Luciano De Cecco e Nicolás Uriarte, todos entre os melhores do mundo nas suas posições.

No Mundial 2014, tendo assumido o comando meses antes, Velasco não pode evitar uma atuação discreta, terminando em um modesto 11º lugar.

Argentina ficou em quinto lugar na Copa do Mundo

No ano passado, porém, houve sinais de evolução. Os argentinos comemoraram – com direito a mensagem de parabéns do ex-craque de futebol Diego Maradona pela vitória sobre o Brasil na final – o ouro no Pan de Toronto, mas jogaram contra uma seleção brasileira sem titulares, cheia de juvenis, e os EUA foram ao torneio com uma equipe universitária.

Mais representativo foi o quinto lugar na Copa do Mundo 2015, apesar das ausências de Brasil e França. Os argentinos engrossaram o jogo pra cima dos quatro favoritos, EUA, Itália, Polônia e Rússia, e venceram quem deveriam vencer, com sobras – exceção feita ao inesperado confronto em cinco sets contra a limitada Venezuela, vencido por pouco.

Apontar a Argentina como candidata à medalha no Rio 2016 soa irreal, mas o time pode estragar a festa de algum favorito. Na Copa do Mundo, por exemplo, quase ganharam da Itália, que fechou o jogo pela diferença mínima no tie break. Um ano antes, no Mundial, impediram os EUA de avançarem à terceira fase quando os derrotaram por 3-2. É bom não subestimar os argentinos, especialmente quando eles têm à frente um técnico do quilate de Julio Velasco.

Contratos
A maioria das federações, a exemplo do Brasil, fecha contrato com os treinadores para o ciclo olímpico e raramente se vê uma aposta antecipada no longo prazo – as renovações vão ocorrendo conforme os resultados. Na semana passada, a USA Volleyball, organização que comanda o vôlei nos EUA, anunciou a renovação do contrato de Karch Kiraly como técnico da seleção feminina até as Olimpíadas de Tóquio 2020.

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Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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