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Briga no COB expõe novo racha entre atletas e CBV

Carolina Canossa

27/11/2017 06h00

Nos últimos anos, não foram raras as críticas públicas de jogadores e representantes de clubes à Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). Juntando-se às denúncias de corrupção na gestão anterior, transmissões web e ao ranking da Superliga, a insatisfação mais recente é com o posicionamento do presidente da entidade, Walter Pitombo Laranjeiras, o Toroca, em assembleia do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) realizada na última quarta-feira (22).

Na ocasião, Laranjeiras e outros 14 dirigentes votaram contra o aumento da participação de atletas nas decisões mais importantes do esporte brasileiro. No estatuto anterior, os jogadores tinham direito a apenas um voto, mas uma nova proposta queria aumentar esse número para 12. Negada a mudança, foi aprovada uma alternativa em que são cinco os atletas votantes.

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Através de carta, a Comissão de Atletas de Voleibol de Quadra, formada pelos ex-jogadores André Heller e Gilmar Teixeira, além da líbero Fabi, da oposta Renatinha e do ponteiro Ricardo Lucarelli, deixou claro que não esperava esta atitude da CBV: "Tendo tomado conhecimento acerca do posicionamento e manifestação de voto da Confederação Brasileira de Vôlei em Assembleia Geral do Comitê Olímpico do Brasil na data de 22/11/2017, no sentido de maior restrição ao número de atletas com poder de voto naquela entidade, e por via de consequência, menor efetividade e participação dos atletas nos assuntos de interesse do Esporte nacional, manifestamos total INCONFORMISMO e SURPRESA acerca do quanto descrito, desde logo lamentando a posição tomada e estranhando a adoção da referida medida, sobretudo por considerá-la contraditória com toda a diretriz e encaminhamento de gestão da CBV ao longo do último ano".

O documento, endereçado a Laranjeiras, "aos ilustres Presidentes de Confederações e a quem mais possa a presente interessar" lembra que, recentemente, a CBV incentivou a própria criação da comissão de atletas tanto no indoor quanto na praia e o Comitê de Apoio ao Conselho Diretor: "(Este posicionamento também) contraria as últimas conquistas e evolução em termos de diálogo entre todos os protagonistas do Esporte, dentre os quais se destacam os atletas de cada uma das modalidades".

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Vale ressaltar que o veto à maior participação dos atletas nas decisões do COB foi especialmente polêmico pela maneira como se deu a votação. Na ocasião, o voto do presidente da Confederação Brasileira de Rugby (CBRu), Eduardo Mufarej, que era favorável aos atletas, foi desconsiderado porque ele precisou sair mais cedo da reunião, ainda que o dirigente tenha declarado seu posicionamento publicamente antes de deixar o prédio do COB. Caso a opinião dele tivesse sido considerada, a consulta terminaria em 15 a 15, deixando o voto de minerva para o presidente em exercício do COB, Paulo Wanderley. Questionado pela imprensa, o mandatário não quis revelar qual seria sua decisão.

Porém, devido à polêmica e a imagem de "virada de mesa" que ficou, Wanderley considera realizar uma nova reunião para votar novamente o aumento da participação dos atletas. Através de nota oficial, o próprio Ministério do Esporte ameaçou adotar "medidas para que essa participação dos atletas ocorra de fato e de direito". Entre as medidas está a suspensão de certificação das entidades esportivas, requisito necessário para o recebimento de verbas públicas.

Nomes importantes do vôlei, como Ana Moser, Nalbert e Bruno Rezende usaram as redes sociais para mostrar indignação em relação a toda esta situação.

"A Atletas pelo Brasil repudia o posicionamento antidemocrático das 15 Confederações e seus respectivos Presidentes, que optaram por mais uma vez silenciar os atletas. O esporte brasileiro não pode mais ser propriedade e benefício de poucos. Chega de autoritarismo e abuso de poder", escreveu Ana Moser, referindo-se à organização sem fins lucrativos da qual faz parte e reúne representantes de várias gerações do esporte brasileiro em prol de melhorias na área. No Instagram, Nalbert também citou a Atletas pelo Brasil e complementou: "Infelizmente, a Confederação do meu esporte votou contra! Decepcionante!".

Bruninho, por sua vez, usou o posicionamento de Ana Moser para cobrar diretamente a CBV no Twitter: "Repudiamos e aguardamos um esclarecimento da parte da @volei ! Um absurdo!". Porém, apesar de ter a mensagem retweetada por nomes como Natália Zilio, o levantador foi ignorado pela entidade que comanda o voleibol brasileiro.

Em declarações à imprensa, Bernardinho foi mais um a criticar Laranjeiras. "O voleibol votar contra mostrou que o nosso presidente tem uma cabeça de dirigente antigo", afirmou o técnico, que também não poupou a manobra ocorrida no COB. "O final da assembleia demonstrou que os nossos dirigentes seguem bem impregnados pelo poder ainda. A justificativa não foi correta dentro do protagonismo do esporte, como acho também que os treinadores deveriam ter uma participação dentro das decisões do esporte", opinou.

ATUALIZAÇÃO ÀS 10H46 DE 27/11: Em entrevista ao jornal "O Globo", Neuri Barbieri, representante de Walter Laranjeiras na reunião, justificou a posição da CBV da seguinte maneira:  "Ele me deu carta branca. E depois me disse que achou 5 muito. Votaria por menos. Meu voto foi um voto consciente e filosófico. Entendo que as coisas precisam ser conquistadas. Pular de 1 para 12 era incoerente. De 1 para 5 já é um avanço significativo. Um é pouco? Pode ser, mas era coerente com o sistema. O sistema era assim, com menos abertura. Aprendi na minha vida que é preciso crescer gradativamente. Já tinha minha opinião antes da assembleia mas o argumento que me matou foi o apresentado pelo presidente do Tênis de Mesa (Alaor Azevedo), quando mostrou os votos da Comissão de Atletas, com representantes eleitos com 3 ou 4 votos. É muito pouco. Isso fortaleceu minha opinião e impressionou muita gente. Acho que os atletas não estão suficientemente maduros e organizados ainda".

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Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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