Bernardinho dispara: “Mundial de Clubes é uma competição comercial”
Sidrônio Henrique
03/05/2017 06h00
Bernardinho: "A questão ali é financeira, mercantil. Não é um critério técnico" (Marcio Rodrigues/MPIX)
Mais um round na briga entre o técnico Bernardinho e a Federação Internacional de Vôlei (FIVB), conflito persistente desde a década passada. Desta vez, o alvo do treinador multicampeão é o Mundial de Clubes Feminino, competição que sua equipe, o Rexona-Sesc, disputará de 9 a 14 de maio, em Kobe, no Japão. Para Bernardo Rezende, o evento é "comercial" e a FIVB "vende vagas", contrariando o discurso de difusão da modalidade.
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"O Mundial de Clubes é uma competição comercial. A questão ali é financeira, mercantil. Se você vende vagas para equipes de alto investimento, não é um critério técnico, somente pela classificação nas competições continentais. Dar direito aos times de comprar a vaga é algo fora de propósito, quando se quer difundir a prática do voleibol e fortalecer a modalidade tanto nas seleções quanto nos clubes mundo afora. Vai contra o próprio discurso da FIVB", disse Bernardinho com exclusividade ao Saída de Rede.
Oito participantes
O evento, na sua 11ª edição, terá oito participantes divididos em dois grupos de quatro. O Rexona-Sesc, que há 10 dias conquistou seu 12º título da Superliga, obteve a vaga ao vencer o Sul-Americano em fevereiro. O time está na chave A, com o campeão europeu VakifBank, da Turquia, que conquistou o Mundial em 2013; o Dínamo Moscou, campeão russo; e o Hisamitsu Springs, da cidade-sede. No outro grupo estão o Eczacibasi, da Turquia, ganhador dos dois últimos Mundiais; o Volero Zurich, da Suíça; o NEC Red Rockets, campeão asiático; e o brasileiro Vôlei Nestlé, derrotado pela equipe de Bernardinho por 3-2 na decisão da Superliga 2016/2017.
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Dos oito times, quatro entraram como convidados: Eczacibasi, que defenderá o título mundial, Dínamo Moscou, Volero Zurich e Vôlei Nestlé. "Como é que não há um representante do continente africano? Como não ter um representante da Norceca (Confederação da América do Norte, Central e Caribe), que é tão forte na FIVB? É um contrassenso. E esses convites todos para os times europeus… Acho que ter um europeu a mais, tudo bem. Mas ter três a mais…", ponderou o técnico bicampeão olímpico e tri mundial com a seleção masculina.
Recusa italiana
A FIVB ofereceu um convite, ou wild card, ao vice-campeão europeu, o Conegliano, da Itália, que recusou. Um dos motivos foi o choque de datas entre a série final da liga italiana e o Mundial – o clube acabou sendo eliminado dias depois pelo Modena na semifinal do campeonato nacional. O outro, independentemente do calendário, foi o fato de ter que pagar para participar, segundo a imprensa daquele país. Com a rejeição do Conegliano, a FIVB recorreu ao Dínamo Moscou, quarto colocado no Campeonato Europeu, que aceitou.
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"É um planejamento equivocado da FIVB. Aqui no Brasil tivemos que acelerar os playoffs em função da mudança na data do Mundial (no ano passado foi realizado em outubro). No caso da liga italiana, há duas questões: o calendário e também o próprio Conegliano não estava disposto a pagar o preço pela vaga. Isso acabou levando ao convite ao time de Moscou", afirmou Bernardinho.
Osasco evita o tema, FIVB responde
O SdR procurou o Vôlei Nestlé, que obteve um dos quatro wild cards para a edição 2017. O clube de Osasco, campeão mundial em 2012 e dono de duas pratas e um bronze no torneio, informou, por meio da sua assessoria de imprensa, que não iria comentar o tema.
A competição está em desenvolvimento, conforme a FIVB. "O Mundial de Clubes é recente, ainda não é autossustentável e até bem pouco tempo não havia um organizador sequer interessado em realizá-lo". O torneio foi retomado em 2010, após um hiato de 16 anos.
Sobre os critérios adotados, a entidade se defendeu: "A competição atende a um critério técnico e participam os campeões dos continentes que possuem ligas nacionais relevantes (Europa, Ásia e América do Sul), mais o país-sede (Japão). Esses países não pagam qualquer tipo de taxa para disputar o Mundial. São então convidados de dois a quatro países e, aí sim, o comitê organizador solicita que contribuam para cobrir os custos do evento, incluindo suas próprias despesas no país-sede e o prêmio em dinheiro da competição, que distribui US$ 500 mil aos medalhistas".
A FIVB disse ainda ao SdR que os termos e condições para a entrada dos convidados foram informados em novembro de 2016. "Os interessados aderiram ao evento como uma oportunidade de participação e promoção do voleibol em seus clubes, cidades e países", completou.
Adaptação
O Rexona-Sesc, que no ano passado ficou em quinto lugar na competição, depois de perder para os eventuais campeão e vice apenas no tie break na fase de grupos, faz aclimatação na Holanda antes de seguir para o Japão, nesta quinta-feira (4). A equipe carioca alcançou ainda uma prata e um quarto lugar na história do Mundial. A expectativa de Bernardinho desta vez é "alcançar a semifinal e ver o que vai acontecer".
O Vôlei Nestlé tem treinado em Osasco e embarca para o Japão na quinta-feira.
Estreia contra japonesas
Os dois brasileiros estreiam na madrugada do dia 9, pelo horário de Brasília. Às 3h30, o Vôlei Nestlé encara o NEC. Às 7h, o Rexona-Sesc enfrenta o Hisamitsu. Confira aqui a tabela.
O SporTV transmitirá o torneio – a programação ainda não está disponível no site da emissora. A exemplo de 2016, a FIVB deve exibir todos os confrontos no seu canal no YouTube.
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O texto foi atualizado, às 10h40, para inclusão da resposta enviada na manhã desta quarta-feira (3) pela FIVB. A entidade havia sido procurada antes da publicação da matéria.
Sobre a autora
Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.
Sobre o blog
O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.