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Uma nova Gattaz: aos 36 anos, ex-central da seleção vive grande fase

Sidrônio Henrique

15/02/2018 06h00

Carol Gattaz: "Tenho muita gratidão pelo Minas" (foto: Guilherme Cirino/Camponesa/Minas)

Sorte do vôlei que o Rio Preto Automóvel Clube não tinha time de basquete feminino naquele ano. Caroline de Oliveira Saad Gattaz ficou mesmo com o voleibol. A menina alta, então com 14 anos, sempre havia praticado esporte em sua cidade natal, São José do Rio Preto (SP). "Na escola eu jogava futebol, basquete, handebol, tudo… O vôlei era o que eu menos jogava, não me interessava muito", conta a central Carol Gattaz, capitã do Camponesa/Minas, ao Saída de Rede.

Aos 17 anos já disputava sua primeira Superliga, pelo São Caetano (SP). Era o final de 1998, lá se vão quase 20 anos. Chegou à seleção brasileira juvenil. Mais algum tempo e, aos 22, com seu 1,92m, estreava na adulta. Duas vezes vice-campeã mundial, cinco vezes campeã do Grand Prix, três vezes campeã da Superliga, até hoje não superou o trauma de não ter participado de uma Olimpíada e perdido a chance do tão sonhado ouro. A dispensa antes dos Jogos de Pequim, em 2008, é uma ferida que não cicatriza. "O corte de Pequim foi sem dúvida o maior baque da minha vida. Até hoje eu ainda sinto muito por ter sido cortada. Tive grandes conquistas na minha carreira, mas nenhum título supre a falta do ouro olímpico".

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Hoje, aos 36 anos, Carol Gattaz é um dos grandes nomes da Superliga. O Camponesa/Minas, diz ela, a ajudou a se reinventar. Chegou em 2014, depois de algumas temporadas em baixa, quando tudo indicava que o fim da sua carreira estava próximo. "Fui contratada em setembro quando geralmente em maio você já sabe onde vai jogar na próxima temporada", relembra a capitã. "Tenho muita gratidão pelo Minas, por todo mundo que me acolheu", completa.

Gattaz não desistiu da seleção, mas não é sua prioridade. "Claro que se me convocassem para o Mundial, eu aceitaria na hora. Mas também não é uma coisa que eu fique pensando, 'ah, será que vou ser chamada?'. O meu objetivo é estar bem no clube, fazer uma boa temporada, para que na próxima eu possa fechar um contrato bom e, claro, manter a minha longevidade, que é o que eu mais quero, venho trabalhando para isso".

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A mudança na rotina inclui mais cuidado com a alimentação. Já vão longe os dias em que, nas suas palavras, "era gordinha" e chegou a ser chamada de "mão de pantufa", vejam só. "A própria mudança pela qual meu corpo passou, com mais massa magra, ajudou a melhorar minha potência", comenta.

Gattaz bateu um longo papo com o SdR. Falou ainda sobre Bernardinho, Zé Roberto, Tifanny, seu relacionamento com a também jogadora de vôlei Ariele Ferreira (atualmente no Hinode Barueri). Apontou as melhores centrais do País, comentou sobre as temporadas no exterior, seu jeito de liderar, seu ídolo, se pensa em parar de jogar e o que pretende fazer depois disso.

Confira a entrevista que a central concedeu ao blog:

Gattaz diz que não desistiu da seleção, mas não é sua prioridade (Guilherme Cirino/Camponesa/Minas)

Saída de Rede – Como foi o seu começo no voleibol?
Carol Gattaz –
Na escola eu jogava futebol, basquete, handebol, tudo… O vôlei era o que eu menos jogava, não me interessava muito. Eu comecei a jogar basquete pelo Automóvel Clube e também passei a praticar voleibol porque me chamaram. Quando foram inscrever o time de vôlei do clube na Federação Paulista, eu acabei optando por esse esporte porque aí eu já gostava bastante, tinha 14 anos. Também fiquei com o vôlei porque não tinha mais basquete feminino na época no clube. Aos 17 anos estava disputando minha primeira Superliga, na temporada 1998/1999, pelo São Caetano, mas era reserva, entrava pouco. Nossa, faz tanto tempo.

Saída de Rede – Carol, você sempre foi central ou chegou a jogar noutras posições nas categorias de base?
Carol Gattaz –
Joguei como ponteira ainda muito menina, mas foi uma fase bem curta, em São José do Rio Preto, quando eu era infantojuvenil. Meu negócio mesmo era ser central.

