Kwiek, após vitórias surpreendentes das dominicanas: "um degrau por vez"
Janaína Faustino
04/06/2019 06h00
Comandante da seleção feminina da República Dominicana, o brasileiro Marcos Kwiek prega cautela diante dos bons resultados (Fotos: Divulgação/FIVB)
Uma das surpresas desta edição da Liga das Nações feminina tem sido, sem dúvida, o desempenho da República Dominicana, seleção desafiante que fechou a segunda etapa na 9ª posição na fase classificatória do torneio. Afinal, a equipe, comandada pelo brasileiro Marcos Kwiek desde 2008, vem quebrando escritas e derrubando rivais tradicionais – ainda que desfalcados –, com uma campanha surpreendente.
Na primeira semana de competição, disputada em Brasília (DF), o conjunto dominicano fez história ao superar a Rússia e o Brasil – que será adversário das caribenhas no Pré-Olímpico de agosto – pela primeira vez em competições organizadas pela Federação Internacional de Vôlei (FIVB). Logo em seguida, na segunda etapa sediada na Itália, derrotou a seleção norte-americana, atual campeã do campeonato que substitui o antigo Grand Prix.
Em entrevista ao Saída de Rede, o técnico Kwiek falou sobre o bom momento vivido por seu time – tradicionalmente conhecido pelo enorme potencial físico e também pela instabilidade técnica e emocional –, além de ter apontado quais são as perspectivas da República Dominicana para a disputa de uma vaga em Tóquio-2020 no torneio classificatório que acontecerá no Brasil.
Décima colocada no ranking da FIVB, a equipe terminou a Liga das Nações do ano passado na 14ª posição. Ex-assistente técnico de José Roberto Guimarães na seleção brasileira, Marcos Kwiek tenta, assim, o segundo pódio em uma competição de nível mundial com as dominicanas, já que conquistou o 3º lugar na Copa dos Campeões em 2009. Para ele, mais relevante do que a satisfação pelo triunfo sobre equipes do primeiro escalão do vôlei internacional nesta edição, é a possibilidade de incentivar ainda mais a prática do esporte no país.
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"Vencer equipes fortes e tradicionais é sempre motivo de grande felicidade para nós, independentemente dos elencos que elas tenham. O Brasil, a Rússia ou os Estados Unidos com times B ou C não importa muito porque a realidade desses países é bastante diferente da nossa. São equipes sempre muito fortes pela quantidade de atletas que eles possuem. Procurando muito, eu tenho hoje um universo de trinta jogadoras, mas não são todas do mesmo nível. São trinta já mesclando atletas do infanto, do juvenil e da seleção adulta. Então, a nossa realidade é totalmente diferente", explica o treinador que, mesmo neste cenário de escassez, levou a República Dominicana ao inédito 5º lugar no Campeonato Mundial de 2014 (no torneio de 2018, as caribenhas terminaram em 9º).
"São muito importantes [as vitórias sobre grandes seleções] porque você acaba fomentando o esporte no país. Quanto mais promovermos isso, melhor será para nós porque aí vamos conseguir captar mais jogadoras que possam ver a seleção como um espelho. As mais novinhas que vejam essas atletas e comecem a jogar voleibol. Então, três, quatro ou cinco jogadoras que se apaixonem pelo vôlei e comecem a praticar já será um número extraordinário para nós", complementa.
Contudo, apesar das vitórias contra rivais de peso nas duas primeiras etapas da Liga das Nações, a República Dominicana ainda não foi suficientemente regular para estar na zona de classificação da fase final, que será disputada em Nanquim, na China. Por isso, para o treinador, é preciso manter os pés no chão.
"Somos uma equipe desafiante. Sabemos da nossa realidade e potencial. O vôlei na República Dominicana é muito novo. É uma seleção muito nova no cenário internacional, um time que tem mais ou menos 15 anos jogando em alto nível. E a gente conseguiu permanecer entre as 10 melhores do mundo no ranking, independente de você achar justo ou não o ranking, o que pra gente é muita coisa. Se você observar bem, as seleções que estão à nossa frente têm realidades muito distintas. (…) Temos consciência de que podemos alcançar muitas coisas ainda, mas precisamos dar um passo de cada vez", explica.
Além disso, Kwiek afirma que a juventude da equipe caribenha pode ser um entrave à busca por mais consistência. O segredo, portanto, é dar mais bagagem às atletas.
Dominicanas venceram as brasileiras pela primeira vez em competições oficiais da FIVB (Foto: Divulgação/FIVB)
"A gente quer ter uma constância, subir um degrau por vez. Esse ano nós estamos jogando em um bom nível, mas é um time muito novo em idade, não em experiência. Das trinta jogadoras, eu tenho só quatro com mais de 30 anos de idade. As pessoas falam que a República Dominicana tem a mesma equipe há dez anos, mas é porque começamos a lançar atletas muito novas por não termos quantidade. Por exemplo, a [ponteira] Brayelin Martinez começou a jogar na seleção principal com 15 e hoje ela tem só 22 anos. Como eu vou renovar? A [líbero] Brenda [Castillo] tem 25. A [central] Jineiry Martinez tem 21, a [ponteira] Yonkaira Peña acabou de fazer 25. Então eu tenho time para mais um ciclo porque a nossa renovação foi feita dois ciclos atrás", destaca.
"Por isso, é importante continuar dando rodagem a essas atletas para que elas cresçam individualmente. O objetivo é que o próximo passo seja a melhora coletiva com um padrão de jogo estabelecido, uma consistência para jogar de igual para igual. Hoje nós temos um time competitivo que faz um jogo maravilhoso e outro não tão bom, mas é justamente pela imaturidade delas. Conseguimos ter uma constância grande diante de adversários do mesmo nível que o nosso, mais intermediário. O nosso problema é manter a regularidade o tempo inteiro em jogos contra times muito superiores ao nosso", acrescenta.
Em relação ao torneio Pré-Olímpico, Marcos Kwiek prevê uma disputa difícil contra a seleção brasileira na chave D. Além disso, faz questão de ressaltar que dificuldades também poderão surgir contra as outras equipes, como Camarões e Azerbaijão.
"A gente tem que pensar primeiro em Camarões, depois no Azerbaijão, que é um time muito forte também, para depois a gente se preocupar com o Brasil. Óbvio que em um Pré-olímpico de três dias, com jogos seguidos, não dá para você se preparar para cada um. Mas estamos usando esse tempo para pensar um dia após o outro e em cada adversário. Sabemos da dificuldade, que vamos precisar estar em um nível altíssimo para sonhar com alguma coisa. Se o Brasil estiver com os seus 100% acho que a disputa vai ficar bem difícil, mas vamos lutar", concluiu Kwiek.
Colaborou Carolina Canossa
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Sobre a autora
Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.
Sobre o blog
O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.