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Títulos, tradição e "decisão boleira" com salários atrasados: relembre as aventuras dos clubes de futebol no vôlei

Carolina Canossa

24/05/2017 06h00

Flamengo foi campeão da Superliga na temporada 00/01 (Foto: Reprodução Blog Livro Nação)

Apresentação no mesmo dia e um veterano medalhista olímpico comandando o elenco: não são poucas as coincidências do início dos projetos envolvendo vôlei de dois dos maiores clubes de futebol do país, o Corinthians e o Botafogo. Enquanto a equipe paulista foi estruturada pelo líbero Serginho, 41, ouro em Atenas 2004, o time carioca contará com o levantador Marcelinho Elgarten, 42, prata em Pequim 2008. Ambos vão disputar a Taça Ouro, em agosto, em busca de uma vaga na Superliga masculina 2017/2018.

A mistura entre vôlei de alto rendimento e futebol acontece desde os primórdios da modalidade no Brasil. Nos anos 70, por exemplo, o próprio Botafogo, o Fluminense e o Flamengo conquistaram títulos nacionais. Nos anos 80, esse tipo de parceria perdeu força e só teve um novo pico na segunda metade dos 90, início dos anos 2000. Agora, engrenou novamente, com parcerias interessantes oriundas de diferentes agremiações, ainda que normalmente elas não façam nada além de fornecer o nome e alguma estrutura.

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O maior papa-títulos mundial do voleibol de clubes na atualidade, por exemplo, é o Sada Cruzeiro. Na temporada passada, o Fluminense também reativou as tradições no voleibol feminino e, mesmo sem muito dinheiro, montou um elenco interessante, que conquistou o título carioca e chegou às quartas de final da Superliga.

Diante deste novo momento, vamos relembrar a participação de alguns clubes conhecidos pelo futebol no mundo do vôlei. A lista está por ordem alfabética:

Apoio do São Paulo a Taubaté durou apenas alguns meses (Foto: Divulgação)

Botafogo
O Alvinegro carioca tem muita história no vôlei brasileiro. Grande força dos anos 70, sagrou-se campeão do primeiro campeonato nacional de clubes masculinos sob a batuta da CBV, em 1976, e já contou com nomes como Bebeto de Freitas, Tande, Ênio Figueiredo, Adriana Samuel, Ida, Valeskinha vestindo sua camisa listrada. Respectivamente presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e da FIVB (Federação Internacional de Vôlei), Carlos Arthur Nuzman e Ary Graça também passaram por lá. Destaque-se ainda o investimento que tem sido constante na base.

Cruzeiro
Não é exagero dizer que a união da equipe celeste com um empresário italiano apaixonado por vôlei fez história no esporte. Criado em 2006 em Betim, o Sada Cruzeiro engrenou mesmo a partir de 2009, quando uniu-se ao Cruzeiro para ter maior visibilidade e herdar milhões de torcedores. Desde então, foram cinco títulos de Superliga, quatro Sul-americanos e três Mundiais. Falamos um pouco mais sobre o sucesso do projeto em outubro do ano passado: clique aqui para conferir.

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Flamengo
Assim como o Botafogo, o Flamengo possui décadas de tradição na modalidade. Mas, ao contrário do rival, sempre se deu um pouco melhor no feminino, onde foi campeão brasileiro em 1978 e 1980, além de ter levado a Superliga 2000/2001 batendo o Vasco na decisão. Isabel Salgado, Jackie Silva, Ida, Ênio Figueiredo, Virna e Leila já vestiram a camisa rubro-negra, que também foi campeã sul-americana em 1981. No masculino, houve um vice-brasileiro em 1978 e uma tentativa de montar um forte time em 1987, quando foram contratados Bernard e Bernardinho, sem grandes resultados em quadra. Entre 1994 e 1997, o time teve uma participação discreta na elite do voleibol brasileiro.

Fluminense
Duas vezes campeão brasileiro feminino (1976 e 1981) e uma vez vice no masculino (1980), o Fluminense também dominou o cenário sul-americano entre as mulheres nos anos 70, com seis títulos. Na reta final deste período de ouro, teve como grande estrela Dulce Thompson, que teve passagens pela seleção brasileira, chegou a ser assistente técnica de Bernardinho e virou comentarista esportiva. Na temporada passada, o Tricolor carioca retomou o projeto de alto rendimento e, com nomes experientes como Sassá e Renatinha, surpreendeu a todos ao bater o poderoso Rexona-Sesc na decisão do estadual. Teve ainda uma participação bastante razoável na Superliga 2016/2017, torneio em que terminou com a sétima colocação. Méritos para Hylmer Dias, um apaixonado pelo esporte.

Palmeiras
Enquanto o Corinthians se aventura pela primeira vez na elite do vôlei, o Palmeiras já tem história para contar lá. Entre 1994 e 2003, o Verdão esteve na Superliga, torneio no qual contou com craques como Giovane Gávio, Gilsão Mão-de-Pilão e Jorge Edson, além de Renan Dal Zotto, atualmente comandando a seleção masculina, como técnico. O melhor resultado foi o bronze na primeira Superliga da história, disputada na temporada 1994/1995.