Saída de Rede – Quando foi sua primeira convocação para a seleção na base?
Carol Gattaz –
Foi no juvenil, em 1999, para o Mundial daquele ano. Fomos vice-campeãs, perdemos na final para a Rússia (0-3), a (Ekaterina) Gamova era a principal jogadora delas, já jogava bem demais, virava muita bola.
[Nota do SdR: naquela seleção brasileira jogavam também Érika Coimbra, Fernandinha e Paula Pequeno.]

Saída de Rede – No segundo semestre de 2003, quando o Zé Roberto assumiu a seleção feminina, ele te chamou. Como foi sua primeira participação na seleção adulta?
Carol Gattaz –
Eu treinei com o grupo que ia para a Copa do Mundo, mas não fui. No ano seguinte fui para o Grand Prix.

Técnico Zé Roberto conversa com Gattaz durante partida da seleção (FIVB)

Saída de Rede – Em 2005 começava um novo ciclo olímpico e você foi convocada todos os anos. Foi ao Mundial 2006, participou de quase tudo, exceto pelos cortes nas equipes que foram ao Pan, em 2007, e à Olimpíada de Pequim, em 2008. Quase dez anos depois, como é que você analisa o corte antes dos Jogos de Pequim?
Carol Gattaz –
Ainda vejo como um baque, afinal eu participei de todos os anos daquele ciclo olímpico, estive em todos os torneios importantes, só não fui ao Pan do Rio em 2007 porque eu tive um problema de saúde e perdi muito peso. O corte de Pequim foi sem dúvida o maior baque da minha vida, pra ser bem sincera. Até hoje eu ainda sinto muito por ter sido cortada. Tive grandes conquistas na minha carreira, mas nenhum título supre a falta do ouro olímpico. Claro que antes dos Jogos ninguém sabia quem ia ganhar, mas elas ganharam. Não ter esse ouro pesa muito para mim. Eu acho que não merecia ser cortada, mas foi uma decisão da comissão técnica. O grupo foi lá, ganhou o ouro. Então se era para ter feito alguma coisa certa, eles fizeram.

Saída de Rede – O Zé Roberto chegou a conversar contigo logo após o corte?
Carol Gattaz –
Nem houve conversa. Dias depois que nós ganhamos o Grand Prix foi divulgada a lista das 12 jogadoras que iam a Pequim. Eu estava na casa dos meus pais, em São José do Rio Preto. Vi a notícia e fiquei muito mal, arrasada.

Saída de Rede – Você guarda alguma mágoa do Zé Roberto pelo corte de Pequim 2008?
Carol Gattaz –
De jeito nenhum. Tenho um relacionamento muito bom com o Zé, com a família dele. Tenho gratidão pelas oportunidades que ele me deu. Eu acho que a principal qualidade de um ser humano deve ser a gratidão, pois isso faz com que você ande pra frente. Nunca tive raiva dele. Sou grata por tudo que ele me ensinou.

A central ataca durante uma partida contra os EUA no Mundial 2006 (FIVB)

Saída de Rede – No ciclo seguinte, a partir de 2009, lá estava você de novo na seleção. Como foi voltar ao time depois de não ter ido a Pequim?
Carol Gattaz –
Na temporada de clubes 2008/2009 eu fui campeã da Superliga pelo Rexona, fiz um campeonato muito bom e aquela equipe me trouxe alegria. Eu estava muito mal antes do torneio, o corte da Olimpíada tinha sido traumático. O Rexona recuperou minha vontade de vencer, voltei à seleção com bastante pique. Infelizmente, no final de 2009, início de 2010, tive uma lesão que atrapalhou muito a minha carreira, uma fascite plantar no pé direito. Fui ao Mundial 2010, de novo vice-campeã. Depois, ainda no Rexona, fiquei no banco, aí já não fui mais chamada para a seleção naquele ciclo.

