Por Janaina Faustino

Com o Campeonato Mundial a todo vapor na fase inicial, o Saída de Rede resolveu fazer uma análise preliminar acerca do desempenho de algumas das seleções de maior tradição no cenário internacional. Entre elas, aquelas consideradas candidatas ao ouro, como Rússia, França e EUA; o Brasil e a Itália, que correm por fora, buscando o retorno ao topo com o quarto título mundial; e, por fim, a Polônia, que ainda não desfruta do prestígio das demais, mas procura se firmar como "grande" e tenta o bicampeonato.

Rússia – entre todas as favoritas, talvez a Rússia tenha sido a seleção que apresentou o voleibol mais encorpado até o momento. Mesmo que ainda não tenha sido efetivamente testada em jogos contra adversários de grande relevo nesta fase – venceu a valente seleção australiana e a frágil Tunísia por 3 sets a 0, mas ainda enfrentará a Sérvia e os EUA pelo grupo C –, a equipe liderada por Sergey Shlyapnikov vem mostrando, desde a fase final da Liga das Nações, um padrão de jogo surpreendentemente diferente daquilo que nos habituamos a ver na escola russa. Apenas para ilustrar a sua força, a equipe aplicou um 25-6 no segundo set contra a equipe tunisiana, o placar mais impactante até o momento no Mundial. Se engana quem imagina que o time ainda joga em marcha lenta, com bolas altas nas pontas, bloqueios imensos e esquema defensivo ineficiente. O que vemos atualmente é uma seleção muito bem postada taticamente, coesa, com ótimo volume de jogo, velocidade, variação na estratégia de saque, fluidez nas ações ofensivas/defensivas e caras novas capazes de mudar o curso de uma partida. Se por um lado o time conta com a presença de figuras experientes, como os levantadores Sergey Grankin e Alexander Butko, o líbero Alexey Verbov e o oposto Maxim Mikhaylov – em excepcional fase desde o início da temporada –, por outro o grupo se renova com os promissores e jovens ponteiros Dmitry Volkov e Egor Kliuka. Os atuais campeões europeus e da Liga das Nações vivem um processo de reinvenção para voltar ao topo do vôlei mundial. Se conseguirão tal feito somente o tempo dirá. De qualquer modo, eles já deixaram evidente que têm condições para tanto.

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França – de todas as seleções do primeiro escalão, a francesa pode ser considerada aquela que joga o voleibol mais bonito. É incontestável a qualidade técnica deste time. E a equipe iniciou sua caminhada no Mundial com uma vitória sem sobressaltos sobre a inexperiente equipe chinesa, com o astro Earvin Ngapeth sendo pouco requisitado nas ações de ataque construídas pelo habilidoso levantador Benjamin Toniutti. Nitidamente, o ponteiro estava sendo poupado para a batalha que se deu contra o Brasil, de onde Ngapeth saiu como o maior pontuador com 22 pontos. Se o reforço do Zenit Kazan não brilhou contra a China, o jovem oposto Stephen Boyer, por outro lado, vem demonstrando, desde a Liga das Nações, o porquê de ter sido escolhido o substituto de Antonin Rouzier na função. Com apenas 22 anos, ele anotou 23 pontos no confronto contra a China. No duelo contra o Brasil, entretanto, Boyer não se saiu tão bem, marcando apenas 11, já que a seleção brasileira conseguiu inibir grande parte de suas ações. O que salta aos olhos nesta equipe, contudo, além dos nomes já ressaltados e da notória qualidade técnica, é a enorme quantidade de boas peças que o técnico Laurent Tillie tem à disposição no banco de reservas. Contra a seleção verde-amarela, Tillie mudou metade do time titular, apostando inclusive na troca de levantadores (Antoine Brizard, o reserva, anotou 8 pontos no jogo), e conseguiu uma importante recuperação que só não foi convertida em vitória porque o Brasil se reergueu no quinto set. E, mesmo com as mudanças efetuadas, a equipe permaneceu com o seu padrão caracterizado pela execução apurada de todos os fundamentos, pela agressividade e pelo excelente volume de jogo. E, pela terceira rodada do torneio, a França bateu a seleção do Egito com tranqüilidade por 3 sets a 0. Apesar de tudo isso, falta à equipe francesa transformar tamanha qualidade em títulos mais expressivos. Afinal, eles venceram a extinta Liga Mundial, mas fracassaram na Rio 2016, no Campeonato Europeu do ano passado e também caíram diante da seleção russa, em casa, na final da Liga das Nações no início desta temporada. Veremos se os franceses conseguirão converter tanto favoritismo no título mundial.

EUA – é possível afirmar que a seleção do técnico John Speraw, repleta de proeminentes revelações e estrelas reconhecidas no cenário internacional, não começou bem o Campeonato Mundial. Também apontada como uma das candidatas à medalha de ouro, a equipe venceu o primeiro jogo contra a Sérvia por 3 sets a 2 – um resultado até aceitável em função da capacidade da talentosa e, ao mesmo tempo, inconstante seleção dos Bálcãs –, mas, estranhamente, não conseguiu fazer bem o dever de casa contra o aguerrido conjunto australiano. A partida, decidida também no tie-break, mostrou alguns dos problemas que o grupo vem apresentando desde a estreia contra os sérvios: um esquema de jogo oscilante, o excesso de erros – foram 37 ao total –, a ineficiência nos bloqueios – apenas 4 ao longo de todo o cotejo – e uma certa imprecisão do badalado levantador Micah Christenson na distribuição das jogadas. Em alguns momentos, o time parecia displicente e desconcentrado. Em outros, esboçava uma confiança de quem poderia vencer a partida no momento que bem quisesse, e essa postura fez com que os australianos, com muito mais apetite, empatassem o jogo em 2 a 2. Liderados pelo oposto reserva Lincoln Williams, que marcou 21 pontos, o time acabou se desmobilizando no último set, permitindo a recuperação norte-americana. O fato é que o próximo compromisso dos norte-americanos será justamente contra a Rússia, neste sábado (15). No duelo, a equipe terá duas opções: se recuperar no torneio, mostrando o voleibol competitivo e eficiente que lhe rendeu a medalha de bronze na Liga das Nações, ou se complicar ainda mais nesta primeira fase do Mundial.

