Destaque mundial, adolescente descobriu o vôlei por acaso
Sidrônio Henrique
30/07/2017 06h00
Mesmo sem jamais ter jogado profissionalmente, o canadense Sharone Vernon-Evans, 18 anos, foi um dos destaques da Liga Mundial 2017. Voleibol nem passava pela cabeça desse garoto comprido de Toronto, que sonhava em ser jogador de basquete, até que foi acompanhar as irmãs num treino e decidiu tentar a modalidade. "Tinha 13 anos e achei fantástico. Minhas duas irmãs mais velhas, Theanna e Kadeisha, já jogavam vôlei, mas eu não tinha nem curiosidade, era muito novo, só queria saber de basquete. Um dia elas me levaram a um treino e eu pirei. A partir dali, o voleibol entrou na minha vida", disse o oposto ao Saída de Rede, em entrevista exclusiva.
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Com 2,05m, esse novato, que completará 19 anos no dia 28 de agosto, ajudou sua equipe a chegar pela primeira vez ao pódio numa competição global. O bronze obtido em Curitiba o encheu de orgulho e ele quer mais. "A união do nosso grupo é importante para alcançar bons resultados, sei que isso foi fundamental na Liga Mundial e deve seguir nos ajudando. Quero mais medalhas, mas ao mesmo tempo tudo é algo novo para mim, eu fico animado só de poder jogar contra essas seleções, enfrentar os melhores do mundo. Não fico pensando no Mundial 2018 ou em Tóquio 2020", comentou Vernon, que começou como central e aos 15 anos foi para a saída de rede.
Com um boné do Blue Jays, time de beisebol de Toronto, ele tira foto com uma fã em Curitiba (Guilherme Cirino/Saída de Rede)
Elogios
O francês Stéphane Antiga, técnico do Canadá, é só elogios ao novato. "Ele aprende muito rápido e tem muito potencial", afirmou ao SdR. Na temporada 2017/2018, Vernon irá jogar na liga polonesa, exatamente no clube treinado por Antiga, o Onico Warszawa. "A principal razão que me fez decidir ir para lá é o fato de o Stéphane ser o técnico", devolveu o atleta. Este ano ele concluiu o ensino médio e, além do time da escola, jogava no modesto Pakmen Volleyball, clube amador da cidade de Mississauga, na região metropolitana de Toronto.
O ponta Gord Perrin, capitão da seleção canadense, contou ao blog que a equipe estava apreensiva com a saída do oposto Gavin Schmitt – desde o final da década passada era o principal atacante do país. "Alguém tinha que assumir o lugar e o Vernon nos surpreendeu pela disposição e coragem, apesar da pouca idade e de obviamente ainda não ter o desempenho do Gavin. Uma coisa muito legal nele é que está sempre disposto a aprender", observou Perrin.
Braços longos
A impulsão privilegiada o ajuda muito a se destacar. Aos 13 anos, quando começou na modalidade, já alcançava 3,05m no ataque – altura do aro da tabela de basquete. Este ano, em abril, durante um treino no Canadá, chegou a 3,82m – a borda superior da rede no vôlei masculino fica a 2,43m do chão. Em situações de jogo, o alcance varia de acordo com as condições de ataque e obviamente é menor no bloqueio. Vernon faz questão de falar sobre os braços. "Olha como são longos", disse ao Saída de Rede, abrindo-os para mostrar a envergadura. "Assim fica mais fácil ganhar uns centímetros na hora de atacar e bloquear", completou rindo.
Se saltar não é problema, ele reclama da falta de potência. "Não tenho tanta força física quanto gostaria, como outros opostos. Mas vou trabalhar nesse aspecto". Outro ponto que o incomoda é ainda não analisar bem o jogo. "Não compreendo o vôlei tanto quanto gostaria, tenho que melhorar minha leitura. Isso certamente faz falta, mas sei que devo ter paciência, o conhecimento vem com a maturidade".
Olho na defesa
Embora seu desempenho no ataque o tenha levado mais cedo do que o esperado à seleção adulta, onde também se destacou por seu saque eficiente, Vernon enfatiza que pensa sempre na evolução do seu jogo, inclusive na defesa. "Sempre dizem que a maioria dos opostos não defende bem. Eu não quero fazer parte dessa maioria, quero ser um bom defensor. Ainda que meu biotipo não ajude, pois sou muito alto, não quero ser rotulado como mais um oposto que não ajuda no fundo de quadra", ressaltou.
Quando o assunto é quem o inspirou como atacante, os exemplos na posição vieram de perto. "Queria muito um dia ter a habilidade e ser completo como o Matt Anderson (oposto americano), mas também a explosão do Gavin Schmitt. Ambos são modelos de jogadores de saída de rede para mim".
Sobre a autora
Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.
Sobre o blog
O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.