Saída de Rede – Voltou à seleção em 2013 para a disputa da Copa dos Campeões, o Zé Roberto chamou veteranas como você e a Walewska. Na época, logo depois do título, você disse que estaria sempre disposta a jogar pela seleção. Aquela foi sua última convocação. Este ano você completa 37. Se vê em condições de defender a seleção, é algo que ainda quer?
Carol Gattaz –
Eu não fico pensando muito nisso porque se eu tivesse que ser chamada, ter uma oportunidade mais recente, já teria tido. Nunca vou dizer não. Eu gostei muito de jogar pela seleção e serviria ao time novamente com certeza. Quem tem que ver se ainda sou útil ou não é o Zé Roberto e a comissão técnica dele. Hoje a seleção está muito bem servida de centrais. As jogadoras dessa posição estão muito bem, se mantêm num nível forte. Claro que se me convocassem para o Mundial, eu aceitaria na hora. Mas também não é uma coisa que eu fique pensando, "ah, será que vou ser chamada?". O meu objetivo é estar bem no clube, fazer uma boa temporada, para que na próxima eu possa fechar um contrato bom e, claro, manter a minha longevidade, que é o que eu mais quero, venho trabalhando para isso.

Gattaz vira mais uma na Superliga: central é uma das referências no Minas (Guilherme Cirino/Camponesa/Minas)

Saída de Rede – Você disse que a seleção está bem servida de centrais. Quem são as melhores da posição hoje no Brasil na sua avaliação?
Carol Gattaz –
Walewska, Fabiana, Thaisa… A Thaisa não está jogando agora, mas vai voltar logo. Sempre que penso nas melhores, nas que mais gosto de ver jogar, são essas três. Tem a Adenizia, ela joga demais. Tem a Juciely, que não está melhor no momento porque se recupera de uma lesão, isso atrapalha. Tem também a Bia e a Carol, que são mais novas e têm bastante potencial, devem se destacar por muito tempo.

Saída de Rede – Entre as centrais estrangeiras, quem chama sua atenção?
Carol Gattaz –
Olha, eu tenho acompanhado muito pouco os campeonatos internacionais, tanto de clubes quanto de seleções.

Saída de Rede – Quem foi ou quem é o seu grande modelo enquanto atleta? Há alguém em quem você se espelha, um ídolo?
Carol Gattaz –
A Walewska é a pessoa que mais me inspira, ela é uma motivação pra mim. Vejo a Wal aos 38 anos jogando em alto nível, com um físico muito bom, isso é fantástico. Ela é super disciplinada e realmente me inspira, não só como atleta, mas como pessoa também.

Bloqueando o ídolo, a também central Walewska Oliveira (Guilherme Cirino/Camponesa/Minas)

Saída de Rede – Depois daquele problema há alguns anos, a fascite plantar, você chegou a ficar no banco, teve algumas temporadas não tão boas, mas aí foi para o Minas Tênis Clube, na temporada 2014/2015, e voltou a jogar em alto nível, surpreendendo muita gente. O que foi que aconteceu para que você desse uma guinada em sua carreira?
Carol Gattaz –
Mudou tudo praticamente. É até engraçado. Primeiro, o Minas me acolheu. Eu estava sem time e fui contratada em setembro de 2014, quando geralmente em maio você já sabe onde vai jogar na próxima temporada. O time da Amil, de Campinas, tinha acabado e eu estava sem equipe, não tinha para onde ir. Estava treinando no Pinheiros na época, para manter a forma e porque eles abriram as portas para que eu tentasse conseguir um patrocinador. De repente, pintou o convite do Minas. Eu topei e acho que foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida.

Saída de Rede – Por quê?
Carol Gattaz –
Aqui no Minas eu me encontrei, não só como atleta, mas houve algo fantástico na minha vida pessoal também e tudo mudou para melhor. Eu me tornei mais madura, me sinto outra pessoa, outra jogadora. Sou muito mais calma em quadra, sei aproveitar minha experiência. Hoje eu gostaria de estar na seleção porque sei que poderia contribuir, por estar bem fisicamente e por tudo que acumulei, tudo que entendo de jogar vôlei. O que pesou muito em todas essas mudanças é que eu encontrei o amor da minha vida, né. Tenho muita gratidão pelo Minas, por todo mundo que me acolheu. Por ter encontrado a Ariele, que me deu tranquilidade. Nós duas temos muita cumplicidade, muito amor uma pela outra, muito respeito. Isso tudo me deixa muito mais calma dentro de quadra. A Ariele me deu uma paz, uma tranquilidade que eu precisava. Eu devo muito a ela… Essa minha maturidade, essa vontade de jogar. Ela me deu um gás a mais.