Marcia Fu, Venturini, Isabel e Ida fizeram parte da equipe do Vasco (Foto: Reprodução/Netvasco)

São Paulo
Após apoiar a Ulbra e a UCS nos anos 2000, onde contou inclusive com Marcelo Negrão e foi vice-campeão da Superliga em 2004, o Tricolor paulista teve outra passagem pelo voleibol em 2015, quando durante seis meses apoiou a equipe de Taubaté, atual vice-campeã nacional. Houve planos para a realização de uma partida no estádio do Morumbi e o sonho de acabar com a supremacia do Cruzeiro no cenário nacional. Porém, o calote de um patrocinador aliado à crise política vivida pelo clube à época prejudicou a continuidade do projeto, que durou somente até a conquista do título paulista daquele ano.

Sport
Ainda que maior contribuição do Leão da Ilha ao vôlei tenha sido dar oportunidade para campeãs olímpicas como Dani Lins e Jaqueline Carvalho nas categorias de base, o clube pernambucano também já se aventurou na Superliga nos anos 2000, impulsionado por um acordo com o banco BMG. Apesar de a grana ser curta para trazer estrelas que ajudassem a dar um necessário impulso para a modalidade no Nordeste, o time chegou a bater o tradicional Osasco em 2010 por 3 a 2.

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Vasco
O boom de investimentos do Vasco em esportes olímpicos por ocasião dos Jogos de Sidney, em 2000, gerou uma respeitável equipe cruzmaltina de voleibol feminino, com Fernanda Venturini, Marcia Fu, Ida , Sassá e Fabi. O time chegou a disputar a final da Superliga contra o arquirrival Flamengo, que acabou vencendo a série melhor-de-cinco em quatro partidas. Infelizmente, não demorou muito para o fôlego financeiro do time acabar, assim como o do Flamengo, deixando jogadoras desempregadas e sem receber.

UMA FINAL "BOLEIRA" E SEM SALÁRIOS

O investimento de clubes ligado ao futebol no vôlei de clubes teve como expressão máxima justamente o encontro entre Flamengo e Vasco na decisão da Superliga 2000/2001. Acostumados a grandes embates nos campos, os dois tradicionais times cariocas já tiveram uma rede lhes separando na disputa de um título. Para chegar lá, desbancaram rivais que protagonizariam outra supremacia na competição logo em seguida, o BCN (hoje Vôlei Nestlé Osasco) e o Rexona (que vai virar Sesc e à época ainda era sediado em Curitiba), além do tradicionalíssimo MRV/Minas.

Do lado rubro-negro, sob o comando de Luizomar de Moura estavam nomes como Gisele, Leila, Virna, Tara Cross, Soninha, Valeskinha, Arlene e Josiane. Defendiam a camisa cruzmaltina, liderada pela técnica Isabel Salgado, Fernanda Venturini, Raquel, Denise, Natasa Leto (também conhecida como Osmokrovic), Ida, Rosângela, Marcia Fu, Sassá e Claudia, com Fabi de líbero. O detalhe trágico é que todas as atletas não recebiam salários há meses, em uma grave crise financeira que enterrou os dois times logo ao término da competição.

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Problemas à parte, fato é que as duas fanáticas torcidas se incendiaram para a decisão. O sistema de melhor de cinco duelos para a definição da taça deixou tudo mais aberto. Aproveitando-se do excesso de erros adversários, o Flamengo levou a primeira partida por 3 a 1 (27-25, 17-25, 25-16 e 25-22), mas o Vasco reagiu com um 25-20, 30-28 e 25-22 no segundo jogo. O terceiro embate foi marcado pela transferência de palco da decisão, do Caio Martins, em Niterói, para o Maracanãzinho, mais amplo. Foi a vez de Virna brilhar, com boa atuação no bloqueio, colocando o Fla de novo à frente: 25-19, 25-20, 19-25 e 25-16.

Pressionado, o Vasco veio para o duelo decisivo com uma linha de passe mais adiantada, de forma a anular os saques curtos do Flamengo, uma das armas do rival até então. Quase deu certo e as vascaínas chegaram a ter dois matchs point, mas os erros em excesso permitiram ao Flamengo faturar a taça em um jogo emocionante, encerrado com um 3 a 2 em um bloqueio sobre Osmokrovic e parciais de 23-25, 25-16, 25-20, 21-25 e 17-15.

Veja aqui os pontos finais da partida: https://youtu.be/DBi4wB2AtHQ

* Atualizado em 25/05, às 7h30, com informações adicionais sobre o São Paulo

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Sobre a autora

Carolina Canossa - Jornalista com experiência de dez anos na cobertura de esportes olímpicos, com destaque para o vôlei, incluindo torneios internacionais masculinos e femininos.

Sobre o blog

O Saída de Rede é um blog que apresenta reportagens e análises sobre o que acontece no vôlei, além de lembrar momentos históricos da modalidade. Nosso objetivo é debater o vôlei de maneira séria e qualificada, tendo em vista não só chamar a atenção dos fãs da modalidade, mas também de pessoas que não costumam acompanhar as partidas regularmente.

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