Favorito ao título da Liga Mundial, técnico diz que França ainda não superou Rio 2016
Sidrônio Henrique
02/07/2017 06h00
Aquela noite de 15 de agosto de 2016 no Maracanãzinho, Rio de Janeiro, ainda atormenta o técnico Laurent Tillie. Diante de quase 10 mil torcedores, o treinador da França viu acabar o sonho do ouro olímpico na primeira fase ao perder por 1-3 para a seleção brasileira, que se sagraria campeã dali a seis dias. "Não é fácil refletir sobre nossa eliminação na Rio 2016, o gosto é amargo, nós não esquecemos", disse Tillie, em entrevista exclusiva ao Saída de Rede. "O consolo é que na nossa chave estavam as equipes que seriam ouro (Brasil), prata (Itália) e bronze (EUA). Mas que o fracasso no Rio sirva como alerta para nosso time rumo a Tóquio 2020", completou.
Quase um ano depois, a França volta ao Brasil, desta vez em Curitiba, para as finais da Liga Mundial 2017. Se a lembrança da eliminação nos Jogos Olímpicos é dolorosa, foi também em solo brasileiro que os franceses conquistaram seu primeiro grande título, a edição de 2015 da Liga. Depois de vencer a segunda divisão daquele ano, vieram ao Rio e levaram também a primeira. Na sequência, ganharam o título do Campeonato Europeu. A campanha quase perfeita esta temporada – apenas uma derrota (com a vaga nas finais já garantida) em nove jogos e o primeiro lugar na fase classificatória – dá mais uma vez aos franceses o status de favoritos.
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"Dizem que somos favoritos outra vez, mas sinceramente chegar às finais agora foi um bônus, pois tínhamos sete atletas machucados e uma das peças-chave do ciclo passado deixou a seleção. É verdade que fomos capazes de manter um bom nível, os jogadores que foram utilizados estão bem técnica e fisicamente, os novatos se mostraram bastante competitivos, mas não nos vejo como favoritos, essas finais serão equilibradas", comentou o técnico, com protocolar modéstia.
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O jogador a quem Tillie se refere que deixou a seleção é o oposto Antonin Rouzier – despediu-se após as Olimpíadas. Entre os que sofreram lesões está o principal nome do time, o ponta Earvin N'gapeth, que recuperado de um estiramento no abdômen estará em Curitiba – ele entrou brevemente em quadra na última rodada da fase preliminar. Outros que passaram pelo departamento médico foram os centrais titulares Kevin Le Roux e Nicolas Le Goff.
Revelação
Na fase preliminar da Liga Mundial, com as ausências de N'gapeth e Rouzier, quem chamou para si a responsabilidade de ser a principal referência do time no ataque foi o jovem oposto Stephen Boyer, 21 anos, 1,96m, que compensa a pouca altura com muita impulsão e habilidade. Ele foi o maior pontuador e o segundo melhor atacante da competição na fase inicial. Em Curitiba, tendo a companhia de N'gapeth para dividir a carga ofensiva nas bolas altas, Boyer deve dar ainda mais dor de cabeça às defesas adversárias. A imprensa francesa classificou sua ascensão como "meteórica".
Laurent Tillie se empolga ao falar sobre essa revelação do voleibol francês, que já havia sido convocado antes, mas sem participar de grandes torneios. "Boyer é fantástico. Eu admito que foi uma aposta arriscada colocar alguém tão novo, que nunca havia enfrentado essas seleções, com bloqueios tão altos, mas o garoto mostrou que tem personalidade e conquistou o lugar dele. Claro que os mais velhos deram bastante apoio, o que foi fundamental. Mas, veja só, o Boyer treina muito, ele se dedica para ser o melhor e isso faz muita diferença no jogo dele".
O treinador faz questão de enfatizar o papel de N'gapeth como líder da seleção francesa. "Earvin é um dos melhores jogadores do mundo, um guerreiro, um líder nato, com muita habilidade, uma técnica refinada, além de muita força mental. Ele foi o grande astro desse time no ciclo olímpico passado e seguirá sendo pelo menos até 2020, sem dúvida".
Jogo bonito
A França conserva aquele voleibol que para muitos é o mais bonito da atualidade. Apesar da despedida precoce na Rio 2016, como resultado da pressão sentida por alguns titulares e o consequente comprometimento da parte técnica e do plano tático, ninguém que acompanhe a modalidade questiona o potencial dessa seleção. A eficiência na virada de bola, a sintonia entre saque, bloqueio e defesa, além da velocidade nos contra-ataques, fazem dela uma equipe a ser temida. O levantador Benjamin Toniutti, que teve atuações abaixo da média nos Jogos Olímpicos, voltou a mostrar um bom voleibol em 2017, contribuindo para que o time jogue em alto nível.
"Honestamente, eu acho que o nosso saque precisa melhorar, o que irá tornar o nosso bloqueio mais eficiente", ponderou Tillie. Uma preocupação do técnico é com a qualidade dos reservas. "No ciclo passado, a inexperiência do nosso banco, apesar do bom nível dos jogadores, era uma preocupação. Agora queremos dar rodagem a todos em cada competição que disputarmos", afirmou.
A seleção francesa está na chave de Sérvia e Estados Unidos. A estreia nas finais da Liga Mundial 2017 será contra os americanos, no dia 4, às 17h40. O confronto com os sérvios será no dia 6, no mesmo horário.
Sobre a autora
Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.
Sobre o blog
O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.