Carol com a esposa, a ponteira Ariele Ferreira, do Hinode Barueri (Reprodução/Instagram)

Saída de Rede – Mas houve alteração na sua rotina de treinos, no modo de se cuidar para melhorar seu desempenho?
Carol Gattaz –
Fiz mudanças na minha alimentação, no cuidado com o meu corpo, dou mais atenção ao meu descanso. Isso tudo é reflexo do meu amadurecimento. Antes eu gostava muito de sair, ir pra balada… Não que eu não goste mais, mas agora eu saio com uma frequência muito menor. Hoje eu descanso mais, sei que meu corpo precisa. Não que fosse largada antes, sempre ralei, me cuidei, mas acho que se eu tivesse a postura que tenho hoje desde os meus 19 anos, por exemplo, eu teria aprendido algumas coisas mais cedo, coisas que aprendi muito tarde. Eu estou colhendo os frutos somente agora. Só fui tomar suplementos, que são importantes, em 2013 quando eu jogava pelo Amil. São coisas que te ajudam a se recuperar mais rápido. Quanto antes você começa, seu corpo responde melhor. Aí você constrói um corpo melhor.

Saída de Rede – Na época de juvenil você estava acima do peso ideal. O quanto isso te incomodava?
Carol Gattaz –
Muito, muito, muito… Eu pesava 90 quilos, hoje eu peso 78 e minha taxa de gordura é baixíssima. Antes eu pesava 90 e minha taxa de gordura devia ser sei lá quanto. Eu era gordinha, sabe, meu quadril, minhas coxas, minha barriga… Se naquela época eu tivesse a cabeça que tenho agora e o acompanhamento necessário, teria mudado antes, com certeza. Lá pelos 21 anos foi que comecei a emagrecer. Em 2003, quando cheguei à seleção adulta, aos 22 anos, já estava bem mais leve, mas ainda não era o ideal, que é o que tenho hoje.

Com Ariele, as duas irmãs e a mãe, em São José do Rio Preto. As irmãs, ambas mais novas e com 1,81m, nunca tiveram interesse pelo esporte, segundo Carol Gattaz (acervo pessoal)

Saída de Rede – Você jogou duas temporadas no exterior, uma na Itália (2007/2008) pelo Monte Schiavo Jesi e outra, interrompida, no Azerbaijão (2012) pelo Igtisadchi Baku. Por que não seguiu na Itália e o que houve no Azerbaijão?
Carol Gattaz –
Meu ano na Itália não foi bom, acabei não fazendo um bom campeonato. Recebi um convite do Rexona para a temporada seguinte e decidi voltar. O time no Azerbaijão foi o mesmo em que a Fernandinha tinha jogado. Ela havia me avisado que o clube era problemático. Tive alguns problemas burocráticos, mas estava bem fisicamente. Só que eles foram antiprofissionais. Não os processei porque o meu empresário disse que seria difícil ganhar um processo contra eles lá. Recebi o equivalente pelo mês que fiquei e voltei para o Brasil. Depois disso fiquei sem time o restante da temporada. Preferi ficar sem porque já era dezembro quando voltei, e se esperasse acabar a temporada na próxima estaria zerada. Na época eu ainda tinha a pontuação do ranking. No ano seguinte fui contratada pelo Amil.

Saída de Rede – De uns anos para cá, é possível ver que o seu ataque está mais potente. Como é que você melhorou seu desempenho?
Carol Gattaz –
Sempre fui habilidosa, mas não tinha força. Então muitas vezes eu virava bola porque sabia tirar do bloqueio ou então explorava. Diziam que eu tinha mão de pantufa, que não sabia atacar com força. A própria mudança pela qual meu corpo passou, com mais massa magra, ajudou a melhorar minha potência. Claro que eu me valho da minha técnica, nunca vou ser aquela jogadora com muita explosão, mas hoje em dia bato bem mais forte do que quando era mais nova.

Gattaz: "Hoje eu gostaria de estar na seleção porque sei que poderia contribuir" (FIVB)

Saída de Rede – Desde o juvenil você sempre se destacou como bloqueadora, mas no ataque te viam durante muito tempo como alguém que ficava restrita a duas jogadas, o tempo atrás e principalmente a china. Você tinha dificuldade em atacar pelo meio?
Carol Gattaz –
A minha china sempre foi muito melhor do que os ataques pela frente, como o tempo ou a chutada, e essas minhas bolas não eram boas mesmo. Como a china era muito boa e as da frente eram bem medianas, ninguém queria que eu atacasse pela frente. Aí acabava atacando só por trás da levantadora, o tempo atrás e a china. No Rexona eu passei a treinar bastante com o Bernardinho os ataques na frente, batendo pelo meio. Ele acreditava muito em mim, que eu poderia atacar por ali. Então eu comecei a melhorar essa bola. O Bernardo ficava um tempão comigo no caixote, treinando muito. Como naquela época eu fazia rede de 3 (Fabiana fazia a de 2), eu tinha que atacar pela frente. Eu melhorei demais. O meu percentual de aproveitamento nos ataques pelo meio é bem parecido com os feitos por trás. Claro, tem menos marcação, eu não faço tanto.