Brasil – a seleção comandada pelo técnico Renan Dal Zotto não chegou ao Mundial com o favoritismo de outrora. Passando por um período de incertezas motivado pelo desempenho sofrível na Liga das Nações e pela ausência de jogadores essenciais, como os ponteiros titulares Ricardo Lucarelli e Maurício Borges, cortados por lesão, a equipe verde-amarela ainda enfrenta uma evidente crise de renovação – tanto no naipe masculino quanto no feminino, diga-se de passagem. Mas, se a vitória "morna" na estreia, contra a inexpressiva seleção do Egito, não pareceu mais do que obrigação para um time que almeja chegar à quinta final consecutiva na competição, o triunfo diante da festejada esquadra francesa, grande candidata ao título, mostrou um Brasil comprometido e disposto a passar por cima de todas estas dificuldades. Naquele que talvez tenha sido o mais emocionante confronto do torneio até o momento, a seleção impressionou pela agressividade e pelo incrível ritmo de jogo nos dois primeiros sets. Os fundamentos saque, bloqueio (18 no total) e defesa funcionaram de maneira irretocável e a seleção brasileira imprimiu um volume de jogo que intimidou os franceses. Destaque para o oposto Wallace, maior pontuador da seleção com 20 pontos, para o ponteiro Lipe, que anotou 15 (sendo 6 de bloqueio) e para Douglas Souza, que fez 14 pontos e finalmente demonstrou consistência diante de um grande adversário. A virada francesa, motivada pelas mudanças feitas pelo técnico Laurent Tillie e pela preocupante queda no rendimento do time brasileiro a partir da terceira parcial, parou no quinto set, quando o Brasil reagiu, contando com a força de Wallace e dos centrais Lucão e Maurício Souza. É verdade que o Brasil ainda não ganhou nada e precisa manter o mesmo nível de atuação, evitando as recorrentes oscilações se quiser chegar à final. Mas, é verdade também que o desempenho diante a França pode fazer com que a equipe ganhe moral, cresça de produção e surpreenda aqueles que não a colocam como favorita. O próximo compromisso será contra a Holanda neste sábado (15).

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Itália – alternando altos e baixos nas últimas temporadas de seleções, a tricampeã Itália, comandada pelo técnico Gianlorenzo Blengini, chegou à competição também buscando uma recuperação no cenário mundial. Humilhada no Campeonato Europeu do ano passado, quando foi eliminada pela Bélgica nas quartas de final, e oitava colocada na recente Liga das Nações, a tradicional equipe joga em casa e vê no ponteiro cubano naturalizado italiano Osmany Juantorena e em Ivan Zaytsev seu ponto de equilíbrio para fazer a diferença no campeonato. É inegável que os dois jogadores são capazes de mudar a seleção italiana de patamar quando vestem a camisa da Azzurra. Em seu primeiro confronto no Mundial, o time bateu o conjunto japonês por 3 sets a 0, mostrando bastante consistência, volume de jogo e tendo como maior destaque o levantador Simone Giannelli. Apesar de jovem, ele dá provas de que habilidade, ousadia e eficiência na distribuição das jogadas são características marcantes em sua atuação. O oposto Zaytsev foi o maior pontuador com 13 pontos. Já contra a seleção belga, seu segundo adversário, a Itália apresentou um jogo ainda mais entrosado, com poucos erros (14 no total), 10 pontos de saque e 20 pontos do oposto. É impossível prever até onde os italianos poderão chegar no Mundial. No entanto, não dá para subestimar sua força e tradição.

Polônia – é bastante curioso o caso da atual campeã mundial. Após a conquista da medalha de ouro no torneio disputado em casa, em 2014, a Polônia pouco (ou nada) apresentou de relevante no cenário internacional de vôlei. Apenas para citar as competições mais recentes, nos jogos olímpicos, no Rio, a equipe terminou em quinto lugar; no Campeonato Europeu do ano passado, chegou em décimo lugar; por fim, na Liga das Nações, repetiu a mesma colocação dos jogos olímpicos, ao lado da irregular Sérvia. Seus fanáticos fãs tratam a seleção como "a equipe a ser batida", mas a verdade é que a Polônia não está sendo bem sucedida na tentativa de consolidação da equipe como uma das maiores e mais prestigiadas do mundo. Talvez a contratação do belga Vital Heynen como técnico e o investimento maciço nas categorias de base comecem a render os frutos esperados. Para o Mundial, Heynen apostou em uma combinação entre figuras bastante conhecidas, como o ponteiro Michal Kubiak, o levantador Fabian Drzyzga, o oposto Bartosz Kurek e o central Karol Klos, e jovens valores, como os ponteiros Artur Szalpuk e Bartosz Bednorz. Mesmo tendo enfrentado seleções que praticamente não ofereceram resistência até o momento, a equipe soube fazer o dever de casa e alcançou dois triunfos seguidos. No primeiro, venceu Cuba por 3 sets a 1, tendo Szalpuk como maior pontuador (com 20 pontos), e no segundo derrotou Porto Rico, com o ponteiro Aleksander Sliwka terminando o cotejo com o maior número de pontos (13 no total). Vamos aguardar o decorrer da competição para ver se a Polônia finalmente vai conseguir se impor como uma potência do voleibol mundial.

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