Saída de Rede – Ao chegar no Minas, para o período 2014/2015, você se alternava com a Walewska nas redes de 2 e de 3. A partir da temporada seguinte, com a saída dela, você tem feito sempre a de 2, quer dizer, tem um trabalho mais pesado como bloqueadora, que é não apenas cobrir a diagonal, mas também ajudar a levantadora a reduzir o espaço da atacante. Com o voleibol cada vez mais rápido, como é fazer a rede de 2?
Carol Gattaz –
O bloqueio da levantadora é bem menor e para ajudá-la é bastante complicado (ela faz apenas uma passagem com a oposta na rede). Imagina, a central tem que chegar, precisa fechar o meio, cobrindo também a diagonal. A gente tenta o máximo, faz muito esforço. Você também combina a marcação com a defesa, "vou fechar um pouco mais lá e vocês defendem mais aqui" ou então "vou deixar esse espaço aberto, fiquem atentas ali". Tem que combinar o tempo todo com a defesa porque os jogos estão muito rápidos e isso tem tornado cada vez mais difícil bloquear. A defesa tem que trabalhar bastante. Claro que as bloqueadoras devem pelo menos tocar na bola, mas é bem complicado numa rede de 2 chegar montada no bloqueio.

A meio de rede diz que gostaria de ajudar mais o time (Orlando Bento/MTC)

Saída de Rede – Carol, você tem recebido muitos elogios, se mantém há várias rodadas entre as atacantes com melhor aproveitamento na Superliga. Que avaliação faz das suas atuações esta temporada?
Carol Gattaz –
Olha, meu jogo tá fluindo, venho tentando colocar em prática o que a comissão técnica pede. Porém, uma lesão no joelho esquerdo tem me acompanhado e sou muito exigente comigo mesma. Não estou conseguindo cumprir meus objetivos que são treinar todos os dias e ajudar mais a equipe. Muitas vezes tenho que ficar fora de treino para poder jogar. Claro que tenho conseguido dar o meu melhor dentro de quadra, mas ao mesmo tempo essa lesão está me incomodando muito. Se não tivesse esse problema, eu poderia estar melhor do que estou. Estou satisfeita, mas não totalmente porque poderia render ainda mais.

Saída de Rede – Qual é a lesão no seu joelho esquerdo?
Carol Gattaz –
Tenho tendinite patelar.

Saída de Rede – Recentemente a ponteira Gabriela Guimarães, do Sesc, passou por isso e se submeteu a uma cirurgia. Isso vai ser necessário no seu caso?
Carol Gattaz –
Não, o meu caso não é cirúrgico, já foi avaliado pelos médicos. Eu vou tentar outro tipo de intervenção, mas isso somente depois do final da temporada porque eu não quero ficar de fora, preciso ajudar o meu time na Superliga. Estamos bem perto dos playoffs e eu não posso ficar parada, não me dou esse direito. Estou jogando à base de remédios, mas vou dar o meu máximo para ir até o final da Superliga. Quando acabar, faço o que tiver de fazer para voltar 100% na próxima temporada.

Carol no ataque na semifinal da Superliga 2016/2017, decidida no último jogo da série (Orlando Bento/MTC)

Saída de Rede – Até onde você acha que o Camponesa/Minas pode chegar nesta Superliga? No ano passado vocês surpreenderam, levaram a série semifinal contra o então Rexona Sesc até o quinto jogo, quase foram à final. O que esperar do time desta vez?
Carol Gattaz –
A gente perdeu a Jaqueline, mas a Pri Daroit vem jogando bem. Por causa de algumas lesões e também porque a Hooker chegou um pouco depois, o time está se encaixando agora. O chato é que perdemos muitos jogos que não poderíamos ter perdido. Mas a equipe tem todas as condições de chegar a uma final e brigar pelo título. Claro que vários adversários são muito fortes, essa tem sido talvez a Superliga mais equilibrada de todas. Não há um favorito disparado. O Praia Clube, que está invicto no torneio, perdeu de 3-0 para o Vôlei Nestlé na Copa Brasil. Não tem nada definido.
[Nota do SdR: o Minas está em terceiro na classificação, com um ponto a mais do que o quarto colocado, Vôlei Nestlé, que tem uma partida a menos.]

Saída de Rede – Você teve a chance de trabalhar com os dois técnicos que são os mais vitoriosos da história do voleibol brasileiro, duas referências no mundo todo, Bernardinho e Zé Roberto. Tem um preferido?
Carol Gattaz –
Eu tenho, mas não vou contar (risos). São dois técnicos espetaculares, perfeccionistas, dois seres humanos incríveis, cada um com suas características, suas qualidades, seus defeitos. Eu tive o privilégio de trabalhar não apenas com eles, mas com outros grandes técnicos, como o Paulo Coco e o Luizomar de Moura, pessoas por quem tenho muito respeito. Fui treinada pelo Hairton Cabral, que é outro profissional sensacional, um cara fantástico. Todos eles ajudaram a criar essa bagagem que eu tenho.

Oposta Tifanny, do Bauru, tira foto com fã após partida contra o Minas (Guilherme Cirino/Camponesa/Minas)

Saída de Rede – Você já enfrentou a Tifanny, do Bauru, a primeira transexual da história da Superliga. Como você vê a participação dela?
Carol Gattaz –
Ela foi liberada para jogar. As pessoas discutem se ela pode, se não pode… Isso não cabe a nós jogadoras decidir, mas às entidades que regem o esporte. Claro que isso foi estudado e deve seguir sendo avaliado porque ela é uma pioneira. O importante é que a definição seja boa para o esporte e para as atletas, afinal isso é a nossa vida, nossa carreira. Mas é importante também que a Tifanny não seja prejudicada. Espero que isso possa ser resolvido da melhor maneira.

Saída de Rede – Depois que você expôs na mídia seu relacionamento com a Ariele, em 2016, sentiu alguma mudança de tratamento? Houve alguma hostilidade?
Carol Gattaz –
Nos tratam de uma maneira quase sempre positiva, há até quem nos agradeça por mostrarmos que somos um casal como qualquer outro, duas pessoas que se amam. E nós duas levamos nosso relacionamento adiante de uma forma muito leve, não queremos chocar ninguém, não queremos levantar bandeira nenhuma. O que nós queremos é ser felizes. Não importa se o relacionamento é entre um homem e uma mulher, entre dois homens ou entre duas mulheres, as pessoas têm que ser felizes.

Gattaz salva bola com o pé, observada por Hooker e Mara (Orlando Bento/MTC)

Saída de Rede – Com toda a bagagem que você acumulou e sendo a capitã do Camponesa/Minas, você se preocupa em dividir isso com as jogadoras mais novas?
Carol Gattaz –
Eu gosto de ser líder, mas procuro dar exemplo pelas minhas ações, não sou muito de falar. Não sou aquele tipo de atleta veterana que senta ao lado de uma juvenil e que fica um tempão batendo papo, eu prefiro ir pra quadra e mostrar jogando o que eu quero que ela entenda. Às vezes, na academia, eu quero que elas vejam que eu estou ali ralando, pegando pesado porque isso é importante. Comigo não tem tempo ruim, não faço corpo mole. Eu gostaria de ser mais didática, mas não é o meu perfil.

Saída de Rede – Você já pensou quando vai parar e o que vai fazer depois que deixar de jogar?
Carol Gattaz –
Eu amo jogar vôlei. Fico triste quando penso que não vou poder jogar muitos anos mais, que é o que eu gostaria, pois o corpo vai pedir para parar um dia. Agora que eu estou aprendendo caminhos que me facilitam jogar, eu penso "por que não aprendi isso há dez anos?". Nunca estabeleci um prazo para parar, quero jogar enquanto eu tiver lugar em um time competitivo, que possa brigar por um lugar na parte de cima da tabela. Ainda não pensei o que vou fazer quando parar de jogar, mas vai ter que ser algo que eu goste.

Saída de Rede – Sem ter didática, seguir a carreira de técnica não é algo que passe pela sua cabeça, certo?
Carol Gattaz –
Deus me livre! Não quero isso pra mim nunca, não é uma coisa que me empolgue (risos). Eu gostaria de aprender a trabalhar nos bastidores, com gestão esportiva, acho que poderia contribuir bastante.

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Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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